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3G Capital negocia compra da Kraft

3G Capital negocia compra da Kraft

A 3G Capital Partners LP está em negociações avançadas para comprar a gigante americana dos alimentos Kraft Foods Group Inc , dizem pessoas a par do assunto, num negócio que poderia transformar o setor e que seria provavelmente avaliado em mais de US$ 40 bilhões.

Não está claro em que estágio estão as conversas, mas uma das fontes diz que o negócio pode ser anunciado em breve. É possível, também, que as negociações sejam interrompidas e a aquisição não se realize.

A Kraft tinha um valor de mercado de cerca de US$ 37 bilhões antes de o The Wall Street Journal relatar o possível negócio, ontem. Embora não esteja claro o preço que está sendo negociado, se forem considerados os prêmios típicos pagos nesse tipo de aquisições, o valor da venda poderia chegar bem além de US$ 40 bilhões.

A firma brasileira de private equity — conhecida por comprar empresas do setor de consumo que ela considera inchadas e, então, cortar custos agressivamente — vinha buscando alvos potenciais depois de ter recentemente levantado US$ 5 bilhões para aquisições.

A firma dos empresários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira tornou-se uma grande participante na indústria alimentícia dos Estados Unidos. Lemann era um grande acionista da cervejaria InBev e ajudou a orquestrar a aquisição da americana Anheuser-Busch, em 2008. Em 2013, a 3G se uniu ao megainvestidor Warren Buffett para comprar a fabricante de ketchup H.J. Heinz, por US$ 23 bilhões.

Em 2010, a 3G comprou e fechou o capital da cadeia de fast-food Burger King Worldwide Inc. No ano passado, a firma adquiriu a rede canadense de cafeterias Tim Hortons Inc. através da holding do Burger King. O negócio de US$ 11 bilhões foi em parte financiado por Buffett.

Hoje, a Kraft é, em grande parte, um conglomerado alimentício cujas marcas incluem os frios Oscar Mayer, o café Maxwell House e seus produtos homônimos de queijo. A empresa vem recentemente tendo dificuldades diante das mudanças nos gostos dos consumidores e outros fatores que desafiam muitas das grandes companhias tradicionais de alimentos embalados.

O faturamento da Kraft no ano passado de US$ 18 bilhões ficou inalterado em relação a 2013, enquanto o lucro líquido caiu 62%, para US$ 1 bilhão, em parte por causa dos custos mais altos das commodities e grandes despesas relacionadas a planos de aposentadoria. A empresa informou que perdeu participação de mercado em 40% de seus segmentos de negócios nos EUA e manteve os demais estáveis.

Em dezembro, a Kraft inesperadamente nomeou um novo diretor-presidente para substituir Tony Vernon, que na época estava no cargo há pouco mais de dois anos. Um membro do conselho de administração disse na época que a empresa sentiu necessidade de acelerar o ritmo das mudanças. O presidente do conselho da Kraft, John Cahill, assumiu o cargo de diretor-presidente. Depois de anos trabalhando na PepsiCo Inc. e na Pepsi Bottling Group Inc., Cahill foi sócio da firma de private equity Ripplewood Holdings entre 2008 e 2011 antes de começar a trabalhar na Kraft. Na época, analistas especularam que ele poderia estar mais aberto a vender a empresa ou firmar uma parceria.

A Kraft de hoje nasceu de um enorme divórcio corporativo em 2012, quando foi desmembrada da empresa de mesmo nome. Na separação, foi também criada uma companhia internacional de salgadinhos, hoje chamada de Mondelez International Inc. A Mondelez ficou com o que eram consideradas marcas globais de crescimento rápido, como Oreo e Ritz, mas enfrentou problemas no começo, em parte pela dificuldade de absorver a marca de chocolates Cadbury, que havia adquirido antes da separação.

Mas a Mondelez rapidamente apresentou um agressivo plano de corte de custos e trouxe o investidor ativista Nelson Peltz para o seu conselho de administração — uma medida que aliviou a pressão que ele vinha exercendo sobre a empresa para que considerasse uma fusão com o negócio de salgadinhos da PepsiCo.

A Kraft alardeou sua estrutura de custos mais enxuta quando comparada a outras empresas de alimentos processado, tendo cortado empregos e eliminado outros custos. Mas ela ainda está muito vulnerável às mudanças nos gostos do consumidor.

À medida que as pessoas passaram a comprar mais alimentos frescos, que consideram mais saudáveis, a Kraft tem tentado se adaptar a esse novo cenário eliminando o uso de corantes artificiais em alguns de seus queijos. Ela também tem divulgado muito um lanche com alto índice de proteína chamado P3, que combina frios, cubos de queijo e nozes — vendidos sob a marca Oscar Mayer.

A Kraft fez avanços na revitalização de algumas marcas antigas como Planters e Jell-O, mas seus esforços até agora não conseguiram produzir grandes efeitos na receita e no lucro. “Não acho que a Kraft tenha feito um trabalho agressivo em relação ao que precisamos fazer”, disse Cahill no mês passado em uma teleconferência, acrescentando que a Kraft precisa melhorar a qualidade dos seus alimentos.

Embora a 3G seja uma firma de investimento, ela tem uma abordagem de captação de recursos diferente de seus pares. A empresa, formada em 2004, procura um seleto grupo de ricos investidores do mundo todo, incluindo Buffett e William Ackman, da Pershing Square Capital Management LP.

A 3G usa um processo chamado “orçamento de custo zero”, pelo qual cada divisão de uma empresa precisa justificar seus custos desde a base todo ano. Logo depois comprar a Heinz, por exemplo, a 3G fechou fábricas da empresa nos EUA e eliminou mais de 1.000 postos de trabalho.

Em fevereiro, a Campbell Soup Co., supostamente um outro alvo potencial da 3G, anunciou planos de cortar custos e adotou o modelo de orçamento de custo zero.

Diferentemente das firmas tradicionais de private equity, os fundadores da 3G gostam de fazer investimentos mais longos que os cinco ou sete anos habituais.

Fonte: The Wall Street Journal

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