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5 passos para achar o investidor certo para o seu negócio

São Paulo – É bem possível que você tenha sócios ou pessoas muito especiais na sua empresa – principalmente se você que já começou seu negócio. Pessoas que entraram cedo na organização, e que, acreditando na sua ideia, ralaram e continuam ralando para colocar o sonho de pé.

Essa formatação inicial é crucial para tudo. Você deve saber, mas é sempre bom reforçar: uma escolha acertada aumenta muito as chances de êxito do negócio. Já o sócio errado…

Muito bem, sabendo disso, investidores são, antes de mais nada, sócios que não estarão direto no seu dia a dia, mas que gozarão de certos direitos e obrigações um pouco diferentes, como por exemplo:

1 – Direito formal de opinar e votar no curso do negócio – exercício do direito de voto em reuniões de conselho;
2 – Pode ter, sozinho, o direito de alterar o rumo estratégico da empresa – ex. vetos em certas decisões como investimentos relevantes, M&A, novas capitalizações, mudança do time de gestão;
3 – Em muitas situações, direito de retornar o capital em primeiro lugar em relação aos demais sócios – liquidation preference;
4 – Obrigação de aportar capital na forma combinada no acordo de investimentos.

O momento de escolher um investidor é a hora de colocar tudo isso na balança. Defina com clareza quais os critérios que são importantes para você, seus sócios, e para a saúde e sucesso do seu negócio. Seja muito racional e honesto com você mesmo. Abaixo, listo 5 dos critérios que costumo usar:

1 – Tamanho do cheque e quanto tempo deve durar

Dependendo do estágio em que sua empresa se encontra, o valor que você precisa levantar pode variar muito – de menos de R$ 1 milhão a mais de R$ 100 milhões. De acordo com o valor, há classes diferentes de investidores – seed, VC, growth, Private Equities – mas sobre esse tema há muito bom conteúdo disponível.

O que julgo crucial é que você tenha clareza de quanto dinheiro precisa levantar para que a sua empresa chegue onde você quer e, além disso, durante quanto tempo essa ação será necessária.

Uma captação tem que ser suficiente – com folga – para te levar até além da data estimada para seu próximo round. Tenha sempre um horizonte de mais de 1 ano de caixa. Idealmente mais de 1,5 ano, uma vez que um novo processo de captação pode facilmente durar mais de 6 meses – entre a decisão de começar a falar com investidores até o dinheiro estar disponível no caixa.

Seja muito cuidadoso aqui, não deixe seu enorme otimismo ofuscar o conservadorismo nesse tema e não queira viver a experiência de ficar sem fluxo de caixa no meio da jornada.

2 – Duração da jornada

Quanto tempo você definiu no seu plano de negócios para que sua empresa “decole” ou atinja a altitude de vôo que você julga a correta? 1 ano ? 3 anos ? 5 anos ? 10 anos ? Aqui é muito importante você estar alinhado com o tempo do seu investidor. Não seja permissivo e permita o desalinhamento dos tempos.

Se você perguntar a investidores em geral, muitos dirão que estão no negócio para o longo prazo.

O detalhe aqui é a referência do que é longo prazo.

Se o investidor for de fundo, seja diligente para entender o tempo de duração do fundo, a mecânica de remuneração dos gestores e o perfil dos investidores cotistas do fundo. Essas informações te dirão muito sobre o que, na prática, é o horizonte de tempo desse investidor. Busque também referências de empreendedores que já foram investidos por ele.

Tenho um certo interesse por investidores personificados por empreendedores – indivíduos ou grupos – mais experientes, que já realizaram muito: construíram grandes negócios, empregaram muitas pessoas, viveram ciclos e crises, caíram e levantaram-se.

Normalmente, apresentam-se na forma de suas pessoas físicas, fundos exclusivos (ex. seus family offices) ou fundos de investimento onde sua participação no capital, bem como sua filosofia de investimentos, é relevante ou predominante.

Na maioria das vezes, o compromisso de tempo deles é longo. Muitas vezes estão no jogo legitimamente pelo prazer de construir junto com você, e mirando o sucesso no longo prazo. Acho isso muito bacana.

3 – Simplicidade

No mundo de Venture Capital, uma regra que acho muito importante é: começou a complicar a conversa pelo lado do investidor, a burocracia começou a emergir e de repente surge uma névoa que impede de evoluir de forma rápida e objetiva na negociação, não perca mais seu tempo. De duas uma:

– O investidor não está convicto no investimento e está criando formas adicionais de proteção – e, nesse caso, não vale a pena nem pra você nem pra ele; ou
– Ele não sabe o que está fazendo e isso vai atrapalhar a sua vida e a da sua empresa no futuro.

Bote uma coisa na sua cabeça: Em VC, quem quer muito fazer um investimento faz e faz rápido. Goste de quem gosta de você.

4 – Complementariedade de competências

Nunca busque apenas o dinheiro, isso é um erro enorme. Falo isso sobre o primeiro seed, até uma Série C, D ou PE.

Entenda quais as competências estratégias que você não tem hoje na sociedade e busque-as num investidor.

Por exemplo, se você está num segmento onde a credibilidade de uma pessoa de “cabelo branco” com histórico de realizações é importante para atrair talentos e parceiros desse setor específico, não tenha dúvidas e vá atrás disso. Mas, ao mesmo tempo, tenha muita clareza do que você e não quer. E se você parar pra pensar, vai lembrar de muita coisa que não quer…

A melhor forma que achei para fazer isso é montar uma pequena matriz com linhas de competências ou características que você deseja e as que não deseja. Nas colunas você coloca os investidores. Preencha de forma muito honesta, e peça para o seu (ou seus) sócio atual fazer o mesmo.Com tudo isso em mãos é hora de confrontar as opiniões.

5 – Intuição

Por último, a mais importante. Em decisões complexas, onde a racionalização é parte do processo, mas não ele todo, confie na sua intuição. No final da história, você está trazendo abordo da sua empresa novos sócios que terão o papel de investidores.

Pare e pense: Se eu estivesse começando a empresa hoje, eu traria essa pessoa ou esse grupo de pessoas para serem meus sócios ? Eu terei prazer em conviver com essa turma pelos próximos anos ? Será divertido ? Será produtivo ? Vou me tornar uma pessoa melhor com eles ?

De novo, seja franco com você. É fácil criar muletas, tapa-olhos e névoa pra evitar ver e entender o que está lá escancarado e que deve ser visto ou percebido. Busque clareza absoluta em como você percebe o seu candidato a novo sócio – a decisão fica muito mais simples!
Por fim, uma pergunta que muitas vezes me fazem: Investidor brasileiro ou estrangeiro?

A minha resposta é simples: converse com os dois, pondere e faça sua escolha.

Aliás, não deixe de conversar com os estrangeiros. Pegue o avião e vá para os EUA ou talvez Europa, mas antes de tudo prepare-se. Faça muito bem feita a sua lição de casa:

– Identifique quem são os investidores mais importantes do seu segmento. Preferencialmente, procure quem investiu no seu benchmark;
– Treine, treine e treine. A forma de um pitch feito fora do Brasil tem diferenças importante, busque ajuda de quem teve essa experiência;
– Vá pra cima sem medo. Os investidores estão lá por sua causa: você é o protagonista.

Você pode até acabar não captando com o estrangeiro, mas vai aprender um monte e amadurecer. Eles são diretos e falarão o que é bom e o que não é no seu negócio. Melhore, mostre que você é fazedor e e volte lá no semestre seguinte. Persistência é uma das maiores qualidades que você pode mostrar.

*Guilherme Azevedo é cofundador da Dr. Consulta.

Texto originalmente publicado no site da Endeavor

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