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A empresa pode ser sempre transparente?

Apesar de serem muito comuns empresas que pregam transparência com significado de honestidade, nem sempre parece que as mesmas seguem o que pregam. Você se lembra de alguma situação em que a total transparência não percebida?

Muita gente deve se lembrar de que em algumas ocasiões as explicações foram menos claras e os motivos de algumas decisões foram um tanto obscuras? Mais ainda, em algumas situações mais críticas, como numa demissão, sequer o motivo do lado da empresa foi colocado de maneira clara e objetiva?

Acontece… Acontece como no caso de um colega que há pouco tempo demitiu-se da empresa em que trabalhava. Na verdade o processo foi muito menos transparente que isso. Em primeiro lugar não era sua intenção demitir-se da empresa, apesar de que esta ainda sofria as consequências da crise financeira de 2009. Ocorre que este colega tem as características um empreendedor. O seu perfil é de um empreendedor corporativo que necessita de novos projetos a cada 2 ou 3 anos.

O seu perfil é de alguém que busca uma nova atividade, um novo projeto e sente-se gratificado ao alcançar um resultado claro, contratado como objetivo do projeto, e partir para o próximo projeto. A crise reduziu as iniciativas da empresa e acabou fechando as portas para ele.

Mas o processo de “separação” ficou bastante distante da forma esperada de comunicação e transparência. A forma encontrada pela empresa de fazê-lo saber que não havia mais espaço foi propor-lhe um novo projeto sem quaisquer recursos ou meios de alcançar um objetivo extremamente difícil.

Ao questionar sobre recursos e meios para consecução do objetivo do projeto, este profissional percebeu que havia mais alguma coisa além de simples dificuldades provenientes das circunstâncias do negócio. Foi direto ao tema e questionou os reais interesses do seu chefe e sugeriu que estaria dando-lhe a conta de uma forma indireta e sem transparência, o que no final foi admitido.

A saída deste profissional foi uma das mais silenciosas que vi ao longo de muitos anos e indica um alto grau de frustração. Embora uma demissão quase nunca seja um fato bom, esta falta de transparência foi ainda mais frustrante para ele. Simplesmente comunicou aos colegas mais próximos a sua saída no dia seguinte pedindo para não enviar sequer mensagens para o seu e-mail!

O fato traz de volta o questionamento sobre que tipo de transparência é esperado dos funcionários, e que tipo de transparência é oferecido num momento crítico como este. Certamente não houve uma correspondência entre o que o funcionário acreditava ser a sua relação com a empresa e o que lhe foi oferecido no final do processo.

Nem sempre é a política da empresa, mas a falta de atenção e cuidado por parte da empresa cria condições para situações indesejáveis como esta. É importante que RH acompanhe o processo de forma mais atenta e que a própria chefia tenha o mínimo respeito pelo profissional nesta hora. Nada irá mudar uma decisão tomada, concordo, mas não é necessário transformar um bom profissional num potencial inimigo da empresa.

A situação é mais do que compreendida e aceita pelos profissionais, embora nunca seja possível conformar-se com ela. Pois num caso como este, independente dos resultados alcançados pelo profissional, uma área de projetos e de novas iniciativas torna-se um alvo mais fácil nestas situações.

Por isso creio que estas funções deveriam sempre ter uma remuneração diferenciada pelo risco durante o projeto e numa situação como esta. Não há sentido em equiparar-se remuneração por nível de cargo sem considerar as demandas extras deste tipo de trabalho e risco.

Mas voltando à questão de transparência, porque é tão difícil alguém ser transparente e comunicar de forma madura e profissional a decisão? Mais ainda, porque não foi possível tratar deste assunto junto ao funcionário de maneira aberta durante o curso dos acontecimentos? Certamente uma decisão como esta não ocorre repentinamente. Sempre há tempo para discutir, procurar alternativas conjuntamente, facilitar uma recolocação em outra empresa, etc.

A pergunta é porque ainda os gestores “ruminam” este tipo de decisão de maneira individual e depois “despejam” a decisão de uma maneira que não propicia qualquer chance ao funcionário? Qual seria a vantagem deste comportamento? É mesmo uma situação de confidencialidade mesmo?

Acredito que a menos que exista algum problema de ética e desonestidade, é sempre possível uma discussão madura com o profissional. Quando o funcionário não está bem na empresa, deve ser comunicado, mesmo que seja difícil, para que possa corrigir a sua postura ou seu desempenho. E se não conseguir, pelo menos teria sabido de forma clara e transparente. Não é que se houver uma separação, a mesma seja bem aceita, mas o respeito será sempre lembrado.

Infelizmente já tive que demitir pessoas durante a minha vida profissional (o momento é de compartilhar um fracasso conjunto), e muitas vezes uma série de conversas francas e transparentes precedeu a decisão final de separação. Nem sempre as pessoas reconheceram depois, que foram tratadas com mais respeito, mas cada tentativa valeu o esforço, pois algumas pessoas conseguiram reverter o processo que parecia definido e se tornaram excelentes profissionais.

Pelo menos, se o problema é tão sério, a pessoa tem o direito de saber para poder evitar de cometer o mesmo erro no futuro, em outra empresa. Pois é assim que aprendemos. Ao sonegar a verdade, o contratante desrespeita o direito do funcionário de ter um conhecimento claro sobre sí próprio. Uma atitude de contemporação só faz mal.

Na próxima vez, não importa o lado em que você esteja, mas se tiver que encarar uma situação semelhante, aprecie a transparência como um processo de respeito profissional e pessoal. Mudamos de emprego, empresas mudam seus planos e circunstâncias econômicas podem impor decisões indesejáveis, mas ainda assim, há espaço para o respeito profissional baseado na transparência mútua.

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