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A sua ansiedade pode prejudicar a sua carreira?

Por Yoshio Kawakami


Você consegue controlar a sua ansiedade? Quem responde sim a esta pergunta de verdade? Certamente pouca gente… Aliás você não é ansioso profissionalmente, certo? Até hoje encontrei um número muito reduzido de colegas de trabalhos que assumissem ser ansiosos.

 

O seu estado de espírito varia com o momento, com as circunstâncias da vida pessoal e profissional, idade e outros fatores… Você pode estar ansioso no momento. O efeito é o mesmo…

 

Porque o assunto é relevante? Ser ansioso não é crime nem contravenção, mas pode ser um pecado quando se refere à sua carreira profissional. A ansiedade leva muita gente boa a mudanças inesperadas de emprego, decisões precipitadas de carreira, etc…

 

De uma maneira geral os jovens hoje são muito mais independentes que no passado, foram criados e educados em um ambiente muito livre e materialmente mais afortunados ou privilegiados.

 

Uma das diferenças é que a experiência das conquistas (no sentido das coisas que custaram esforços para serem obtidas) são menos marcantes na vida em geral. A experiência de batalhar para conseguir as coisas é menos frequente para muitos jovens da classe média, quando comparados com os de gerações anteriores.

 

Mas chega um dia em que o “poder concedente” não é mais o pai ou a mãe. É a empresa, é o chefe, é o patrão, é o mercado de trabalho, etc… Os critérios de valorização são estranhos, não são baseados em afinidades ou amizades, nem todos os assuntos são discutidos com frequencia e em detalhes, as mudanças nem sempre são explicadas, as expectativas não são realizadas no devido tempo e nos deixam confusos.

 

A crença de que obter as coisas com mínimo esforço é o natural (“it´s cool”), parece não funcionar mais e parece que se requer um trabalho mais prolongado para se obter coisas mais importantes…

 

Nem sempre sabemos lidar com a frustração e com a angústia causadas pela dificuldade de compreender os fatos. Como a vida segue e o tempo é escasso, cada qual busca a sua conclusão e a sua interpretação dos acontecimentos. Muitas vezes o processo leva a uma conclusão fatalista do tipo “tenho que mudar de emprego, pois aqui não tenho mais futuro!”…

 

Há muitos anos, eu discutia com meu chefe as dificuldades do trabalho, a falta de colaboração dos colegas, a falta de recursos, as correções infindáveis, etc… A minha sensação era de que as coisas nunca melhorariam e que o meu trabalho estava sendo inútil.

 

A sua resposta foi a estorinha da rua esburacada pela qual você passa todo dia… Ninguém conserta, os buracos vão crescendo, vão se multiplicando e aprofundando.

 

A cada dia, é mais forte a sua sensação é de que no dia seguinte você não conseguirá mais passar por aquela via. As coisas não melhoram, tudo vai piorando e vem a certeza de que o dia em que você não conseguirá passar está muito próximo.

 

Aí vem a obra de reparo da via e uma semana depois você nem se lembra mais do buracos… Parece que tudo sempre foi perfeito!

 

A conclusão da sua estória era uma mensagem motivadora de que a fase mais difícil e insuportável poderia ser exatamente a fase mais próxima da solução e do alívio. O momento de maior sofrimento poderia ser o momento mais próximo da conquista!

 

Nunca mais esquecí desta estória simplória, que ao longo da vida me fez “insistir mais um pouco”, “pensar mais um pouco”, “perguntar mais uma vez”, “verificar outra vez”, “tentar pela últimas vez”…

 

Um fato interessante é que em todas vezes que fui promovido na carreira ou tive uma grande oportunidade, nunca soube na véspera. Ou seja, nunca soube o dia de consertar a rua a não ser no próprio dia! Se tivesse desistido na véspera, teria perdido a oportunidade…

 

Também a sensação de que se não aproveitasse a oportunidade oferecida, nunca mais haveria outra oportunidade tão boa não é correta. O fato é que aproveitei apenas algumas poucas oportunidades, de tantas que surgiram. Achar que a oportunidade do momento é o “último trem” não é correta…

 

Lembrei-me da estória para alertar aos jovens profissionais que para decisões importantes, é melhor “deixar as paixões de lado”. Pois quando as frustrações estão presentes, o risco de ver apenas o que nos interessa (ou apenas o que não nos interessa no momento) é muito grande…

 

As empresas estão tendo um turnover muito elevado no momento em função do aquecimento dos negócios em geral, algo inédito no Brasil. Mas será que a proposta oferecida é assim tão vantajosa?

 

O ponto crítico é a sua visão sobre o momento da sua carreira e as suas perspectivas na empresa onde está…

 

Uma proposta salarial melhor pode ser comparada com a sua situação atual e ser muito vantajosa. Mas quem sabe você esteja na iminência de uma promoção? Se houvesse a promoção, a proposta seria ainda vantajosa?

 

Uma movimentação lateral na empresa para uma área mais interessante quando comparada com a sua função atual pode ser interessante. Mas será que você não está próximo de uma promoção? Não pode ser que você esteja trocando uma promoção em curto prazo por uma movimentação lateral (apenas porque você “acha” que a promoção será demorada…neste caso “achar” pode ser perigoso…)?

 

Pode ser também que o seu desejo de ter uma atividade diferente esteja conduzindo-o a uma empresa no setor desejado. Mas a empresa tem o potencial que você imagina para sua evolução a longo prazo? Imagine uma empresa de varejo que pode a lojinha da esquina ou Walmart? Hotelaria pode ser a Pousada da Nini ou J. W. Marriot? O que você quer ser a longo prazo é importante?

 

Na busca de uma nova oportunidade interessante você se aplica a todo tipo de oportunidade interna e externa à empresa? O que você imagina ser um segredo de estado para não comprometer o seu emprego atual é na maioria das situações, um segredo entre você e a “torcida do Flamengo”, pois de alguma forma as coisas vazam…

 

Aliás já é tempo de acreditar que segredos não existem, certo? Pode ser que a estagnação da sua evolução na empresa seja resultado da falta de confiança plena do seu chefe! “Ciscando demais” diria o seu chefe no caso? por que investir em alguém que não demonstra interesse em permanecer na empresa?

 

Você se acha mais competente que o seu atual chefe e acredita que não poderá evoluir na sua carreira, pois depende de alguém que não lhe inspira uma grande admiração? Em primeiro lugar, possivelmente você não sabe de tudo que ele faz… Em segundo, pode ser que ele reconheça a sua competencia elevada e esteja recomendando-o muito bem… Em terceiro, pode ser justamente a sua maior oportunidade… Uma coisa certa é que ao longo da vida teremos chefes competentes e chefes nem tão competentes…

 

Qual é o ponto para você não se equivocar neste momento crítico? A falta de uma conversa aberta com o seu chefe! Se na sua visão ele não é digno desta confiança profissional, alguma coisa está errada na relação entre vocês… Ou pode estar errada na sua percepção!

 

E se o seu movimento estiver “queimando” uma grande oportunidade, poderão antecipar a oferta ou fazer uma promessa para retê-lo? Depende… depende de muitas coisas, mas acho que pode ocorrer uma perda instantânea de confiança e a tentativa de retenção pode ser “engavetada”…

 

Converse mais, pense bem, analise futuro versus futuro, hipóteses versus hipóteses e tenha uma decisão feliz!

 

YK. 

 

Colunista

YOSHIO KAWAKAMI

Presidente da Volvo Construction Equipment Latin America

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