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Brasil não é mais “bola da vez” – e daí?

 

Para economistas, não ser mais o “queridinho” dos investidores não é motivo para alarde, mas país precisa de reformas estruturais para continuar fazendo jus à posição conquistada

 

 

Daniela Moreira, de Exame

 

São Paulo – Quando a Economist estampou o Cristo Redentor decolando em sua capa, em novembro de 2009, o clima era de euforia. Uma das revistas de economia mais gabaritadas do mundo reconhecia o sucesso econômico do país e sentenciava que o Brasil finalmente fazia jus ao B de BRIC. Dias atrás, a mesma revista jogou um balde água fria no entusiasmo verde e amarelo, sugerindo que a fase mais pujante do crescimento do país ficou para trás e destacando as fraquezas que o governo terá que endereçar se quiser manter seu lugar ao sol.

 

 

 

 

O pragmatismo é compartilhado por grandes instituições financeiras, como MorganStanley e Credit Suisse, que já reduziram a recomendação de investimento no país, e pelo HSBC, que na última semana publicou um relatório avaliando o país como o menos interessante dos BRICs para se investir no momento. 

 

Fatores como o arrefecimento do crescimento da economia – o menor entre os BRICs no ano passado e, potencialmente, neste também – e os altos custos de se fazer negócio no Brasil ofuscam o brilho do país aos olhos dos investidores internacionais. Mas há motivo para preocupação?

 

Para Octávio de Barros, economista-chefe do Bradesco, não há razão para alarde. “O Brasil se graduou internacionalmente e adquiriu um status que pouquíssimos países emergentes têm do ponto de vista de maturidade institucional e macroeconômica. Pelo fato de o mundo hoje estar vivendo um período de aversão ao risco, praticamente desapareceram os ‘queridinhos’ do mercado. Essa figura do ‘queridinho’ tirou férias temporariamente”, pondera o economista.

 

Para ele, a cautela do investidor estrangeiro é apenas circunstancial. “O investidor financeiro global naturalmente se retrai com a depreciação temporária do real e com a velocidade da queda de juros no Brasil, mas isso é apenas um ‘freio de arrumação’, que não muda em nada a visão construtiva de médio e longo prazo que se tem do país”, avalia. 

 

Coordenador do núcleo de estratégia e economias emergentes da Fundação Dom Cabral, Aldemir Drummond concorda com o diagnóstico. “É um momento de ultraincerteza, os investidores estão buscando segurança. Isso afeta todos os países emergentes, que são vistos como um risco maior”, diz.

 

 

Segundo Barros, o problema é que o Brasil paga o preço por ser muito líquido. “Qualquer coisa ruim que ocorre mundialmente, o mercado vende Brasil porque sabe que compra de volta muito rápido. Ou seja, quando as coisas vão bem, o Brasil vai melhor do que os outros e quando as coisas vão mail o pais piora mais do que os outros”, argumenta o economista.

 

 

Mas apesar dos pesares, para os especialistas, o Brasil não ficou para trás em relação aos outros BRICs e ainda se destaca em alguns aspectos, como a estabilidade política e maturidade do ambiente de negócios. “O Brasil é, de longe, o mais previsível e arrumado país dos BICSs e oferece oportunidades compatíveis com a dimensão de sua economia. Tem muita gente vendo ‘pelo em ovo’”, diz Barros.  

 

Oportunidade

 

Se não chega a ser motivo para arrancar os cabelos, o olhar mais cético do mercado em relação ao Brasil sinaliza que há questões urgentes a serem resolvidas se o país quiser continuar fazendo jus à posição que conquistou na última década. 

 

A lição de casa incluiu reformas estruturais, necessárias para pavimentar o crescimento daqui para frente. “As transformações sociais e econômicas no Brasil são tão significativas que isso suscita alguns debates sobre os novos vetores do crescimento brasileiro nos próximos 10 anos. São inquietações naturais. Que bom que elas estejam ocorrendo”, diz Barros.

 

“Questões ligadas ao déficit de educação e de eficiência do governo estão ficando mais evidentes na medida em que o país está perdendo o bônus da estabilização. É preciso atacar questões estruturais, como a melhoria da competitividade. Só a expansão de crédito não é suficiente para sustentar o crescimento”, argumenta Drummond. 

 

Para o professor, este momento deve ser enxergado como um copo meio-cheio – e não meio-vazio.

 

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