Carreira de executivo vale a pena? É uma pergunta que muitos jovens fazem, tentando saber se a escolha que os seus pais e outras pessoas fizeram tem sentido hoje. O fato é que muitas vezes eles representam o lado sacrificado da família e da vida, convivendo com uma disposição limitada do pai ou da mãe com a função de gestor corporativo.
Recentemente uma jovem contava-me que o seu pai executivo não havia participado de alguns dos momentos mais importantes da sua infância e da sua adolescência. Sabemos que há um preço para tudo nesta vida e se buscamos fazer alguma coisa interessante da nossa vida, não importa o que seja, há uma necessidade de dedicar tempo e recurso em busca do seu objetivo.
Quando os jovens me perguntam se é possível conciliar a vida profissional e pessoal adequadamente, respondo honestamente que não. Este tipo de vida exige uma dedicação elevada pelas suas múltiplas responsabilidades e reduz a disponibilidade de tempo para a família em função das inúmeras viagens, encontros, reuniões e outras atividades profissionais e sociais.
Certamente traz benefícios que podem ser apreciados em maior ou menor grau, dependendo de como os interesses, as relações e as negociações são estabelecidas.
Se buscamos uma vida de aventuras e viagens, dedicaremos mais tempo para estas atividades que para outras, sacrificando algumas delas. Se buscamos alguns objetivos profissionais mais elevados, teremos que dedicar mais tempo ao preparo necessário para isto do que para outras atividades. Se queremos uma vida mais espiritual, dedicaremos mais tempo para reflexões existenciais.
De fato, não há escolha sem compromissos com as suas prioridades. Algumas delas são muito individualistas e até mesmo muito egoístas.
Ou seja, dentro de aproximadamente 80 anos de expectativa de vida dos brasileiros e das brasileiras, teremos que acomodar as atividades que mais nos atraem.
Confesso que recentemente, quando houve a pergunta se a vida de executivo tem valido a pena para mim, hesitei um pouco, mas depois acabei dizendo que sim, com convicção. Comentei que poder fazer aquilo que gostamos é um grande privilégio. E no lado profissional, a carreira escolhida tem oferecido muitas oportunidades de exercitar as atividades de que gosto.
Ponderei que um dos fatores que determinam esta conclusão é o resultado alcançado. Se todo esforço feito não tivesse permitido concretizar pelo menos alguns dos sonhos e algumas das aspirações mais significativas, talvez não tivesse tanta certeza.
Talvez, mesmo sem ter alcançado os objetivos, pudesse ainda assim, concluir que valeu a pena pela experiência obtida e principalmente pela tentativa. Não tentar, teria sido ainda mais frustrante que não alcançar o objetivo.
O fato é que com uma expectativa de vida de quase 80 anos, assumir que você viverá uns 100 anos parece ser bastante razoável. É toda oportunidade que você tem nesta vida de tentar fazer alguma coisa de valor, mais além dos trocados e de alguns prazeres. Tentar algo diferente dos demais traz alguns riscos, como sabemos. Mas para aqueles que não acreditam em reencarnação, é só uma vida para viver, criar, sentir emoções, lutar por ideais, ser melhor a cada dia, etc…
A carreira de executivo é apenas mais uma das opções, dentro do âmbito profissional. Não é nem mais e nem menos importante que outras atividades profissionais existentes no mundo. É provavelmente supervalorizada pela cultura corporativa, pela mística da competência e pela imagem de altas remunerações com um cotidiano exuberante, fomentado pela imaginação e pelos meios de comunicação. É verdade que alguns profissionais ajudam a projetar este tipo de imagem.
É muito importante, no entanto, considerar que entre aqueles que pelo menos alcançaram o resultado esperado no âmbito profissional, haverá um grupo que dirá que valeu a pena. Outros poderão ponderar que a troca de uma vida pessoal mais equilibrada por uma vida profissional mais interessante não valeu a pena.
Certamente, a opinião de que não vale a pena prevalecerá entre os que não tiveram tanta sorte na carreira.
A carreira de executivo é apenas uma das opções pessoais, excelente para quem gosta e péssima para quem não gosta. Não merece uma apologia tampouco necessita ser tratada como uma escolha equivocada para todos. Deve ser um escolha pessoal tentá-la ou não.
Como tudo na vida, é boa para quem gosta e colhe bons resultados, nem tanto para os demais.