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Dívidas crescem em países asiáticos e ameaçam economia global

Dívidas crescem em países asiáticos e ameaçam economia global

Os países asiáticos acumularam muita dívida para manter o crescimento durante a crise financeira, mas não conseguiram romper o hábito mesmo depois de a economia global ter se recuperado. Agora eles estão sentindo a ressaca.

O crescimento está desacelerando rapidamente em toda a região, à medida que consumidores e empresas se concentram em pagar dívidas. Os bancos centrais cortaram os juros, derrubando o valor das moedas, mas as economias não decolaram. A demanda tem permanecido fraca, estagnando salários e impedindo um aumento substancial de preços, o que torna os empréstimos ainda mais difíceis de serem pagos.

Essa dinâmica pode prejudicar significativamente as perspectivas econômicas da região, potencialmente derrubando as taxas de crescimento da economia mundial.

“O problema é que as pessoas já assumiram muita dívida”, diz Paul Sheard, economista-chefe global da Standard & Poor’s Ratings Services. “Mesmo se você derrubar as taxas de juros para zero, as pessoas não vão mais pedir dinheiro emprestado.”

Kim Hee-do, um funcionário administrativo de 35 anos de Seul, está entre os que se recusam a fazer novos empréstimos, apesar de três cortes de juros realizados pelo banco central da Coreia do Sul nos últimos meses. A esposa de Kim esperava tirar proveito dos juros de 1,75% ao ano para substituir o Volkswagen Bettle 2003 do casal, mas ele a convenceu de desistir do plano.

“Eu poderia me considerar uma pessoa bem-sucedida”, diz Kim. “Mas não sinto que posso gastar mais e eu estou preocupado com o meu futuro.”

Metade da dívida global emitida ao longo dos últimos sete anos foi para economias de mercados emergentes, em grande parte da Ásia. Só a China foi responsável por mais de 30% do aumento do endividamento mundial desde 2007, de acordo com o McKinsey Global Institute.

Os níveis de dívida em vários países asiáticos, como China, Malásia, Tailândia e Coreia do Sul, estão hoje acima do que estavam antes da crise financeira asiática no fim dos anos 90. Alguns países, como Coreia do Sul, Malásia e Austrália, têm níveis de dívida em relação à renda familiar maiores que os registrados pelos Estados Unidos às vésperas de sua crise financeira.

Os países da região vinham sendo cuidadosos sobre o acúmulo de dívida depois da devassa provocada pela crise asiática. Isso permitiu que eles tomassem emprestado para manter o crescimento e servissem como um colchão de proteção para o resto do mundo durante a crise financeira global. Mas a Ásia continuou tomando empréstimos mesmo após a crise.

“A Ásia se tornou viciada em crédito e o dinheiro fácil gerou complacência entre os formuladores de políticas”, diz Frederic Neumann, um dos diretores de pesquisa econômica para a Ásia do HSBCHoldings PLC.

Há um elemento de ironia na febre de endividamento da Ásia. O boom da dívida dos EUA que levou à crise financeira foi possível, em parte, por taxas de juros baixas que só se materializaram por causa das altas taxas de poupança na Ásia. Os países da região, em particular a China, devoraram os títulos de dívida emitidos pelo Tesouro americano, provocando um declínio nos rendimentos e nos custos de empréstimos na economia em geral.

Hoje, as políticas monetárias bastante flexíveis nos EUA, Europa e Japão têm levado a uma inundação de dinheiro na Ásia. Investidores ávidos por rendimento ajudaram a derrubar os juros, permitindo que governos, empresas e indivíduos acumulassem mais dívida que nunca, aos menores juros da história.

O endividamento se desenvolveu de forma diferente em toda a região. Na China, gigantes estatais, incorporadoras imobiliárias e governos locais acumularam pilhas de dívida. Na Malásia e na Tailândia, foram os consumidores que tomaram empréstimos para financiar um novo estilo de vida da classe média, como carros e eletrodomésticos.

Produtores de commodities de toda a região acumularam dívida, acreditando que a crescente demanda e os preços altos gerariam enormes retornos. No Japão, o governo continuou vivendo acima das suas possibilidades, empurrando a já elevada dívida total do país a 400% da produção econômica anual.

Mesmo excluindo o Japão, a dívida na Ásia subiu para 205% do produto interno bruto em 2014, em comparação com 144% em 2007 e 139% em 1996, pouco antes da crise financeira asiática, segundo cálculos do MorganStanley. Na China, a dívida total subiu para US$ 28,2 trilhões em meados de 2014, ou 282% do PIB, acima dos US$ 7,4 trilhões em 2007, de acordo com a McKinsey. A proporção da dívida nos EUA é de 269% do PIB.

Em alguns países pobres, como Índia e Indonésia, a dívida ainda é relativamente baixa em comparação com o tamanho de suas economias. Mas bolsões de endividamento, como o acumulado por empresas de infraestrutura da Índia, estão pesando sobre a economia. Outros países, incluindo a Coreia do Sul e a Tailândia, estão enfrentando uma difícil combinação de dívida elevada e envelhecimento da população, o que significa que suas economias, que já estão lentas, não poderão dar o mesmo tipo de impulso para o crescimento do resto mundo como no passado.

Apesar do aumento do endividamento, poucos esperam uma nova crise financeira na Ásia. A maioria dos empréstimos foi feita em moeda local, em vez de em moedas estrangeiras, de modo que a desvalorização das moedas não deve aumentar os riscos de inadimplência. Muita dívida em moeda estrangeira ajudou a desencadear a crise asiática nos anos 1990.

Mas há tendências preocupantes. Na China, metade da dívida está ligada ao setor imobiliário e mais de 30% dos empréstimos foram feitos através do sistema bancário paralelo do país. Essa dívida poderia ricochetear nos balanços dos bancos, como aconteceu durante a crise financeira americana. A disparada do mercado de ações da China tem sido alimentado por dinheiro de empréstimos de margem, em alta de 70% até agora no ano.

No curto prazo, o maior risco é um aumento das taxas de juros nos EUA, o que poderia fazer o capital fluir para fora da região, derrubando as cotações de ações e títulos, elevando os custos de empréstimos e chacoalhando os mercados cambiais. No Sudeste Asiático, grande parte dos empréstimos em moeda local foi feita por investidores estrangeiros, que são rápidos para retirar seu dinheiro em momentos de estresse.

Fonte: The Wall Street Journal

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