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Ética em Compras

Ética em Compras

O comportamento ético por parte das pessoas que trabalham no setor de compras e suprimentos é esperado e exigido pela outras pessoas com grande comparação com o conceito de moral. Segundo Lima ( apud Batista e Maldonado, 2008) a moral estabelece uma ligação do código de ética e a empresa, onde define que a empresa moderna atua em cenários cada vez mais complexos, participando de operações inovadoras, mesmo quando essas operações repetem atividades antigas.

O código de ética pode servir como prova legal da intenção da empresa, ou seja, ele tem a missão de padronizar e formalizar o entendimento da organização empresarial em seus diversos relacionamentos e operações. A existência do código de ética evita que julgamentos subjetivos deturpem, impeçam ou restrinjam a aplicação dos princípios.” É importante citarmos inicialmente neste artigo autores  que definam o que vem a ser ética, uma vez que a mesma assume máxima importância na sociedade em que vivemos e sobretudo dentro dos departamentos chaves de uma organização, neste caso o setor de compras.

Para  Campos, Greik & do Vale (2002), “ todo ser humano é dotado de uma consciência moral, que o faz distinguir entre o certo e o errado, justo ou injusto, bom ou ruim, com isso é capaz de avaliar suas ações; sendo portanto, capas de ética. A ética, portanto, é a ciência do dever, da obrigatoriedade, a qual rege a conduta humana.”Conduta esta tão esperada e necessária ao departamento de compras.

1 – Introdução

Quando se fala ou lembra de um setor de compras, percebe-se que passa pela cabeça da maioria das pessoas que é um setor onde os funcionários que lá trabalham são presenteados por grande parte de seus fornecedores. Presentes estes, do mais simples e barato até o de mais alto valor financeiro. E é justamente o aceite destes presentes pelos compradores, que geram nas pessoas uma dúvida com relação a conduta dos mesmos. Perguntas são indagadas: Será que este fornecedor foi beneficiado? Será que o comprador aceitou o suborno de um fornecedor?  Assim, abordaremos neste trabalho a presente situação de suborno no setor de compras, como lidar com tais situações e alguns modelos de códigos de conduta existentes em empresas que são fundamentais para que estas possam ser pelo menos evitadas.

Justifica-se a abordagem e o relato sobre o suborno em compras porque é um tema que querendo ou não está relacionado ao setor de suprimentos. Este artigo poderá informar aos profissionais que queiram ingressar no setor de compras, o modo correto de agirem em uma negociação comercial, sem se submeterem aos subornos oferecidos pelos vendedores. Além do que é um tema que gera indagações e questionamentos.

O objetivo deste artigo portanto, é propor questionamentos sobre o suborno e relatar atraves de algumas opiniões de autores como reagir diante de uma situação destas. Além de exemplificar e relatar a importância de um Código de Conduta dentro de uma empresa. Para isto utilizamos o método de pesquisa bibliográfica, onde procuramos encontrar na literatura, seja em livros, revistas e artigos já existentes sobre o tema.

2 – Ética e Suborno – Conceito

Segundo Vazquez (apud Godinho et al, 2001), “ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é a ciência de uma forma específica do comportamento humano”. Levando este conceito para o tema deste artigo, ou seja, para o setor de compras, este comportamento ético é essencial dentro de qualquer empresa e sobretudo fundamental no departamento de suprimento. Ao negociar com os vendedores, cabe ao comprador apresentar uma conduta ética e sobretudo transparente em suas relações com os fornecedores.

Já o suborno, significa popularmente “bola” , propina, caixinha. Segundo Stukart (2003) é um dos tipos mais comuns de corrupção. Quantas vezes já ouvimos relatos sobre compradores que aceitaram bola para beneficiar um determinado fornecedor. Atitude esta totalmente anti-profissional e desonesta.

3 – Postura Correta do Comprador

A gestão de compras trabalha normalmente com grande quantia em dinheiro. E em função da necessidade de constante contato com os fornecedores, os compradores tendem a ter uma relação bem próxima e estreita com os mesmos. Esta relação estreita acaba influenciando alguns compradores desonestos a aceitar suborno de seus fornecedores em troca de uma compra ou serviço executado na empresa.

Dias e Costa (apud Batista e Maldonado, 2008) lembram dessa relação e alertam para a necessidade do comprador se manter distante dos interesses dos fornecedores, onde não obstante tudo isso, o comprador, durante a avaliação de um processo de compra de determinado material ou de contratação de serviço, deve manter-se eqüidistante de todos os fornecedores, evitando que aspectos pessoais e subjetivos interfiram nas suas decisões, beneficiando um único fornecedor em detrimento de outros e, conseqüentemente, da sua própria empresa.

Deste modo, o profissional de compras jamais pode esquecer que não está comprando para ele mesmo, mas para a empresa em que trabalha. E é sempre desse modo que ele tem de pensar ao analisar os orçamentos dos fornecedores. Esta conduta  representa a base ética de todo profissional de compras. É esta a conduta correta e esperada pelo setor de suprimentos.

De acordo com Stukart (2003) o próprio comprador deve observar sua maneira ao realizar uma compra, procurando nunca se deixar envolver com situações que fogem ao seu papel e função. Ele deve fazer negócios estritamente corretos. E ainda manter total distância, pois agindo desta maneira ele mostrará aos seus fornecedores que ali eles não conseguirão adquirir nada imoralmente.

De outro lado, para Dias e Costa (apud Batista e Maldonado, 2008) o comprador deve criar um ciclo de amizade com o fornecedor que inclua além dos contratos comerciais, encontros sociais, visitas a fábrica, almoços e jantares desde que sigam padrões éticos.

Segundo Stukart (2003), presentes com pouco valor comercial como brindes publicitários (caneta, agenda, calendário, etc…) que tenham o nome do fornecedor impresso neles podem ser aceitos, desde que não causem uma situação em que o comprador se sinta influenciado a tomar uma decisão tendenciosa ou que levem outros a pensarem assim. Em síntese, o bom senso nos diz que nada deve ser aceito se causar uma situação em que nos sintamos submissos.

4 – Prevenção Contra o Suborno

De acordo com Stukart (2003) toda empresa deve procurar métodos para garantir a integridade de seus compradores, ou seja, adotar algumas maneiras de se prevenir contra o suborno no setor de suprimentos. Ele cita alguns deles:

• Exemplo ético da cúpula da empresa;

• Rotação de compradores;

• Auditoria interna e externa;

• Código de Ética claro e explicado.

A exemplificar, conforme Stukart (2003)  segue abaixo algumas condutas NÃO aceitáveis que constam no Código de Ética do Banco Itaú, relacionadas ao departamento de compras:

• Relações comerciais com empresas em que você, ou pessoas de seu relacionamento familiar ou pessoal, tenham interesse ou participação – direta ou indireta, sem autorização do superior hierárquico;

• manter relações comerciais particulares, de caráter habitual, com clientes ou fornecedores. Relações comerciais eventuais com clientes ou fornecedores não são proibidas, mas devem ser comunicadas previamente, por escrito, ao seu superior;

• usar seu cargo de comprador, função ou informações sobre negócios e assuntos da Instituição, ou de seus clientes, para influenciar decisões que venham a favorecer interesses próprios ou de terceiros;

• Aceitar ou oferecer, direta ou indiretamente, favores ou presentes de caráter pessoal, que resultem de relacionamento com o Banco e que possam influenciar decisões, facilitar negócios ou beneficiar terceiros. Presentes não enquadrados nessa situação, mas que excedam o valor limite estipulado deve ser informado por escrito ao superior da área.

Porém, conforme a bibliografia de Stukart (2003), mesmo com as medidas citadas acima, alguns compradores acabam se submetendo a este suborno. Esse comprador que aceita suborno, age com má fé em relação a empresa que o emprega; torna-se uma pessoa desonesta e será rotulado como corrupto. Muitas vezes não é fácil comprovar de maneira clara e inquestionável a desonestidade do empregado.

Nesses casos, não é aconselhável que se demita o comprador ”boleiro” por justa causa, mas que seja desligado da empresa sem indicação da razão, evitando assim qualquer discussão. Todavia, nos casos graves em que houver a devida comprovação, o comprador pode ser demitido por justa causa e responsabilizado pelos prejuízos no campo do Direito Civil, e ainda vir a ser condenado à prisão, pela lei penal.

5 – Ética nas Compras –  Pesquisa CBEC (Comissão Brasileira dos Executivos de Compras)

É interessante, também, mencionarmos neste artigo algumas conclusões sobre a primeira pesquisa brasileira sobre Ética nas Compras, realizada por Fernando de F. Moura, Associado Fundador do CBEC e Coordenador da Comissão de Ética.

Conforme Moura , os participantes desta pesquisa foram os associados da CBEC, mais alguns profissionais da área de compras indicados pela mesma. Tais profissionais em sua maioria trabalham em empresas brasileiras e multinacionais, exercendo cargos de direção, supervisão e gerência, possuindo ampla vivência no setor de suprimentos.

O questionário foi entregue a 117 profissionais, sendo que 43 devolveram o mesmo preenchido, perfazendo um índice de 35% de respostas. Seguem abaixo pontos relevantes desta pesquisa:

1) Em relação ao recebimento de brindes e presentes foi questionado aos profissionais os seguintes pontos:

 a) Se os mesmos consideram normal tal prática. A grande maioria respondeu que  brindes podem ser aceitos normalmente desde que o valor não ultrapasse R$ 250,00 e  que jamais o profissional de compras deve aceitar dinheiro e receber brindes ou  presentes em casa.

b) Se na empresa onde eles trabalham é normal permitir que os seus vendedores  ofereçam brindes e presentes aos clientes. De modo geral, os profissionais  responderam que as empresas mantêm uma certa coerência em vendas, refletindo a  mesma orientação do que acontece em compras. Porém, percebe-se que há alguma  permissão no valor do brinde ou presente oferecido aos clientes, que varia de acordo  com o seu grau de importância nos negócios.

 c) Se eles recebessem um brinde no valor superior ao que eles responderam no tópico  “a”, qual seria o procedimento adotado. Unanimemente, eles responderam que este  presente será recusado, polidamente, ou é aceito e doado a entidade beneficente ou  sorteado entre os funcionários, comunicando ao fornecedor o que foi feito com o  presente dado.

2) Em relação aos convites como almoços, jantares, viagens e entretenimento foi questionado aos profissionais os seguintes pontos:

a) Se na empresa onde trabalham existe alguma política a respeito da aceitação destes convites. Metade dos profissionais informaram que suas empresas possuem política a respeito e recomenda evitar ou dividir as despesas; na dúvida, consultar o superior imediato. Dentre a metade que disse não ter política a respeito, vários informam  que, quando aceitam, procuram ter mais de um funcionário presente e alternam o pagamento dos almoços ou jantares.

 b) Se este tipo de convite pode ser aceito como um gesto de cortesia e gentileza do fornecedor. Na quase totalidade, os profissionais responderam não ver problema em aceitar este tipo de convite, porém, é unânime a posição de não aceitar o convite se o fornecedor estiver participando de algum processo de compra em andamento.

c) Se o profissional informaria para o superior imediato, caso ele aceitasse um convite para um jantar, por exemplo. Uma maioria expressiva aceitaria o convite mas informariam o superior porque acreditam que, mesmo acontecendo fora do expediente normal de trabalho, jantares deste tipo só acontecem em decorrência das relações comerciais entre os participantes.

3) Em relação ao apoio a compras nos dilemas éticos foi questionado aos profissionais os seguintes pontos:

a) Se na empresa onde eles trabalham, há um código de conduta ética conhecido por  todos e para todos os funcionários. A maioria respondeu que existe sim este código,  porém, menos da metade possui alguma reciclagem sobre os pontos-chaves do mesmo.

b) Se caso haja algum comportamento divergente ao código de ética da empresa , além da chefia imediata, se existe algum canal direto para reportar o problema. A maioria respondeu que existe sim, podendo ser o RH, o Comitê de Ética, a Ouvidoria, Auditores Internos e, até, o presidente da empresa.

6 – Conclusão

Pode-se constatar que, por parte das empresas, todos os profissionais envolvidos no processo de compras concordam com a importância da ética para o sucesso dos negócios. Mas, dentro do processo de negociação o departamento de compras está sujeito com frequência a receber propostas de suborno para favorecer vendedores sem ética. É um setor muito visado pelas outras áreas da empresa, principalmente quando esses profissionais recebem algum brinde ou aceitam algum convite de um fornecedor. Indagações são levantadas sobre estas questões:  O que fazer quando você, profissional de compras, se depara com esta situação? É ético receber algum brinde de um fornecedor? É uma prática normal aceitar convites para almoços, jantares ou viagens?

Verifica-se que a existência de um Código de Ética nas empresas é de fundamental importância para uma conduta correta dos funcionários. Definindo claramente o que pode e o que não pode ser feito nas empresas. Mas não basta apenas que o código exista é preciso que seja colocado em prática e sempre que necessário o mesmo seja repassado e revisado aos funcionários.

Com a pesquisa realizada pela CBEC (Comissão Brasileira dos Executivos de Compras) verifica-se que a maioria dos profissionais em compras consideram normal a prática de aceitar brindes e convites para almoços, desde que isso seja feito de forma transparente e com o conhecimento de seus superiores .  Cabe a cada empresa definir em seu Código de Ética o valor e o teor dos brindes a serem aceitos pelo departamento de compras.

Obviamente, caso em uma empresa não exista um Código definido, com normas e padrões a serem seguidos, cabe ao comprador consultar seus superiores sobre alguma abordagem estranha por parte dos fornecedores. Lembrando sempre que o bom senso e a transparência são fundamentais. Esta pesquisa piloto realizada pela CBEC sobre a Ética na área de Suprimentos permite estabelecer parâmetros de atuação dos profissionais de compras, diante de situações comuns do setor. Servindo ainda como referência de postura e comportamento nas negociações comerciais, para muitas pessoas que queiram se ingressar na área de compras.

Compradores profissionais que sabem conduzir uma negociação comercial de maneira ética e transparente, sem se submeterem a qualquer tipo de suborno, tem que ter o seu valor reconhecido tanto pela empresa como também pela sociedade, pois sem dúvida, é um indivíduo, de uma forma geral,  uma pessoa melhor, servindo de exemplo para as gerações futuras, que terão consciência de que ser honesto é acima de tudo uma obrigação.

Lembre-se, não há nada mais recompensador para os profissionais em compras do que a consciência tranquila, a paz de espírito e o nome respeitável perante a empresa e a sociedade em que vivem.

Cibele Cassimiro de Campos e Fernanda de Jesus Lisboa
Pós Graduadas em Administração de Compras pelo Ietec

Bibliografia

MAC BATISTA, JMSV MALDONADO. Rev. Adm. Pública, 2008. Disponível em:http://www.scielo.br. Acesso em: 17 jan. 2009.

GODINHO, H.D. A Ética Aplicada para o Sucesso nos Negócios, 2005. Disponível em http://ricardoalmeida.adm.br. Acesso em: 07 dez. 2008.

CAMPOS, M.; GREIK, M.; DO VALE, T. A História da Ética, 2002. Disponível emhttp://www.cientifico.frb.br. Acesso em: 07 dez. 2008

STUKART, H. L. Ética & Corrupção – Os benefícios da conduta ética na vida pessoal e empresarial. São Paulo: Nobel, 2003.

MOURA, Fernando de F. Pesquisa de Ética nas Compras. Disponível emhttp://www.cbec.org.br . Acesso em: 02 mai. 2008.

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