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Mesmo com recorde de exportações, siderúrgicas devem manter prejuízos

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As exportações de aço pelo Brasil atingiram recorde histórico em julho deste ano (último dado disponível) e vão continuar em alta, mas são insuficientes para compensar o vácuo no mercado interno. A sobreoferta do produto no mercado global gerou a desvalorização do preço do aço e limitou a rentabilidade das vendas externas. O avanço no mercado internacional era uma estratégia das siderúrgicas para compensar, ainda que parcialmente, a retração das vendas no mercado doméstico, mas com o potencial reduzido, se tornaram uma saída para manter os equipamentos em funcionamento e conter o processo de dispensas de trabalhadores.

Embora possa permitir ligeiras melhorias nos indicadores financeiros das empresas, as exportações não impedirão novos prejuízos no terceiro trimestre.

A indústria do aço no Brasil já demitiu neste ano mais de 11.100 trabalhadores e projeta a necessidade de cortar mais 4 mil vagas. Atualmente, o setor opera com 30% de ociosidade nos altos-fornos. “Há um excedente de oferta no mercado mundial, causado pela China, que derruba os preços. As exportações se tornaram uma forma de manter funcionando os equipamentos e segurar empregos”, disse o presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Melo Lopes.

O executivo detalhou que grande parte do aumento das vendas externas são de produtos semi-acabados, que têm valor de mercado menor, e são operações intercompany (transação entre as unidades de uma mesma empresa).

O balanço financeiro da ArcelorMittal, referente ao desempenho da unidade da empresa no Brasil no segundo trimestre, informa que a companhia comercializou a tonelada do aço, em média, por US$ 704 no primeiro semestre deste ano. No mesmo período do ano passado a empresa havia vendido a tonelada por US$ 914.

Para o consultor em siderurgia Pedro Galdi, da WhatsCall, a Gerdau será a siderúrgica com melhoria mais consistente nos resultados do terceiro trimestre em decorrência de sua presença mais forte no mercado externo e por atuar no segmento de aços longos.

Para ele, as usinas com mix de produto focado no setor de aços planos, que atendem tradicionalmente o mercado interno, como Usiminas e CSN, deverão contabilizar prejuízo no terceiro trimestre.

“A alta do dólar favorece a CSN na parte de mineração, mas a dívida em dólar da companhia é muito alta e a relação dívida líquida/Ebitda (geração de caixa) deve crescer muito. Já a Usiminas apostou muito em exportação, se beneficia um pouco do dólar, mas embarca o produto mais fraco da cadeia que são as placas de aço, sem muito valor agregado, e insuficiente para interromper a fragilização da empresa, que deve ter prejuízo”, disse.

Empresas defendem adoção de medidas de defesa comercial

Os representantes do setor siderúrgico estiveram em reunião com o ministro da Fazenda Joaquim Levy na semana passada. Eles apresentaram o cenário do setor para o ministro e reivindicaram a adoção de medidas emergenciais de defesa comercial e acesso ao mercado. “Entendemos que o mercado interno não vai responder rapidamente e, por isso, pedimos atenção especial do ministro a mecanismos de apoio à exportação e de defesa comercial”, disse Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Instituto Aço Brasil (IABr). Também participaram do encontro com o ministro os empresários Jorge e André Gerdau (Gerdau), Benjamin Steinbruch (CSN), Benjamin Baptista (ArcelorMittal) e Rômel de Souza (Usiminas).

No pacote do incentivo ao comércio exterior, a discussão se deu dentro do Reintegra, programa do governo federal que prevê a “devolução” para o exportador de manufaturados de parte dos impostos pagos ao longo da cadeia produtiva. Na prática, ele funciona como compensador de resíduos tributários gerados na cumulatividade dos tributos. O setor considera alíquota de 7% como a ideal, mas viu o governo reduzir o percentual de devolução de 3% para 1% este ano.

Em defesa comercial, os executivos pediram ao ministro medidas mais severas para combater dumping de aços importados, sobretudo da China. “A participação do aço chinês nas importações subiu de 1,3% (2000) para 54% (2014). Ninguém faz isso com práticas leais de concorrência”, disse Marco Polo.

De acordo como ele, Levy se mostrou atento às demandas do setor, fez várias perguntas e pareceu estar solidário, apesar de os empresários terem deixado a reunião sem que o ministro tenha assumido nenhum compromisso ou mesmo agendado um novo encontro.

“Vamos esperar um pouco e tentar um retorno com a equipe do ministro”, afirmou o presidente-executivo do IABr, que classifica a crise atual da indústria do aço, que se prolonga desde 2009, como “a maior da história do setor”.

Bruno Porto – Hoje em Dia

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