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No comércio eletrônico, consumo sem fronteiras

No comércio eletrônico, consumo sem fronteiras

A blogueira Shannyn Allan recentemente viu um colar em uma butique perto de sua casa em Chicago por mais de US$ 70. Na internet, encontrou a mesma bijouteria em um site que a vendia por US$ 16, com um frete de cerca de US$ 7. O colar foi entregue em sua casa depois de três semanas — vindo da China.

A FedEx Corp. , a United Parcel Service Inc. e outras empresas globais de entregas de encomendas estão apostando em consumidores de produtos importados como Allan, que acreditam que fronteiras geográficas não são um impedimento quando se trata de se conseguir o que se quer.

No ano passado, a UPS comprou a i-parcel LLC e a FedEx comprou a Bongo International. As duas aquisições foram realizadas para permitir que consumidores estrangeiros comprem facilmente bens em sites de varejo, mudando os cálculos automaticamente para que reflitam o país de onde o consumidor está comprando. Os sites também ajustam as moedas e os meios de frete dependendo de onde o consumidor está, além de calcular custos de entrega, taxas e impostos.

A FedEx divulgou em abril a compra da TNT Express na Europa por quase US$ 5 bilhões para expandir sua operação na região, enquanto a UPS está dobrando os investimentos no bloco para cerca de US$ 2 bilhões ao longo dos próximos cinco anos.

As compras on-line feitas pelos consumidores em varejistas fora de seu país de origem deslancharam à medida que aumenta o acesso à internet e as opções de envio ficam mais rápidas e baratas. Empresas como a Amazon.com Inc. e o Alibaba Group Holding Ltd. impulsionaram a tendência ao permitir que varejistas menores vendam produtos em suas plataformas on-line.

Nos Estados Unidos, o dólar valorizado tem levado mais americanos a comprar no exterior; e em países em que a inflação dispara, muitos buscam economizar comprando on-line.

As compras feitas por consumidores em sites no exterior ainda representam uma pequena fração dos gastos globais com comércio eletrônico, mas é a fatia que cresce mais rápido, a uma taxa superior a 25% por ano, segundo executivos de empresas de entrega.

Até 2018, cerca de 130 milhões de pessoas devem fazer compras on-line em lojas no exterior, gastando estimados US$ 307 bilhões — quase o triplo do valor gasto em 2013, segundo estudo da Nielsen Company encomendado pelo Paypal. Atualmente, em torno de 25% de todas as compras via comércio eletrônico são feitas em lojas estrangeiras, segundo pesquisa com quase 20 mil consumidores globais feita pela comScore e UPS, divulgada em março.

Rotas comerciais movimentadas estão sendo criadas entre os EUA, o Reino Unido, Austrália, Alemanha, Brasil e China, segundo estudo do Paypal. Os principais destinos são os EUA, China e o Reino Unido, mostra um estudo da Forrester Consulting feito em dezembro de 2014 para a FedEx. A marca australiana de cosméticos Mirenesse vende brilho labial para as consumidoras americanos. Os chineses compram fórmulas infantis da Alemanha. A Amazon vende produtos de varejistas de mais de 100 países para consumidores em 185 países.

O processo se tornou tão simples que os consumidores frequentemente não sabem que eles estão comprando de um varejista estrangeiro. Quando eles sabem, “o principal motivador é que eles não encontram o item em seu país”, diz Carl Asmus, diretor de marketing internacional da FedEx.

O comércio eletrônico global apresenta, porém, uma série de complexidades logísticas para os varejistas e os fabricantes. Cada país tem suas próprias regras alfandegárias, tarifas e impostos. Os consumidores querem saber o custo total da compra antecipadamente. Se o varejista calcular de forma errada, o cliente pode ter que pagar por impostos inesperados ou o pedido pode ficar retido na alfândega.

Os varejistas on-line também podem se encontrar em um atoleiro logístico de barreiras da língua, diferenças de moedas e dores de cabeça com devoluções de produtos. As devoluções — hoje uma parte essencial do processo de decisão de compras on-line — podem ser imprevisíveis ou mesmo impossíveis.

A FedEx, UPS e DHL estão correndo para reestruturar seus serviços de forma a facilitar as compras internacionais. As transportadoras esperam que o comércio eletrônico global amplie os negócios de maior valor feitos por consumidores com pressa como Frances Salvador, que comprou em janeiro seu vestido de noiva no mercado on-line de produtos artesanais Etsy Inc. Por ter pago US$ 400 por um vestido que custaria cerca de US$ 2 mil, ela não se importou com os US$ 40 da entrega expressa da China. O vestido chegou embalado à vácuo em Ohio em apenas quatro dias.

As entregas globais nem sempre ocorrem sem problemas, o que faz com que alguns analistas não sejam tão otimistas quanto à expansão do comércio eletrônico internacional.

No Brasil, 32% dos consumidores que compraram em sites do exterior não receberam seus pedidos no prazo estipulado pelos vendedores em 2014, segundo pesquisa da e-bit, consultoria de comércio eletrônico do grupo Buscapé Company. Mesmo assim, os brasileiros gastaram R$ 6,6 bilhões em compras em sites no exterior em 2014, o equivalente a 18% do que eles gastam em sites nacionais, revela a mesma pesquisa. “Cerca de quatro em cada dez brasileiros compraram em sites estrangeiros no ano passado”, disse Pedro Guasti, vice-presidente de relações institucionais do Buscapé. Porém, o nível de insatisfação tem crescido, segundo ele, principalmente devido à demora na entrega, que atualmente chega a 42 dias.

Para Raphael de Cunto, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados, os mesmos problemas de infraestrutura que tiram a competitividade das exportações de manufaturados também afetam o crescimento do comércio eletrônico brasileiro.

A tributação incidente no Brasil sobre produtos enviados do exterior é de 60% sob o valor do item incluindo frete, segundo o site dos Correios. Além disso, os Correios cobram mais uma “taxa de despacho” de R$ 12,00 para entregar o item ao consumidor.

Leonardo Conde, analista de sistemas e radialista carioca, sempre foi um aficionado das compras em sites estrangeiros, procurando por LPs e CDs raros. “A internet me deu acesso a um mundo de opções de compra em vários países, onde consegui discos antigos que nunca sonhava encontrar”, diz. Porém, ele explica que a atual demora na entrega está fazendo com que ele volte para as lojas de importados, onde o recebimento do produto é garantido.

(Colaborou Eduardo Magossi.)

Fonte: The Wall Street Journal

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