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Nutry pensa fora da caixa

Portein bars with dried fruit

Algumas receitas e alimentos de sucesso são descobertos por acaso. Reza a lenda, por exemplo, que a cerveja só foi produzida após a fermentação acidental de alguns cereais na antiga Mesopotâmia, atual Iraque. Já a criação do picolé apenas ocorreu porque um garoto esqueceu, durante um gelado dia de inverno, seu suco na varanda de sua casa na cidade americana de São Francisco. O principal produto da Nutrimental, líder no segmento de barras de cereais com a sua marca Nutry, também pode ser considerado resultado de um acidente providencial.

Dona de um faturamento de R$ 400 milhões, no ano passado, a empresa baseada em Curitiba começou em 1968 desidratando alimentos, como batata e feijão, além de sobremesas, para vender nos programas de merenda escolar do governo federal. Suas conhecidas barrinhas só passaram a existir cerca de 20 anos depois e de forma despretensiosa, atendendo a um pedido do navegador Amyr Klink. “Ele queria comidas leves e saudáveis para as suas viagens”, diz Rodrigo da Rocha Loures, um dos fundadores e presidente do conselho de administração da Nutrimental.

“Nem sonhávamos que o produto seria o nosso carro chefe, algum tempo depois.” Foram justamente as barras de cereais que salvaram a empresa da bancarrota, no início da década de 1990. Nessa época, o governo Collor cancelou o programa de merendas unificado. Da noite para o dia, 70% do faturamento da Nutrimental havia virado poeira. As barrinhas seguraram o rojão, segundo Rocha Loures, e é com elas que a empresa pretende passar por mais um momento de turbulência econômica. “Quase fechamos e tivemos de nos reinventar”, afirma o empresário.

“Por experiências como essa, sabemos que vamos sair ainda mais fortes da atual crise.” Para atravessar o complicado ano de 2015, a Nutrimental pretende repetir a estratégia de 25 anos atrás: inventar produtos e pensar “fora da caixa”. Serão investidos R$ 60 milhões, nos próximos três anos, focados, principalmente, no desenvolvimento de alimentos. Neste ano, o aporte já colocou no mercado a Nuts, um tipo de barra de cereal com sementes, e os Cookies da Nutry. Com eles, a empresa espera, ao menos, manter o nível das vendas apresentado no ano passado.

Rocha Loures vê outra vantagem para a Nutrimental, em tempos de turbulência econômica: seu tamanho. Por ser uma empresa de médio porte, ela consegue enxergar mais rapidamente os seus gargalos internos e encontrar as soluções. “Somos uma empresa horizontal, onde todos são responsáveis por identificar melhorias no dia a dia”, afirma João Guilherme Brenner, CEO da Nutrimental desde 2001. De acordo com o consultor Osvaldo Nieto, sócio-fundador da Baker Tilly, parceira da DINHEIRO no anuário AS MELHORES DO MIDDLE MARKET, é a qualidade dos produtos da companhia que a faz ter sucesso.

“Como não tem o poderio publicitário das grandes multinacionais, seu produto da marca Nutry acaba sendo seu melhor marketing”, diz Nieto. Comparada a gigantes do porte da suíça Nestlé, dona de um faturamento de US$ 100 bilhões, no ano passado, e da americana Kellogg’s, com US$ 14,6 bilhões, a Nutrimental é pouco mais do que uma empresa nanica. Seus produtos, porém, não só incomodam a concorrência (sua barrinhas Nutry detêm 25% do mercado, contra menos de 20% das duas competidoras somadas), como a tornam alvo de aquisições. 

“Não temos o interesse de vender a empresa, pois podemos crescer por nós mesmos”, diz Rocha Loures. Com a desvalorização do real, a Nutrimental deve aumentar a fatia da exportação em seu faturamento, atualmente em 15%. Da mesma forma que atua no Brasil, a empresa quer conquistar mercados menos badalados no exterior. A África, por exemplo, é o continente que mais importa suas linhas de farinhas infantis – que englobam desde mingau de aveia até flocos de cereais e respondem por 40% das receitas totais.

Cuba e Costa Rica são os principais clientes na América Central, segunda região mais importante para a Nutry. O apetite, contudo, não deve parar por aí. A empresa vislumbra uma possível aquisição nos Estados Unidos em um futuro não tão distante. “Era para ter ocorrido antes, mas a desvalorização do real não ajudou”, afirma Rocha Loures. “Mas é algo que continua firme em nosso radar.”

Fonte: Isto É Dinheiro

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