Vale a pena começar esse artigo com uma clara definição das principais atribuições de um gerente: gerir pessoas, gerir riscos e tomar decisões. Com certeza gerir pessoas é uma atribuição facilmente aceita pelo gerente como sua, até porque as empresas sérias e bem estruturadas investem pesadamente em qualificar seus aspirantes à gestão e gestores. Muitos não fazem uso, mas os meios para a gestão são dados e isso influencia diretamente a cultura organizacional, criando a clara correlação: gerente gere pessoas.
Porém, como ficam as demais atribuições? A gestão de riscos em geral é tema integrante de alguns treinamentos coorporativos, mas com certeza com papel coadjuvante. Certamente falaram sobre ela naquele último treinamento de gestão de projetos que você fez. Em geral, tópicos extremamente úteis são abordados, tais como a mensuração matemática do risco (probabilidade de ocorrência x impacto) e técnicas de gestão de risco (mitigação, aceitação, terceirização, etc). São ferramentas necessárias, principalmente durante a fase de planejamento de um novo projeto e para a realização de controle do mesmo, porém e como ficam os “soft skills” relacionados à gestão de risco? Existe controle absoluto dos riscos? Existe gestão com risco zero?
No dia-a-dia do gerente a tomada de decisão e a gestão de riscos andam lado a lado. Chegam sem muito aviso através de perguntas como: “Chefe, posso aceitar o pedido do cliente de antecipação do pedido?” ou “Fulano, podemos aceitar um pedido extra de 1000 peças para esse mês?”. Para qualquer resposta que se dê para essas perguntas, ou seja, para qualquer decisão, sempre estarão implícitos riscos e oportunidades (ou riscos positivos, como gostam alguns) . Vejamos o primeiro caso: se aceito a antecipação do pedido e não entrego, perco o cliente, pago uma multa. Porém se entrego o pedido antecipado, fidelizo o cliente, aumento sua satisfação, posso até cobrar um valor extra por uma próxima antecipação. Trabalhando com fatos e dados, buscaremos mensurar probabilidade de falhar e o impacto financeiro da não entrega. Mas como mensurar do outro lado da moeda a satisfação do cliente ou sua fidelização? Há como mitigar, aceitar, terceirizar? O que se aplica?
O fato é que a capacidade de tomar decisões é um “soft skill” muito desejado no gerente mas pouco treinado, até porque como é que se ensina tomar decisões? A neurociência tenta explicar o processo decisório do ser humano a um bom tempo, mas o tema em geral esbarra em questões sociais como a formação do indivíduo, suas experiências e principalmente na sua aptidão para assumir as consequências de qualquer que seja o produto de uma decisão. Trata-se de uma mazela moderna dos gerentes o desejo de trabalhar com risco zero e para isso se valem de várias artimanhas, tais como:
- delegar pra cima ou pra baixo
- requerer um grande número de informações, protelando a decisão até que elas não se torne necessária
- buscar dentro da burocracia coorporativa motivos para o qual esta decisão não deve ser tomada
Um dos grandes valores da tomada de decisão consequente e da boa gestão de risco é a validação de você, caro gestor, como líder. Antes de tudo deve-se lembrar que sua remuneração e seu pacote de benefícios são diferenciados não porque você se trata de um indivíduo iluminado elevado ao olimpo para reinar, e sim porque a corporação entendeu que estas atribuições podem ser indicadas à você. Seu time espera de você esta aptidão e em muitos momentos te testa para ver se estão sob solo firme. Sua diretoria confia que você pode ter alguma alçada de responsabilidade e que não será sobrecarregada com todas as decisões que lhe cabem.
E então, o que fazer? Algumas atitudes são fundamentais para que os riscos e oportunidades sejam mapeados e o processo decisório ocorra apropriadamente:
- Reuna informações, levante dados, se valha dos métodos necessários para a adequada definição do problema ou da situação que se impõe.
- Use sua vivência para suportar a decisão, afinal você é um profissional presumidamente sênior.
- Se a decisão em questão envolver áreas as quais você não domine, aconselhe-se com especialistas, debata com o seu time ou até mesmo discuta o tema com o seu superior.
- Decida no tempo correto. Não procrastine, não se delongue! O efeito de sua decisão é potencializado pelo timing exato. A demora em geral estimula o surgimento de novos riscos.
- Me repito: não delegue a decisão. Nem para seu time, nem para seu superior. Fazendo isso sua imagem de líder é colocada em cheque.
- Por fim, uma vez tomada a decisão, monitore os riscos. Defina claramente estratégias para lidar com aqueles que possuam alto impacto e/ou alta probabilidade de ocorrência.
Existe uma vasta literatura que aborda o processo decisório de forma sistêmica, demonstrando fluxogramas, midmaps e outras ferramentas que possam a vir suportá-lo. Valha-se das ferramentas que melhor lhe aprouverem, mas nunca se esqueça, antes de tudo a capacidade de decidir é um “soft skill” que com todos os outros deve ser exercitado na prática. Assuma que o erro é possível e lide com eventuais consequências de suas decisões, buscando entender a relação de causa e efeito entre uma eventual falha e suas atitudes.an>