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Paulo Seabra fala sobre os efeitos da crise econômica na indústria

Paulo Seabra, Diretor Geral na América do Sul da Novolipestsk Steel, ou NLMK Group, como é conhecida, fala sobre a crise econômica e sobre os planos da companhia, que é líder mundial na fabricação de aço.

Entre os desafios do setor da indústria em meio a tantos obstáculos da atualidade, Seabra conta para a equipe do Indústria Hoje sobre os planos de expansão da empresa nos próximos dois anos. Confira entrevista exclusiva!

1- Existem muitas avaliações de economistas sobre a crise atual. Você acredita que estamos enfrentando realmente uma época de recessão?

Paulo Seabra: Definitivamente sim, estamos enfrentando uma crise muito grave. Pela primeira vez, desde 1930, o PIB brasileiro deve cair por 2 anos consecutivos. Entre 35 países analisados, nosso desempenho do PIB só foi melhor que Rússia e Ucrânia, dois países que estão enfrentando grandes dificuldades por fatores de grande relevância, o que não é o caso do Brasil.

A indústria brasileira já vem sendo afetada há muitos anos, o que se agravou dramaticamente no último ano, a ponto de muitas empresas contabilizarem queda na produção em percentuais altíssimos, na ordem de 50%, 60%, 70% e até 80%, fato este que nem eu nem a grande maioria das pessoas que conheço nunca vivenciaram anteriormente durante sua vida profissional. Um dado alarmante é que esta crise já está afetando até os resultados dos serviços.

Desde 1990 não havia um recuo no PIB dos serviços, o qual haverá este ano. Ou seja, quebramos 25 anos de crescimento contínuo no serviço. Vale ressaltar que a crise política está agravando fortemente a crise econômica. A solução para a crise econômica passa pelo Legislativo e pelo Executivo. Será necessário um fato de grande relevância para se reestabelecer a ordem institucional a qual propiciará que o Brasil encontre novamente o caminho da estabilidade, desenvolvimento social e crescimento econômico.

2-Diante da perspectiva econômica nacional, mesmo assim algumas empresas estão investindo aqui. Em sua opinião, o Brasil continua sendo uma boa opção para se investir?

Paulo Seabra: Na visão estratégica da NLMK, de longo prazo, considera-se que a economia Brasileira vai se recuperar. Outras crises já ocorreram e passaram. Entendemos que as parcerias que a NLMK vem construindo no Brasil em um momento de grandes desafios econômicos, fomentarão um crescimento vertiginoso da empresa no mercado brasileiro no momento em que ocorrer a recuperação.

O Brasil detém a 7ª maior economia global, logo, é um mercado muito importante para não se participar. Adicionalmente, nosso planejamento não se limita apenas ao Brasil, mas abrange um plano de startup em toda a América do Sul, sendo o Brasil a base principal. Em 2016 e 2017 iniciaremos operações em pelo menos mais 3 países da América do Sul.

Por fim, nosso nicho são os aços especiais e no Brasil ainda há uma carência de oferta destes tipos de aços, principalmente por limitação na produção nacional e pouca concorrência internacional.

Logo, independente da crise econômica, hoje há um mercado que necessita de opções de fornecedores de aços especiais com condições comerciais competitivas e de qualidade para justamente apoiar o aumento da competitividade da indústria Brasileira, que é o que o Brasil precisa muito hoje para reverter o cenário atual.

3- Em sua opinião, ainda existem boas oportunidades para o novo empreendedor ou estariam, os microempreendedores, saturando o mercado?

Paulo Seabra: Acredito que ainda haja espaço para empreendedores de todos os tamanhos. As pequenas e médias empresas são os maiores empregadores no Brasil, logo, possuem um papel fundamental na nossa matriz econômica e social. Sempre haverá espaço para novas ideias que agreguem valor no segmento que atuar. Em toda e qualquer crise pode-se encontrar oportunidades também.

Obviamente as oportunidades são reduzidas em momentos de crise, porém não desaparecem por completo. Também é fato que o crescimento de microempreendedores é resultado do desemprego o qual empurra as pessoas a buscarem alternativas quando não se consegue uma recolocação no mercado de trabalho, e a solução mais escolhida é abrir seu pequeno negócio.

4- Segundo análises de organizações como o SEBRAE, as micro e pequenas empresas estão conquistando um espaço que antes era exclusivo das grandes companhias. Podemos chamar isso de uma evolução do mercado?

Paulo Seabra: Com certeza. Uma das razões para isso se dá pelo fato de que com o mercado cada vez mais competitivo, torna-se um diferencial a possibilidade de se oferecer um serviço ou produto customizado, que atenda especificamente a necessidade de um determinado cliente.

De forma geral, as micro e pequenas empresas estão mais preparadas para oferecer este tipo de solução por ter uma estrutura mais enxuta, leve e com decisões mais rápidas que muitas vezes passa pela mão de uma única pessoa. As médias e grandes empresas, por questões estruturais, caminharam para uma direção de oferecer produtos e serviços padronizados.

5- Quais são os maiores desafios para a indústria nacional na entrada de 2016?

Paulo Seabra: O maior desafio segue sendo o aumento da produtividade. A indústria brasileira precisa aumentar a produtividade para voltar a ganhar participação no PIB brasileiro e também para voltar a conquistar mercados internacionais. Importante ressaltar que o aumento da produtividade não depende apenas da indústria.

O governo precisa definitivamente fazer sua parte oferecendo infraestrutura adequada para uma logística eficiente e de baixo custo, sem se esquecer da necessidade história por uma reforma tributária, pois nunca seremos um pais competitivo com uma carga tributária tão incrivelmente alta. O estado precisa diminuir. Estado grande resulta em uma sociedade pequena.

6- Quais são, em sua opinião, os segmentos que ainda têm chance de bons resultados em 2015?

Paulo Seabra: No que tange à indústria, vemos que o segmento de energia eólica apresentará um bom resultado em 2015. Há outros mercados, que podemos chamar de “sub-segmentos”, os quais poderão ainda apresentar um resultado satisfatório neste ano, que é o caso do segmento de peças de desgaste para manutenção em mineradoras.

Devido ao baixo preço do minério de ferro, de forma geral as mineradoras postergaram ou cancelaram investimento em novos equipamento, e, como resultado, tiveram que investir em reformas dos equipamentos existentes.

7- Em tempos de crise, o quadro de colaboradores é o primeiro alvo a sofrer corte ou essa seria apenas a parcela aparente? Quais são as estratégias de reestruturação interna utilizadas antes de reduzir a equipe?

Paulo Seabra: Na minha opinião, vejo que o empresariado e multinacionais estão tendo um comportamento um pouco diferente nesta crise. Lembro que a crise na indústria já vem acontecendo há anos, a qual foi agravada no último ano de forma alarmante.

Logo, as demissões que estão atualmente acontecendo são resultados do fato de que as ações anteriores não surtiram o efeito esperado visto a gravidade sem precedentes desta crise.

Pudemos observar que a grande maioria das empresas tentaram muitas outras estratégias de redução de custo antes de iniciarem as demissões, como, por exemplo, cancelar investimentos, redução de custos na busca de novos fornecedores mais competitivos, férias coletivas, redução de jornada, etc.

Logo, a redução no quadro dos colaboradores não é e não foi o primeiro alvo nesta crise atual, mas, foi uma consequência inevitável de uma crise sem precedentes na indústria brasileira, para a qual, uma série de ações anteriores não foram suficientes.

8- Vale a pena investir na terceirização de serviços e produção?

Paulo Seabra: Esta pergunta não é tão simples de se responder pois depende de muitas variáveis que podem em determinado momento sugerir a viabilidade ou não de terceirizar serviços e produção.

No atual momento eu diria que sim, pois, de forma geral, seria prudente que as empresas mantivessem o nível mínimo de custos fixos visando estar preparada para atravessar esta crise em cenários de queda brusca no faturamento como consequência da queda nas vendas.

Mas futuramente, com a demanda retornando, talvez a terceirização não seja a melhor estratégia pois pode resultar em custos mais elevados do que gerir e executar os serviços e produção internamente.

9-Em sua opinião, quais são as habilidades necessárias para ser um bom gestor de uma grande empresa?

Paulo Seabra: Vejo que cada vez mais exige-se uma habilidade do gestor construir uma parceria com seus liderados, o que transcende a gestão de liderança atualmente conceituada. O bom gestor deve acima de tudo ser um desenvolvedor de pessoas e saber delegar responsabilidades e não simplesmente tarefas.

O gestor deve ter em mente que liderar por medo ou esconder informações são atitudes que refletem um resultado apenas no curto prazo, porém, no longo prazo, a empresa vai perder talentos e nunca vai ter um nível de comprometimento dos seus colaboradores do que se comparado com aqueles que trabalham com líderes justos, inspiradores e que demonstram se interessar tanto pela carreira quando pela qualidade de vida do funcionário.

10- Fale sobre os planos da NLMK para os próximos anos.

Paulo Seabra: Com relação ao Brasil, planejamos que 2015 seja um ano de consolidação da operação; que 2016 seja um ano de estabilização e que em 2017 nosso faturamento seja triplicado se comparado com o ano de 2015. Em paralelo, em 2016 e 2017 iniciaremos operações em pelo menos mais 3 países da América do Sul.

Nosso plano é se consolidar como líderes no mercado de aços especiais até 2020, pautado por presença nestes países com operação própria, grande diversificação de segmentos de atuação e vasta gama de produtos oferecidos.

11- Quais são os principais desafios em um projeto de expansão como este?

Paulo Seabra: O maior desafio no Brasil é, sem dúvida, nenhuma superar a instabilidade e barreiras ao produto importado. Há a necessidade constante de se revisar budget, custos, preços de venda, mudanças na legislação, etc, quando se poderia dedicar todo este tempo para desenvolver negócios e prestar um melhor serviço para seus clientes. O fator cultural é um grande desafio no Brasil também.

Para os demais países da América do Sul, as barreiras são menores pois são países com nível de abertura econômica muito maior do que aqui. Entretanto, muitos dos países possuem um parque industrial e produtos que apresentam uma defasagem importante se comparado com o mercado Brasileiro, Norte Americano e Europeu.

Logo, desafios importantes a serem superados passarão, por exemplo, pela quebra de paradigmas, pois, o uso de aços especiais de alta resistência permite que a indústria produza produtos mais leves e mais resistentes, entretanto, para isso, muitas vezes o design do produto precisa ser alterado e grandes reduções de espessuras são possíveis.

Estas ações demanda um processo de maturação para que os costumes e paradigmas possam ser alterados.

Por Vivian Fiorio

 

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