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Pedalar é o negócio

A rotina do executivo paulistano José Antônio Machado, superintendente de compliance do Santander, mudou completamente em 2009. Naquele ano, o banco espanhol transferiu todos os seus seis mil funcionários, até então espalhados por vários escritórios na capital paulista, para a nova sede, uma moderna torre espelhada às margens do Rio Pinheiros, na zona Sul da cidade. Machado, que antes se deslocara diariamente de metrô da Vila Mariana até Avenida Paulista, no trajeto casa-trabalho-casa, teve de alterar seu percurso. Tentou automóvel, ônibus e trem.

As viagens, no entanto, chegavam a demorar mais de uma hora, em cada trecho. Foi aí que a bicicleta entrou na sua vida. Arriscou realizar o caminho com a magrela e, desde então, gasta 20 minutos até o escritório. “Minha disposição aumentou e o meu desempenho no trabalho melhorou”, afirma Machado. O uso da bike como atividade física já não é novidade. O que se tem observado cada vez mais, no entanto, é a utilização das pedaladas como meio de transporte. Parte desse fenômeno, estimulado pela crescente dificuldade de utilização do automóvel como transporte individual, especialmente em São Paulo, é turbinado pela popularização das ciclovias.

Nos últimos dois anos, os espaços reservados exclusivamente para o tráfego de bicicletas aumentou de 63 para 265 quilômetros. A meta do prefeito da cidade, o petista Fernando Haddad, é que a malha alcance 400 quilômetros até o final do ano que vem. Brasília e Rio de Janeiro são outras que investiram pesado no modal. A capital federal aparece na primeira posição do País, com 440 quilômetros, enquanto os cariocas ocupam a segunda colocação, com 374 quilômetros. Diante deste cenário seria natural imaginar que a indústria de bicicletas estivesse crescendo no mesmo embalo. Seria.

Até agora, porém, a popularização das ciclovias não mudou a rotina de fabricantes e das lojas, conhecidas como bike shops, uma espécie de boutique para as bicicletas. Os números mostram até o contrário. Nos últimos cinco anos, houve uma queda de 25% na quantidade de bicicletas vendidas no País. Redução similar foi vista na produção do Polo Industrial de Manaus, onde estão instaladas todas as fabricantes brasileiras. “As ciclovias trouxeram uma nova esperança ao setor”, afirma José Eduardo Gonçalves, diretor executivo da Abraciclo, que representa motos e bicicletas. “Mas ainda é preciso criar a cultura do ciclismo.”

Para isso, o setor conta com a ajuda das grandes empresas. Machado, por exemplo, sofria com a falta de estrutura do prédio do Santander para os ciclistas. O banco agiu rapidamente e instalou vestiários com armários. Tal estratégia não é nenhuma novidade para a Caloi, maior fabricante brasileira de bicicletas, que, em 2013, foi adquirida pela canadense Dorel, dona de um faturamento de US$ 2,6 bilhões, no ano passado. Desde o início de suas operações, a Caloi não só fornece estrutura para os seus funcionários como os estimula a usarem seus produtos. Já no quesito vendas, o executivo Eduardo Rocha, diretor comercial da Caloi, afirma que o faturamento da empresa tem crescido, mas ainda está longe do ideal.

“O que mudou foi que as pessoas estão procurando modelos mais sofisticados, com maior valor agregado”, diz Rocha. “Mesmo que as vendas caiam em volume, o faturamento cresce.” E a empresa tem buscado exatamente este perfil de cliente. Além da marca própria, a tradicional Caloi, a empresa representa linhas estrangeiras da Dorel como Mongoose, GT, Schwinn e Cannondale, considerada por muitos uma espécie de Fórmula 1 em duas rodas. “Temos bicicletas que custam até R$ 50 mil”, afirma o Rocha. O varejos também têm apostado nas magrelas mais caras. É o caso das bike shops.

Com seis anos de existência, a paulistana Free Cycle vende duas mil bicicletas por ano, a maioria delas importada, com um tíquete médio de cerca de R$ 2 mil. Além disso, também possui uma oficina especializada. O cenário, contudo, é mais desafiador diante da disparada do dólar frente ao real. “Vínhamos bem até fevereiro, mas o aumento do dólar freou nosso crescimento”, diz Ricardo Fiorini, dono da loja. Enquanto o mercado não reage, outras empresas tentam colocar mais gente nas ciclovias.

Numa ação de marketing, o Itaú fornece gratuitamente, desde 2009, bicicletas em nove cidades do País. Pelos cálculos do banco, foram realizadas 8,6 milhões de viagens nos últimos três anos. Apesar do logo do banco exposto em todas as bicicletas, o diretor de relações governamentais e institucionais, Cícero Araújo, pondera que não é uma simples campanha de marketing do Itaú. “Temos uma causa e queremos a bicicleta a fazer ainda mais parte da vida da população”, afirma Araújo.

Fonte: Isto É Dinheiro

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