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Porque acredito que as empresas Multinacionais devem ajudar mais a comunidade local?

Esta pergunta foi feita a mim durante um evento de Recursos Humanos em Curitiba. Creio que o fato de ter sido mencionado no início da apresentação que desenvolvi toda minha carreira corporativa em empresas multinacionais e que hoje trabalho com empresas nacionais e empresas familiares brasileiras tenha provocado esta curiosidade.

Fiquei muito feliz com a pergunta, pois já há muito anos, defendo a ideia de que empresas multinacionais devem investir mais nas comunidades locais do que as empresas nacionais. Acredito que seja até mesmo uma obrigação que deveria ser parte do processo de investimento no pais, principalmente porque estamos vivendo um momento de grande transição política e social no Brasil. É mais um ponto a ser considerado para a modernização do país.

O que me leva a pensar desta maneira são os fatos que observei e vivenciei ao longo destes anos de vida profissional em empresas americanas, japonesa e sueca. Do mais poderoso país capitalista ao exitoso país socialista, passando pelo mais equilibrado entre estes dois pontos, o lado empresarial tem sido negativamente muito similar entre eles. Não é nenhum segredo que de tempos em tempos as empresas multinacionais são acusadas pela sua presença agressiva no mercado.

Ressalte-se que muitas empresas multinacionais realmente investem na comunidade ao seu redor, através de promoção de educação com escolas públicas abrigadas nas instalações da empresa, através de assistência médica e odontológica proporcionada com centros de saúdes construídas e/ou mantidas pela empresa e através de abrigo a menores em condições de risco social. Muitas vezes as empresas não divulgam estas atividades publicamente para evitar que sejam mal compreendidas ou porque apenas querem fazer o que acreditam que é certo.

Também é notório que algumas proporcionam programas de previdência fechada raramente encontrada em empresas nacionais.

Ainda assim é preciso considerar alguns aspectos fundamentais da presença de uma empresa multinacional no mercado. Em primeiro lugar, as empresas tomam as oportunidades oferecidas pelo mercado para realizar seus objetivos econômicos, pagando os tributos devidos e propiciando empregos aos locais. Mas o resultado final da atividade é repatriada para o pagamento do capital e do conhecimento investido pelo acionistas estrangeiros. É fato que ocorre o reinvestimento muitas vezes, mas os seus lucros realizam também muitos benefícios nos países de origem.

No entanto, um aspecto importante que provoca uma percepção negativa numa parcela da população mais nacionalista, protecionista ou socialista (local) é o fato de que a população local normalmente não tem a oportunidade de participar do investimento e do resultado como acionistas. Já não bastam mais os benefícios “normais” como pagamento pelo uso dos recursos e pela exploração das oportunidades de mercado.

A contribuição à sociedade local necessita ser aumentada para melhorar as condições sociais e de saúde, previdenciárias, educacionais e econômicas. A formação de riqueza que no caso de uma empresa local poderia ser redistribuída sob outras formas de investimentos e consumos locais, mas que no caso das empresas multinacionais é remetida, traz uma insatisfação nem sempre muito bem identificada.

O valor da presença das empresas multinacionais é sem dúvida grande e deveria ser melhor reconhecida pela sociedade. Mas há também este tema intocado que poderia efetivamente melhorar a percepção sobre as empresas multinacionais através da participação de investidores e funcionários nos resultados da empresa através de investimentos.

Creio que esta seja uma grande oportunidade de modernização da relação com o mercado e com os trabalhadores brasileiros. Creio que o nível de maturidade alcançada já não se contenta apenas com emprego e salário. A PLR – Participação nos Lucros e Resultados deveria ser expandida para a possibilidade dos trabalhadores terem também o benefício de serem investidores nas empresas em que trabalham e desenvolverem um nível de interesse e de comprometimento que dizem que só os donos possuem.

Isto deve valer também para as empresas nacionais e familiares que verdadeiramente querem ser grandes e importantes, seguindo os trilhos das empresas nacionais que já servem de modelo e exemplo. Embora muitas empresas jovens resistam a abrir o seu capital para buscar os recursos necessários para o crescimento, muitas vezes enxergam um fundo de investimento ou um “equity fund” como uma solução, mesmo comprometendo o controle de um empreendimento promissor. Socializar a propriedade da empresa é uma forma melhor de servir ao mercado e promover o crescimento.

Num mundo cada vez mais aberto aos negócios e com alta disponibilidade de capital, está faltando uma reflexão mais profunda sobre a relação com o mercado. Investidores, clientes e a força de trabalho estão mais consciente e melhor informada do que em qualquer outra época.

Como em nossas casas, quando a visita resolve permanecer por longo período, ela deve assumir algumas obrigações e contribuições e ser parte da comunidade.

Yoshio Kawakami
Setembro, 2016.

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