Já passados alguns anos de experiência de empresas multinacionais, vivendo poucos bons momentos e muitos momentos de apreensão, finalmente você chegou ao momento de ouro do Brasil!
Voce é o “native executive” num país que está “bombando”, certo?
Empresas de todas as partes do mundo dirigem os seue olhares para o mercado brasileiro e para a subsidiária ou para a filial brasileira. Decidem se investem, se vendem, se compram, se expandem ou se fazem “merge” da operação na grande potência tropical que brilha nas capas das revistas econômicas mundiais.
Não seria normal imaginar que o executivo brasileiro estivesse vivendo seus dias de glória? Afinal hoje é quem paga muitas das contas da corporação, certo? Talvez somente aqueles que estão nas posições chaves destas unidades estejam vendo um cenário mais realista e menos glamuroso.
Ah! Mas como? Não são os heróis bem tratados? Como funciona a realidade das empresas multinacionais? Paradoxalmente, nem tudo são flores, ou melhor, nem são tantas flores assim.
Muitas empresas multinacionais literalmente “espremem” as suas unidades como parte da crise global (afinal a corporação passa por um momento crítico) e não entendem as oportunidades locais. Também pode haver um pouco de inveja e temor? Claro, imagine você se todos bateriam palmas para os “emergentes” que podem ameaçar o seu emprego ou suas posições! Aliás, a cada dia, mais executivos locais reclamam do aumento injustificado de pressão dentro das organizações.
No caso de Merge & Aquisition, empresas compradoras (e seus executivos) massacram os “comprados”. Claro, isso nunca foi novidade, mas hoje em dia as coisas andam mais selvagem, na medida em que qualquer redundância esbarra na impaciência de alguém que necessita mostrar serviço rapidamente.
OK, a vida é assim mesmo! Mas você já parou para pensar porque você está onde está? Porque te manteriam como executivo da empresa e não te substituem por um dos tantos ex-pat interessadíssimos em vir ao Brasil (pelo menos por enquanto)?
Hum… Não tem certeza? É uma situação perigosa, não acha? Se o seu valor agregado no processo não é sequer claro para você, imagine para o pessoal “lá de fora”! Pode ser que seja mais claro para eles do que para você? Pode! Mas é melhor refletir um pouco sobre a expectativa de valor agregado pelo “native executive”.
Sabe porque você existe como executivo? Não é porque você conhece os mistérios de se fazer negócios e ganhar dinheiro num país complicado, com uma legislação confusa e difícil de interpretar? E o conhecimento do comportamento dos clientes locais, sempre com reações fortemente afetadas pelos seus valores culturais e éticos não é importante? Mais ainda, não seriam importantes o seu conhecimento e a sua experiência de negócios locais que asseguram que a empresa não se meta em confusões legais, éticas, morais, ambientais, econômicas, políticas, etc?
Pelo menos, pense porque você não poderia ser substituído por um executivo do Head Quarter tão facilmente, ou como fazer para que não possam…
É no conhecimento territorial que reside o principal valor do “native executive” das empresas multinacionais. É claro que há empresas tão grandes e globalizadas que não são tão dependentes de uma só pessoa. Neste caso, há outros executivos e profissionais que atendem estas necessidades. Há outras empresas cujo negócio está relacionado principalmente com outras empresas, muitas vezes do mesmo país de origem, com as quais fecham negócios “lá fora” e o valor do “native executive” está na capacidade de integração e representação local da estratégia corporativa.
Se você estiver chegando lá, qual deve ser o seu cuidado no desenvolvimento do seu “know-how” diferenciador? Um sólido conhecimento dos fatores peculiares do país e da região! Se você não for considerado um “expert” da região e do país onde você atua, seja na condição de “native” ou “ex-pat”, pode ser que você acbae sendo apenas um peão no tabuleiro de xadrez corporativo.
Há posições na empresa cujo principal valor é o domínio do conhecimento de tecnologia, processos, metodologias e procedimentos internos da empresa. Ainda ssim, você poderá ser um detentor de um conhecimento e de uma experiência única em tratar de relações trabalhistas ou ser detentor de uma relação de confiança com os empregados que propicie um rodar tranquilo da unidade local.
Mas as relações com o mercado em geral, seja com clientes, com fornecedores, com o sistema financeiro, com a força de trabalho, com os políticos, com as autoridades reguladoras, com os meios de comunicação, com as forças religiosas, com os ativistas, as ONG´s e até mesmo com as parcelas problemáticas da sociedade (outras forças) podem constituir um valor difícil de ser substituído nas empresas.
Não se trata de estabelecer relações obscuras para proteger o seu emprego, mas trata-se de adquirir um conhecimento verdadeiramente valioso para as empresas, que nem precisa ser para o seu atual empregador.
Certamente este “know-how” somente apresenta valor quando reconhecido pelo “pessoal de fora” ou pelo mercado em que você atua.
Tenho acompanhado alguns casos interessantíssimos de executivos em alguns países emergentes que simplesmente adquirem o staus de “guru” e mesmo após a aposentadoria, pemanecem como “advisor” para as organizações. Há os mais exitosos que mantém o título anterior (President, Managing Director, General Manager ou Country Manager), mesmo depois de deixar as responsabilidades diretas sobre as operações da empresa.
Claro que muitos destes se convertem em algum tipo de lenda na empresa por sobreviverem a todas crise e mudanças decorrentes. Não são raros os casos de executivos que sobem, descem, são criticados ou são reverenciados, em diferentes fases e sempre seguem entre as posições chaves na empresa. Você não conhece nenhum destes? Porque eles conseguem permanecer nestas posições?
O importante é compreender que o seu valor cresce e você se torna menos vulnerável às crises e mudanças corporativas na medida em que o seu mix de
conhecimento técnico, capacidade de liderança, reconhecimento do mercado e um conhecimento local/regional diferenciador se tornam mais evidentes para um número maior de pessoas dentro e fora da corporação.
Este valor serve para quando o ambiente é tão positivo como agora, mas também serve quando a credibilidade para explicar a situaçao indesejável passa a ser o fator mais importante. Já pensou no assunto?