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Qual o futuro das Megacidades?

32.6 trilhões litros.

Isso é, aproximadamente, a quantidade de áqua perdida anualmente por vazamentos em canos antes de chegar às casas, negócios e hospitais. De outra forma, se você pudesse detectar esses vazamentos e conectá-los, seria possível quase encher, até a borda, a barragem de Três Gargantas, na China,*

O problema de vazamentos de água, destaca um dos maiores desafios que enfrentaremos nas próximas décadas. Basicamente, nós vamos ter de descobrir novas maneiras de trazer recursos básicos, como alimentos, energia e água a um número crescente de pessoas que cada vez mais vivem nos grandes centros urbanos.

Atualmente, aproximadamente 54% da população mundial vive em áreas urbanas, um número que provavelmente vai subir para 66% em 2050. A China, sozinha, terá 221 cidades com mais de um milhão de pessoas em 2025 (hoje, a Europa tem apenas 35 e o Brasil, 17). O número de megacidades com mais de dez milhões de habitantes vai mais que dobrar nos próximos anos.

A seca devastadora em São Paulo é um aviso claro de como o futuro poderia ser para muitas pessoas.

A boa notícia é que podemos amenizar o impacto de muitos desses problemas se aproveitarmos bem os dados. As tecnologias digitais, com sofisticação crescente e custo decrescente, vão se tornar uma plataforma para o consumo de recursos e compartilhamento do espaço físico de maneiras mais econômicas e convenientes. Um planeta com 8 ou até 9 bilhões de pessoas será conduzido através de dados.

Veja a experiência da Maynilad, a empresa de água da Manila. A Maynilad atende a milhões de clientes espalhados em mais de 540 quilômetros quadrados: ela administra quase 7.500 quilômetros de tubulações de água e esgoto e 19 reservatórios. Em 2007, quase 20% dos cidadãos no seu território de serviço não podiam ser atendidos, aproximadamente a metade não tinha serviço 24 horas e mais da metade não tinha pressão suficiente. Também era claro que a Maynilad não tinha fundos para investir em sua infraestrutura física: o custo dos tubos tinha aumentado em 56%.

Como parte de uma reestruturação operacional, a empresa seguiu um programa agressivo para monitorar índices como fluxo de água e, ao mesmo tempo, mapeando o consumo versus geografia. Em 2013, estava atendendo a 94,7% dos cidadãos no seu território de serviço, 97% tinham serviço 24 horas por dia e 99% tinham pressão suficiente. Ao mesmo tempo, a Maynilad recuperou 640 milhões de litros de água tratada, reduzindo assim as perdas em 27%, aumentando a sua base de clientes de 6.400.000 para 9.000.000. Água foi feita com o software.

Ou considere furto de energia. Mais US$ 89 bilhões em energia são furtados a cada ano e a maior parte disso na Ásia, África e América Latina, regiões onde a eletricidade é extremamente necessária. Já foram desenvolvidas tecnologias que podem detectar remotamente padrões de uso incomuns e impedir os ladrões, o que por sua vez pode estimular investimentos em redes, energia solar e armazenamento de energia. Redes de gás natural terão de ser continuamente monitoradas quanto a possíveis vazamentos e às melhores formas de utilizar a matéria-prima.

Essas tecnologias de fato serão uma porta de entrada para a revitalização econômica. Estudos mostram que os edifícios energeticamente eficientes alcançam taxas de aluguel mais elevadas e muitas vezes são alugados com mais rapidez: os proprietários afirmam que, em média, seu ROI é 19,2% maior do que em projetos normais. Sistemas de estacionamento inteligentes podem ajudar a reduzir emissões, consumo de energia e engarrafamentos. Universidades, como a de Tsinghua, se tornarão a fonte de novos empreendedores desenvolvendo, por exemplo aparelhos de ar condicionado inteligentes e projetos de micro-redes.

Nada disso, é claro, vai acontecer da noite para o dia. Sistemas avançados de iluminação e de gestão de energia terão que passar por vários testes-piloto antes de penetrarem no mercado. Os primeiros veículos “inteligentes” amplamente difundidos provavelmente não serão veículos de passageiros. Eles serão navios, trens e caminhões operando, primeiramente, em ambientes controlados e seus desempenhos serão dissecados de várias maneiras. Fornecedores de tecnologia também vão ter que descobrir novos modelos de negócios – oferecer como um serviço? Arrendamento com opção de compra? – de modo a facilitar a adoção dessas inovações.

Privacidade e segurança também têm de ser considerados. Quando páginas da web ficam fora do ar, as pessoas fazem piadas sobre isso na Internet. Se for o sistema de estações do metrô, os ânimos se inflamam.

Novamente, tudo isso não será fácil. As próximas décadas serão um tempo de tentativa e erro. Mas eu acredito que nós vamos descobrir que temos mais recursos do que pensávamos.

Michael Kanellos é especialista da indústria de Saneamento na OSIsoft.

Quer saber de mais casos como o da Maynilad? Dá uma olhada aqui.

* O mundo perde 32,2 trilhões de litros por vazamentos em canos por ano. A Barragem de Três Gargantas comporta 39,2 bilhões de metros cúbicos ou 39,2 bilhões de litros.

Por Michael Kanellos

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