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Redução de estoques e alta de exportações puxaram indústria

A gradual normalização de estoques e o avanço nas exportações de alguns setores ajudaram a impulsionar o crescimento de 1,4% na produção industrial brasileira na passagem de fevereiro para março, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No entanto, o principal combustível foi a base de comparação deprimida, ressaltou o pesquisador.

“Essa perda recente do setor industrial é um fator importante a ser considerado para a melhora nesse mês específico. A magnitude de crescimento foi importante, remete a um passado da série histórica. Mas não muda a leitura que estamos fazendo há algum tempo. Até porque, nas demais comparações, a produção continua bastante negativa, sobre um ano que já se mostrava com um comportamento de queda importante. A despeito do crescimento na margem da série, a leitura continua a mesma (de tendência de queda)”, afirmou Macedo.

O pesquisador, no entanto, diz que o cenário de março é melhor, já que o avanço na produção alcançou 12 dos 24 ramos pesquisados. “A gente passou um 2015 inteiro com resultados negativos, então essa predominância de atividades em alta é positiva”, disse ele.

Segundo ele, alguns setores estão normalizando os estoques que permaneceram elevados durante algum tempo, como o de equipamentos de informática e de alimentos.

“Por outro lado, a indústria automobilística, considerando importância que ela tem dentro da produção e em função do seu encadeamento, é setor que ainda se encontra em patamar acima de seu padrão habitual de estoques”, contou.

Os grupos relacionados com exportações estão dando alguma contribuição positiva para o desempenho da indústria, mas ainda pontualmente.

“Você observa sim melhoras em determinados grupamentos, determinadas classes de indústrias, mas que são totalmente insuficientes para reverter essa trajetória (de queda)”, avaliou Macedo.

Fabricantes de carnes de bovinos, de aves e de celulose são alguns que colhem resultados positivos com a mudança de patamar do câmbio.

“Mas isso é muito pequeno dentro do contexto industrial, onde você tem três quartos dos produtos investigados com queda na produção. É uma melhora muito pontual”, definiu o pesquisador.

Macedo defende que a contração no mercado doméstico ainda é preponderante para o resultado da indústria, como consequência do crédito mais caro e restrito, inflação mais alta, e deterioração do mercado de trabalho.

Crise

A crise política e econômica que o País atravessa contribui para retrair a demanda doméstica e, consequentemente, manter o quadro de retração na indústria nacional.

No atual ambiente de incertezas, empresários tendem a adiar investimentos enquanto consumidores são levados a diminuir o ímpeto às compras, segundo Macedo.

“Incerteza política e incerteza econômica são fatores que acabam de alguma forma adiando os investimentos, adiando as decisões de consumo. Não por acaso bens de capital e bens de consumo duráveis são dois grandes segmentos que mostram as principais perdas entre as categorias econômicas. Mensurar (o impacto disso) é claro que não é possível. Mas a gente sabe que, dado o ambiente de incerteza, há uma natural retração nas intenções de investimento e de consumir”, avaliou Macedo.

Nos três primeiros meses de 2016, a produção de bens de capital despencou 28,9%, enquanto a de bens de consumo encolheu 9,8%. A fabricação de bens de consumo duráveis acumulou retração de 27,3%.

A retração na demanda doméstica desestimula os novos investimentos por parte do empresariado, enquanto a deterioração do mercado de trabalho e a inflação alta reduz o consumo das famílias, explica Macedo.

“O que se tem até o presente momento é um setor industrial com comportamento marcadamente negativo. Claro que toda e qualquer eliminação de incerteza pode ter reflexo sobre a decisão de investimento e de consumir. Mas isso a gente tem que aguardar para entender como esse cenário político estará atuando sobre as decisões de investir e nas decisões das famílias de consumir”, ponderou o pesquisador.

Veículos

A produção industrial encolheu em 22 dos 26 ramos investigados em março, em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o IBGE.

A pesquisa mostrou que 75,5% dos 805 produtos pesquisados tiveram produção menor. A atividade de veículos automotores, reboques e carrocerias despencou 23,8%, principal contribuição para a redução de 11,4% registrada pelo total da indústria no período.

“Cerca de 95% dos produtos investigados nos veículos automotores mostram queda na produção, ou seja, quase a totalidade dos produtos mostrando recuo na comparação com março do ano passado”, ressaltou André Macedo.

Os itens com quedas mais relevantes na fabricação foram automóveis, caminhões, autopeças, veículos para transporte de mercadorias, chassis com motor para ônibus e caminhões, caminhão-trator para reboques e semirreboques e carrocerias para ônibus e caminhões.

“Os caminhões têm impacto negativo importante dentro de bens de capital. E, dentro de bens duráveis, automóveis e eletrodomésticos em geral têm impacto importante para explicar essa queda acentuada”, disse Macedo.

A segunda maior pressão negativa foi das indústrias extrativas (-16,6%), com recuos tanto em minérios de ferro quanto em óleos brutos de petróleo.

O rompimento da barragem da Samarco em Mariana, Minas Gerais, no ano passado, continua a impactar a extração de minério, enquanto as paralisações de plataformas de petróleo para manutenção explicam as perdas em óleo bruto.

Outras contribuições negativas relevantes sobre o total nacional foram de máquinas e equipamentos (-17,8%), metalurgia (-14,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-31,1%), produtos de metal (-19,6%), produtos de borracha e de material plástico (-16,8%), produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (-5,8%), produtos de minerais não-metálicos (-14,3%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-17,4%), outros equipamentos de transporte (-22,0%), produtos têxteis (-15,7%) e móveis (-17,9%).

Na direção oposta, houve avanço significativo em produtos do fumo (17,4%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (2,7%).

As informações são do site Revista Exame 

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