Nas últimas décadas, o progresso digital permitiu a criação de muitos sistemas e soluções diferentes com enormes possibilidades.
Os benefícios da automação, análise de dados, inteligência artificial e machine learning são cada vez mais visíveis no dia a dia das sociedades e o âmbito de aplicação das novas tecnologias está em constante expansão: desde a satisfação das expectativas dos consumidores, passando pela tomada de decisões de crédito, pelo aconselhamento em matéria de saúde ou direito, pela realização de trabalhos de alto risco ou pelo transporte de pessoas e mercadorias.
Do ponto de vista dos colaboradores, o progresso tecnológico também traz muitos benefícios. Melhora a qualidade do trabalho, permitindo que você se concentre em tarefas mais importantes e complexas que trazem maior satisfação pessoal.
A pesquisa da Deloitte mostra que, na opinião dos colaboradores, as tecnologias modernas facilitam o trabalho, melhoram a eficiência de toda a organização e permitem que os colaboradores concluam com mais rapidez as tarefas que lhes são atribuídas.
Além disso, oferecem flexibilidade, o que é muito apreciado por eles. As tecnologias modernas, ao economizarem tempo e oferecerem novas oportunidades de trabalho, aproximam os colaboradores da ideia de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
No entanto, o progresso tecnológico também traz consigo muitas ameaças à humanidade relacionadas com o processo de digitalização em curso, especialmente práticas digitais inadequadas ou antiéticas.
Estas ameaças dizem respeito principalmente ao mercado de trabalho global e estão relacionadas com a eliminação gradual de empregos tanto na indústria como no sector dos serviços. Os robôs já estão a substituir o trabalho humano em atividades simples e repetitivas e, a longo prazo, espera-se que a inteligência artificial e as máquinas de “aprendizagem profunda” se desenvolvam de forma dinâmica, permitindo que as máquinas assumam funções que também exigem pensamento.
Isto levará, sem dúvida, à eliminação de muitas profissões anteriormente desempenhadas apenas por humanos. É verdade que, a longo prazo, as novas tecnologias também criarão novos empregos, alguns deles em sectores que ainda não conseguimos imaginar, mas a crença comum tanto dos especialistas como da sociedade é que a tecnologia eliminará mais empregos do que criará.
O processo de substituição do trabalho humano por máquinas envolverá custos sociais e económicos que são hoje difíceis de estimar e serão suportados tanto pelos cidadãos individuais como pelos governos estaduais.
Além disso, nem todos serão capazes de se adaptar à revolução digital em progresso dinâmico, que exige competências tecnológicas, de engenharia ou de programação, o que pode resultar na exclusão digital progressiva de indivíduos ou de grupos sociais inteiros.
No que diz respeito aos trabalhadores, as tecnologias digitais móveis e de comunicação, que oferecem a possibilidade de uma maior flexibilidade no trabalho, podem significar um aumento da exigência de disponibilidade constante dos trabalhadores, horários de trabalho irregulares, indefinição das fronteiras entre o trabalho e a vida privada e a oferta de formas instáveis de trabalho, emprego e, portanto, pode resultar em níveis mais elevados de estresse, esgotamento, insatisfação com a vida e afrouxamento de vínculos e isolamento.
A utilização de tecnologias digitais modernas também envolve dilemas éticos relacionados com questões tão importantes do ponto de vista humano como privacidade, agência, autonomia e dignidade.
Confrontadas com os desafios decorrentes do desenvolvimento e implementação de tecnologias digitais, as organizações precisam de compreender melhor como gerir os riscos que lhes estão associados e encontrar uma bússola ética sobre como agir de forma digitalmente responsável perante todos os seus stakeholders. Assim, verifica-se uma visível expansão gradual do conceito de responsabilidade social corporativa (RSE) com a sua nova dimensão – Responsabilidade Digital Corporativa (CDR).
Responsabilidade Digital Corporativa
Integra considerações éticas nos níveis empresarial, individual e social, garantindo mudanças socialmente responsáveis para trabalhadores e sociedades cada vez mais digitalizados. Referindo-se à ética empresarial, a responsabilidade digital corporativa pode ser definida como um conjunto de valores e normas específicas que regem os julgamentos e decisões de uma organização em assuntos que se relacionam especificamente com questões digitais.
A sua crença subjacente é que as organizações que trabalham para o avanço da tecnologia e aquelas que utilizam a tecnologia nas suas operações têm a responsabilidade de fazê-lo de uma forma que tenha um impacto fundamentalmente positivo na empresa e em todas as suas partes interessadas. Este conceito, por um lado, pressupõe neutralizar as ameaças resultantes da digitalização progressiva, mas por outro lado, também se concentra em aproveitar as oportunidades que ela traz.
O CDR, definido como um conjunto de práticas e comportamentos que ajudam uma organização a usar dados e tecnologias digitais de maneira social, econômica, tecnológica e ecologicamente responsável, inclui quatro componentes essenciais:
Responsabilidade social digital
No que diz respeito ao relacionamento da organização com as pessoas e a sociedade. Abrange questões como garantir a proteção dos dados privados de funcionários, clientes e outras partes interessadas, promover a diversidade digital e a inclusão digital e aplicar práticas sociais éticas,
Responsabilidade digital económica
Em que uma questão importante é a substituição de empregos humanos por robôs e outras tecnologias digitais, mas também a questão da partilha dos benefícios económicos resultantes da digitalização com a sociedade (por exemplo, tributando o trabalho no ambiente digital) e do respeito dos direitos de propriedade (por exemplo, através da limitar a escala da pirataria),
Responsabilidade digital tecnológica
Relacionadas com a criação responsável das próprias tecnologias: garantir o funcionamento ético, justo e não discriminatório dos algoritmos criados, bem como criar tecnologias que não sejam prejudiciais à sociedade,
Responsabilidade digital ecológica
Expressa, por exemplo, na reciclagem ou eliminação responsável de equipamentos informáticos antigos, ou na redução do consumo de eletricidade.
Cada vez mais empresas reconhecem a necessidade de incorporar de forma abrangente questões relacionadas com a digitalização nas suas estratégias operacionais, como evidenciado pelo estabelecimento voluntário de diretrizes internas nas empresas para lidar com questões difíceis decorrentes dos processos de digitalização.
Pode-se prever que, no futuro, a responsabilidade corporativa digital se tornará um diferencial para as organizações, tanto no mercado consumidor como no mercado de trabalho, tal como é hoje a responsabilidade social corporativa.