Em um mercado onde algumas modalidades de crédito têm juros que passam dos 400% ao ano, quem cobra menos encontra bastante espaço para crescer —e o ritmo de crescimento pode ser tão exponencial quanto as taxas da concorrência.
Foi mirando esse espaço que Sergio Furio criou, em 2013, a Creditas. A startup nasceu com a promessa de mudar a cara dos juros no Brasil, apostando na oferta digital de crédito com garantia.
A demanda é notória: a empresa triplicou seu tamanho no ano passado e atualmente possui uma carteira com 135 milhões de reais em empréstimos. O feito motivou a startup, inclusive, a mudar de nome.
“Nossa marca original, BankFacil, não passava a ideia que a Creditas passa de sermos uma empresa focada exclusivamente em crédito com garantia, não um banco comum”, diz Furio.
O mercado promissor chamou atenção não apenas de novos clientes, mas também de fundos de investimento: a Creditas acabou de receber um aporte série B, no valor de 60 milhões de reais.
Trajetória
Trabalhando em grandes bancos nos Estados Unidos, onde o crédito com garantia já é um mercado consolidado há décadas, Furio percebeu que outras regiões do mundo exploravam muito pouco essa alternativa ou praticamente nada.
O Brasil estava entre elas. O executivo se mudou para o país em 2012, quando começou a pensar em maneiras de viabilizar o negócio. No ano seguinte, conseguiu um investimento anjo de 3 milhões de reais para lançar a Creditas —na época, BankFacil.
“As taxas de juros são altíssimas no Brasil e as pessoas estão muito acostumadas com as modalidades mais tradicionais de crédito [como o pessoal, por exemplo], que são caras”, diz Furio. “Encontramos um desafio que era, e ainda é hoje em dia, educar os brasileiros a se endividar de forma saudável, com juros menores.”
O potencial de crescimento, dado a enorme quantidade de imóveis e automóveis quitados no país, despertou os olhares de novos sócios. A Creditas recebeu, em 2015, um aporte série A de 10 milhões de reais —com um complemento de 15 milhões de reais mais tarde no mesmo ano.
O aporte marcou a entrada da Kaszek Ventures, fundo de venture capital criado em 2011 pelos cofundadores do Mercado Livre, Hernán Kazah e Nicolás Szekasy, no capital da então BankFacil.
Os fundos Redpoint Eventures, Quona Capital (vinculado à Accion) e QED Investors (do cofundador do banco americano Capital One) também participaram daquela rodada.
De lá para cá, a Creditas dobrou seu número de funcionários (passou de 65 para os atuais 120, e a expectativa é terminar 2017 com cerca de 200 colaboradores) e a carteira de crédito saltou em torno de 35%.
Como funciona?
A plataforma é simples: o cliente acessa o site da Creditas e preenche um pré-cadastro com informações básicas. O cruzamento automático de informações —com bureaus de crédito, por exemplo— diz em pouco tempo se a pessoa é apta ou não para preencher o cadastro completo e solicitar o empréstimo. Tudo é feito pela internet.
O crédito com garantia ou refinanciamento, como também é conhecido, consiste em um empréstimo com lastro (garantia) em um imóvel quitado ou até mesmo um automóvel 100% pago. Ou seja, se o cliente não honra a dívida, o valor da empresa é coberto com a venda do bem dado como lastro.
Com a segurança de receber o dinheiro de qualquer forma, as instituições financeiras podem cobrar juros bem mais baratos. Na Creditas, o crédito com garantia do automóvel tem taxas que começam em 1,99% ao mês e podem chegar a 3,5% ao mês —mas geralmente ficam muito perto das taxas mínimas.
O prazo máximo do empréstimo é de até 5 anos e o tíquete médio fica na faixa de 15 mil reais a 20 mil reais. A regra é que os empréstimos desse tipo sejam de até 80% do valor do veículo pela tabela Fipe.
Já no crédito com garantia do imóvel, as taxas da Creditas começam em 1,15% ao mês e vão até 2,99% ao mês —mais correção monetária pelo IPCA. O prazo máximo é de até 20 anos e valor máximo é de 2 milhões de reais.
A regra, nesse caso, é de que o empréstimo seja de até 60% do valor do imóvel. E o tíquete médio é de cerca de 180 mil reais.
Novo aporte e planos
O aporte que acabou de ser anunciado, de 60 milhões de reais, é liderado pela International Finance Corporation (IFC), membro do Grupo Banco Mundial e maior instituição global de desenvolvimento voltada para o setor privado nos mercados emergentes.
O investimento também marcou a entrada da Naspers Fintech no capital da Creditas. Segundo Furio, o dinheiro será investido em tecnologia, que permitirá a ampliação do negócio. “Temos que adequar nossa plataforma para uma demanda cada vez maior”, diz.
“Vamos continuar revolucionando as taxas de juros no Brasil. Temos que investir em parcerias, como a que temos com os arquitetos, por exemplo, além de intensificar os esforços com divulgação e, acima de tudo, estimular a educação financeira.”
As informações são do site Exame