Ainda é cedo para saber se a redução de impostos anunciada pelo governo fará a indústria do setor pegar no tranco. No Sul, Volvo e a siderúrgica Vega pisam no freio em investimentos e ritmo de produção
Por Pedro Pereira
Atingida pela instabilidade da economia mundial e pela alta carga tributária, a indústria automotiva brasileira passa por um momento delicado. Apenas nesta semana, duas empresas anunciaram a paralisação da produção de caminhões, a fim de equilibrar a atividade das fábricas com os estoques e a demanda do mercado. Após queda de 8% nas vendas durante o primeiro quadrimestre do ano, Mercedes-Benz e Volvo optaram por parar momentaneamente.
Em São Bernardo do Campo (SP), a Mercedes-Benz suspendeu as atividades desta semana – até então, os sete mil trabalhadores da planta vinham trabalhando apenas quatro dias na semana. Há 15 dias, um grupo de 480 trabalhadores entrou em licença remunerada e ficará um mês longe do trabalho.
Já a Volvo, em Curitiba (PR), anunciou que vai parar suas atividades entre os dias 25 de maio e 6 de junho, mandando para casa 1,3 mil dos 4,1 mil funcionários e abrindo mão de produzir cerca de 100 caminhões por dia. A empresa descarta, por enquanto, a possibilidade de haver demissões. Com a medida, a Volvo espera adequar a produção à demanda, que está menor em relação ao período de janeiro a abril de 2011. A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) vê a situação como preocupante, mas entende que é resultado de um mercado que recuou no momento em que tinha grandes estoques.
A freada do setor faz com que fornecedores revejam seus planos. O grupo ArcelorMittal, que tem entre suas principais atividades a produção de aços planos, amplamente utilizados na indústria automotiva, anunciou nesta semana que irá ajustar suas operações no Brasil para ficar em linha com a demanda do mercado. Também em função disso, mantém suspensos os investimentos superiores a US$ 1,5 bilhão no país – dos quais US$ 400 milhões iriam para a fábrica de aços planos em Vega do Sul (SC). Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da holding ArcelorMittal Brasil, Benjamin Baptista, avaliou como negativo o cenário atual para a indústria de aço no mundo e afirmou ser impossível manter o ritmo de investimentos.
Para lubrificar os resultados do setor automotivo, o governo federal anunciou um pacote de medidas que inclui isenção de impostos e facilidades de obtenção de crédito. O desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pode cair de 7% para zero, no caso dos veículos de até mil cilindradas (1.0). Utilitários terão redução de 4% para 1%. Para carros importados, o imposto cai de 37% para 30% nos carros 1.0 e de 34% para 31% entre os utilitários.
O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para obtenção de crédito para investimentos junto ao BNDES também sofreu reajuste. Na exportação de bens de capital, a alíquota ficou em 8%, ante os 9% praticados anteriormente. Para a compra de ônibus e caminhões, a taxa cai de 7,7% ao ano para 5,5% ao ano. Segundo a Anfavea, as medidas publicadas hoje no Diário Oficial da União atacam os pontos mais nevrálgicos da questão e ajudam no destravamento do crédito e a redução dos preços. A entidade, no entanto, acredita ser muito cedo para fazer qualquer estimativa de prazo para reversão dos resultados.