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Você é mesmo uma pessoa motivada?

 

Por Yoshio Kawakami

 

Recentemente um colega me mandou um texto muito interessante sobre motivação, perguntando-me o que eu achava. O texto havia sido elaborado por acadêmicos, que haviam dado um tratamento científico à questão, com o objetivo de trazer esclarecimentos a essa questão que é muitas vezes tratada somente através da visão empírica.

 

O texto concluía que toda vez que os executivos tentavam motivar pessoas no trabalho, através de mecanismos de premiação e de punição, os resultados eram frustrantes, pois essencialmente ninguém pode motivar ninguém. O texto é taxativo sobre a impossibilidade de um líder motivar seus liderados, pois a verdadeira motivação é interna e não externa. 

 

O próprio texto indica que o interesse em torno do assunto é muito elevado, porém as abordagens mais comuns não são provenientes de estudos científicos. Em resumo temos muitas opiniões, crença e mitos que constituem a fantasia do poder motivador dos líderes.

 

O texto é muito interessante e foi publicada na revista RAE em 2002, sob o título de “Motivação: uma viagem ao centro do conceito” de autoria de Cecília W. Bergamini da FGV-EAESP. Recomendo que leiam, pois é perfeitamente atual e pode corrigi-lo caso você seja um daqueles que crêem no seu poder de motivar as pessoas.

 

Confesso que ao iniciar a leitura do texto, as afirmações me incomodaram. Afinal, no meu trabalho sempre pensei ter procurado motivar as pessoas a terem motivação! Depois refletí melhor e procurei perceber melhor que tipo de colaborador eu sempre valorizei mais no meu trabalho. 

 

Resposta simples: – Os auto-motivados! 

 

 

De fato, os profissionais que sempre tive como os mais valiosos, são aqueles que trazem dentro de si um diferencial próprio de motivação. Independente da natureza da sua motivação e os seus objetivos pessoais, muitas pessoas são auto-motivadas. Não são os executivos e líderes que criam dentro destas pessoas a motivação. Será que você já se queixou alguma vez de que o seu chefe não tem sido muito bom em motivá-lo?

 

Ao longo da minha carreira, convivi com alguns exemplos de auto-motivação muito marcantes. Pessoas com muita energia, algumas movidas por um objetivo principal muito claro e outras com múltiplos objetivos na vida. No jargão do ambiente empresarial, dizemos que preferimos “aqueles que temos que segurar, do que aqueles que temos que empurrar”.

 

Esse fator energia não tem muito a ver com o estereótipo do hiper-motivado, com a alta iniciativa que se oferece para tudo (este ainda é muitas vezes a crença de jovens candidatos que fazem um excessivo esforço nas entrevistas e dinâmicas de grupo nos processos seletivos). No meu entender, está mais vinculado à persistência sob condições adversas e à característica de finalização das atividades, ou seja à resiliência pessoal. 

 

Lembro-me de alguns jovens que em situações de extremas foram capazes de suplantar o seus chefes no quesito motivação. Numa das vezes, a dificuldade em encontrar uma abordagem correta para uma complicada negociação paralisou um departamento. O gestor da área foi incapaz de encontrar uma abordagem e não conseguiu fazer qualquer preparação para a reunião que seria na manhã do dia seguinte.

 

Ao saber da situação às 18:00 horas, vi-me numa séria enrascada, que comprometeria a empresa toda diante de um grupo grande de visitantes do exterior. Clientes e executivos da matriz americana estavam envolvidos numa situação de emergência. Ao questionar (com muita calma) o que havia acontecido, soube que o chefe da área havia “cristalizado” e não havia conseguido criar nenhuma proposta. Isto sim, foi uma situação muito frustrante.

 

Um jovem, quase recém-formado fazia parte da equipe. Em meio a uma situação de sentir fugir o sangue do rosto e da cabeça (já sentiram isso no trabalho?) este jovem, que hoje é um brilhante executivo-chefe de uma empresa multinacional, também diz não ter conseguido ajudar, mas que apesar disso, havia coletado todas informações que poderiam ser necessárias ou úteis dentro de alguma lógica. Embora não tivesse sido capaz de encontrar um solução, este jovem não havia jogado a toalha. Queria encontrar uma solução!

 

Nem é preciso dizer que fomos salvos pela sua iniciativa, pois observando os dados coletados, conseguimos visualizar uma abordagem muito criativa que resultou num tremendo sucesso! Tivemos que trabalhar noite adentro e estabelecer uma sequência para o dia seguinte para que ele conseguisse terminar o trabalho enquanto eu conduzia a reunião. Mesmo sem ter a solução, a sua motivação era tão elevada que fez tudo que estava ao seu alcance, e foi sua a maior contribuição neste processo.

 

Ao recordar-me deste caso, percebo que na verdade a autora não visualizou na época a diferença da abordagem científica e da abordagem empresarial. Creio que na abordagem científica, a hipótese a ser verificada seria se é possível ao líder motivar os seus liderados. Na abordagem empresarial, provavelmente a hipótese a ser verificada seria se é possível identificar e atrair as pessoas motivadas.

 

Creio que a abordagem individualizada de motivar a pessoa não seria a abordagem das empresas. Psicólogos cuidariam do tema. Mas identificar as pessoas mais motivadas e atraí-las sim. seria do interesse dos executivos. Se fizermos esforços para conhecermos as motivações de cada pessoa e demonstrarmos a possibilidade de realização ou de aproximação aos seus objetivos pelo trabalho na empresa, podemos contar com pessoas motivadas. Qual seria a sua reação?

 

De qualquer maneira, procure identificar e reconhecer as suas verdadeiras motivações. Se as suas necessidades econômicas fossem todas resolvidas, o que você faria com a sua vida? O que você faz hoje aproxima-o a cada dia dos seus objetivos e dos seus sonhos? 

 

Grato,

 

Colunista

YOSHIO KAWAKAMI

Presidente da Volvo Construction Equipment Latin America

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