Ícone do site Indústria Hoje

Você é um chefe jovem?


Ser um chefe jovem, ou melhor mais novo do que alguns membros de sua equipe é um fato comum para quem assume uma posição de liderança. Não ser aceito por alguns deles também é bastante comum. Se você foi escolhido dentro do grupo como chefe, seus antigos colegas podem ver a situação como uma derrota pessoal e insuportável. Se você foi contratado para a posição, pessoas mais velhas podem tomá-lo como inapto à condição de chefe delas, além de ser um invasor.

Ser chefe jovem atrapalha?

Se você estiver vivenciando esta situação não se desespere, pois sempre foi assim e considerando-se a natureza humana, deverá continuar sendo assim por muito tempo. A única coisa que parece ser diferente é que esta situação deverá ser ainda mais comum nos próximos anos, num processo mais intenso de transição de gerações.

Essa transição já está ocorrendo por conta da evolução tecnológica, que faz com que jovens com conhecimentos técnicos mais avançados assumam posições de liderança. Pelo rápido crescimento econômico em países como o Brasil, onde há um vácuo de profissionais treinados em funções de liderança, e pela necessidade de renovação do quadro de profissionais nos países mais atingidos pela crise econômica. Países onde novas abordagens, criatividade e maior energia passam a ter um valor superior à experiência e ao tempo de casa.

Mas o que acontece de fato quando você é promovido na empresa? Em primeiro lugar, por melhor que você tenha sido, há sempre alguém que não aceita esta situação e se considera melhor do que você. Seus colegas nem sempre compreenderão por que você foi escolhido, quais foram as suas qualidades apreciadas pelo seu chefe ou que características o fazem melhor candidato para a posição. E se houver algum colega com um pouco mais de experiência, idade ou tempo de casa que você, alguns destes falharão em reconhecê-lo como digno de ser o chefe deles. Podem até reconhecer a sua capacidade e o seu esforço, mas não para ser justamente o chefe deles.

Se você foi contratado para a posição, certamente o seu conhecimento dos processos da empresa, das pessoas chaves e dos clientes, será limitado e menor do que do seus novos subordinados. A sua dependência ao conhecimento dos seus comandados e à disposição deles em compartilhar os “segredos” será inevitável. E sempre haverá alguém que aspirava a sua posição e que muitas vezes conta com a admiração e o reconhecimento de seus colegas. Este poderá desafiá-lo de varias formas, procurando demonstrar aos demais que ele deveria ter sido o escolhido.

Uma das coisas que mais incomodam os jovens chefes é a confrontação pelos colegas mais velhos ou mais experientes, que muitas vezes lideram um boicote ao novo chefe. Muitas vezes o que faltou a esta pessoa para estar no seu lugar é justamente um estilo de liderança apropriado, baseado em valores e resultados. A sua postura pode ser resultado de ter sido aspirante à liderança formal, porém ter logrado ser um líder informal durante muito tempo.

Por não contar com suficiente autoridade formal, torna-se um líder alternativo e mantém a sua relação com os colegas projetando a sua possibilidade futura de ser o chefe, normalmente criando a expectativa de ser mais amigo e compreensivo. Ao não ser escolhido, reforça a condição de amigo injustiçado e procura manter o relacionamento, muitas vezes procurando atuar como mediador entre o grupo e o novo chefe, principalmente se este veio de uma contratação externa.

Uma boa dose de paciência, compreensão e respeito pode conduzi-lo de volta a uma postura adequada. Uma boa conversa reconhecendo a sua experiência (mas evitando confirmar ou aceitar a sua liderança informal, que poderia significar um reconhecimento ao poder paralelo), e buscando a sua colaboração, deve acontecer depois de reconhecer o terreno com segurança. Se nada disso funcionar, não tenha receio do confronto nem da possibilidade de retirá-lo do grupo, até mesmo demitindo-o.

A situação deve ser precedida de uma conversa clara sobre as alternativas existentes. Muitas vezes é possível uma rotação de função para uma outra área sob outra liderança ou busca de uma outra oportunidade profissional em comum acordo. Interesses profissionais diferentes não precisam gerar um confronto, desde que os objetivos sejam esclarecidos. Todos podem sair vencedores e beneficiados da situação.

Mas há também algumas tarefas a serem cumpridas pelo novo chefe, em qualquer situação. Um aspecto fundamental é demonstrar maturidade e respeito às pessoas. Nunca pense que a sua conquista é resultado apenas dos seus méritos. Há muitos fatores e fatos sobre a decisão que nunca são mencionados. Talvez você não fosse o candidato do sonhos do seu chefe, nem a primeira opção entre os candidatos. Com certeza, você foi um dos finalistas, mas isso não quer dizer que tenha sido o melhor entre todos. Quem sabe você tenha sido a alternativa viabilizada num conjunto de fatores técnicos, econômicos ou temporais. Ou seja, cuidado com a sua “bola”, que pode não estar tão cheia assim.

Muitas vezes há uma aposta feita por alguém e uma das expectativas é a maturidade, que deve ser de mostrada pela postura, pela comunicação verbal mais serena, pela forma de se vestir. Muitos rapazes vestem-se para as moças, mais do que para a sua função e muitas moças vestem-se mais para os rapazes do que para a sua imagem profissional.

É esperado que você esteja mais e melhor informado que os demais. Nem sempre é possível, mas é sempre possível estar melhor informado sobre os assuntos relativos à sua função de chefia. O conhecimento dos planos da empresa, dos objetivos e metas e dos projetos é necessário para tomar decisões e indicar os caminhos para os demais. O acesso aos níveis superiores e à direção da empresa devem servir para melhor compreender as expectativas da empresa sobre a sua atuação e sobre o resultado do seu grupo.

Como referência para o seu grupo, consistência, direção e critérios.

Mas a sua principal necessidade será a transparência do seu grupo em todas informações e atividades. A melhor forma de se conseguir a transparência de todos e ao mesmo tempo o comprometimento é um esforço conjunto para eliminar surpresas. Não deu para entender, certo? Acontece que é legítimo um chefe não querer surpresas, nem positivas e nem negativas. Para que isso aconteça, a total transparência é um requisito fundamental.

Se alguém estiver escondendo alguma coisa, no final do mês haverá inevitavelmente surpresas. Surpresa positiva é substituída por algo conhecido que produziu o melhor resultado esperado e surpresa negativa é substituída por algo que produziu o pior resultado dentre as alternativas esperadas. Esta prática colocará todas as cartas sobre a mesa e eliminará a possibilidade de boicote e atividades paralelas.

Outro aspecto importante é não querer mudar tudo com a sua chegada. A sua presença como líder já é um incômodo para algumas pessoas. Não mude coisas desnecessárias pelo prazer de criar algo diferente. Neste campo, dê mais tempo para estabelecer o seu próprio estilo e focalize em melhorar os resultados.

Nem sempre os hábitos típicos dos jovens no relacionamento, celebração e brincadeiras são apreciadas por pessoas mais maduras. Se você souber ser um integrador e promover sempre a inclusão de todos, mais rapidamente será reconhecido com um bom líder, apesar de jovem.

Há ainda a possibilidade de que você não esteja mesmo preparado para a posição, que a escolha não tenha sido correta ou que tenha sido feita com base em fatores políticos. A abordagem deverá ser a mesma, com cuidado redobrado e tempo reduzido… Você terá que decidir se vale a pena prosseguir.

Sair da versão mobile