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Você tem medo da China?

Falando sério, você tem medo da China? Pode ser que a única razão para não ter medo seja falta de informação? O que você leu e ouviu sobre a China recentemente?

Em função do seu trabalho e dos seus negócios, pode ser que você tenha contatos com a China ou com produtos chineses no seu mercado. Pode ser que a China já seja um aliado importante para seus negócios e mais do que ameaça, represente uma brilhante oportunidade de negócios.

Mas a pergunta, se você tem medo da China, pode indicar o quanto você está ciente sobre a realidade da China. Neste momento estou terminando mais uma viagem de uma semana à China. Temos no grupo, pessoas que estiveram regularmente na China nos últimos anos, outros que estiveram há uns 3 ou 4 anos e outros que estão no país pela primeira vez.

O choque é o mesmo para todos… A velocidade das mudanças na área de Shangai e no interior (província de Shandong) é tão grande que se pode ver as áreas rurais em que casas foram demolidas há 3 ou 4 anos e hoje se vê enormes conjuntos residenciais de apartamentos, condomínios de dar inveja, edifícios comerciais, indústrias, hospitais, etc…

Desta vez estamos mais preocupados com a visão que muitos profissionais e analistas no Brasil têm sobre a China… O assunto é o “poder do trabalho escravo”, numa alusão sarcástica ao conceito equivocado que muitos têm sobre a China…

É claro que em todos os países existem problemas e distorções, e a lei não alcança as áreas mais remotas…

Mas vejamos… A legislação trabalhista na indústria estabelece a jornada semanal de 40 horas, limite de 180 horas extras a cada 90 dias, remuneração adicional de 100% aos sábados e 300 % nos domingos e feriados oficiais… É um trabalho muito “escravo”? Pelos valores indicados e pelo poder de compra estimado na China, o salário parece ter uma boa paridade com o Brasil…

Há preocupação quanto ao meio ambiente? Sim, lagos que no passado tiverem suas águas tomadas por algas, causadas pela poluição das águas, hoje são protegidas por regulamentações apropriadas (embora existam falhas no policiamento, como em alguns outros lugares)…

Jovens que há 03 anos falavam um inglês sofrível, difícil de compreender e de ser compreendido, hoje falam um inglês que no mínimo deve ser classificado como acima da média no Brasil, e trabalham fazendo tradução consecutiva…E a mudança é visível até na maneira dela vestir.

A menina que se vestia como uma camponesa recém chegada à capital, já se apresenta com um certo “savoir faire”. O operário de 5 anos atrás já é um Gerente de Fábrica e já constituiu família, comprou seu apartamento e até o seu carro “zero”…

Estes “success stories” não fazem as notícias no exterior, pois não é a história que dá IBOPE…

Qual deveria ser a sua percepção sobre a competitividade chinesa para orientar-se melhor no trabalho? Você deveria ter medo da China? Seria melhor do que não ter sem conhecê-la…

Vejamos… O que se está construindo na China hoje, que constitui a infra-estrutura competitiva não é resultado de distorções como “trabalho escravo”. É puro investimento no futuro…

Da mesma forma que o Brasil atravessou a crise financeira utilizando a força do seu mercado doméstico, a China o faz em proporções ainda maiores… O baixo salário mínimo da China (quando convertido em USD), tem poder de compra doméstica similar ao alto salário mínimo (em USD) do Brasil…

Mais do que o presidente Lula, foi o câmbio que fez o salário mínimo no Brasil alcançar valores inéditos em USD…

Ah, o salário inicial do trabalhador numa indústria equivalente à nossa é de aproximadamente R$ 1.000,00 por mês na região de Pudong, área da grande Shangai… Qual é o salário inicial de um trabalhador na sua fábrica mesmo?

Muitas vezes as críticas na imprensa e os comentários de pessoas na indústria utilizam parâmetros limitados para certas comparações e acabam dando a impressão (ou elas acreditam mesmo?) de que tudo na China é resultado de artificialismo, manipulação, autoritarismo, trabalho escravo e mão-de-obra barata, etc…

O show case da China na EXPO SHANGAI   mostra a força transformadora da China nestes últimos 30 anos, seu patrimônio histórico, sua modernização…

Em troca, um certo pavilhão verde (e amarelo?) nem de longe poderia representar o Brasil… Seguimos com bolas de futebol, cenas do Rio de Janeiro (lindas como sempre), Carnaval, mulatas e candomblé (poderia ter sido também Edir Macedo?). Construída com ripas pregadas e apenas projeções e painéis digitais o pavilhão verde tentou representar a variedade urbana do Brasil… Quanto foi mesmo o investimento para projetar esta imagem do país diante do mundo?

O tema “Better city, better life” poderia ter tido uma contribuição muito superior da experiência brasileira de design urbano, arquitetura, construções, etc… Vamos torcer para que em 2012, na Coréia, a nossa apresentação seja melhor…

Todos nós concordamos que a visita ao pavilhão verde foi dispensável, e nem tivemos a ousadia de entrar o pavilhão vizinho da Argentina (que também mostrava no seu telão externo as peripécias do Maradona enquanto o do Brasil mostrava Ronaldão)… Aceitamos o empate por segurança… De qualquer maneira ficamos com muita pena dos visitantes que estavam na fila do pavilhão do Brasil quando saímos.

A minha recomendação não é pensar no tema… É visitar a China! Aproveite uma das inúmeras feiras do seu setor em Shangai ou Beijing (ou ainda as feiras regionais nas províncias) e conheça um pouco melhor… Não deixe para a próxima EXPO na China, que deverá ser em 2025 em Guangzhou…

Assim, na próxima vez que um palestrante ou um executivo comentar de trabalho escravo, falta de água (real), cópia de produtos, falta de proteção ao meio-ambiente e outros motivos para não ter medo da China, o seu riso poderá ser contido e quem sabe trocado por um frio na espinha?

E isto fará você entender que é preciso melhorar a sua tecnologia, a sua produtividade, o seu produto e conhecer melhor o “inimigo”… Afinal, Sun-Tzu, o famoso autor de “A Arte da Guerra” é o filho mais pródigo da província de Shandong, mais precisamente da cidade de Linyi, onde estivemos…

Quem sabe a gente concorde que subir as barreiras à importação não melhorará a sua competitividade? Nem como empresa e nem como profissional?

Escrito por: Yoshio Kawakami 

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