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Porque não posso ser White Collar?

Ouví pela primeira vez esta pergunta ainda quando era um engenheiro recém formado na GM, em São Caetano do Sul. Era no ano de 1976 e um Operador de Empilhadeira no Recebimento de Materiais me fez esta pergunta.

Na época achei que, sendo ele já formado num curso superior, deveria ter uma oportunidade de trabalhar em Planejamento de Materias, como queria ele. Talvez o seu curso de Matemática não fôsse o principal requisito para a função pretendida.

Mas quando contou-me a sua história de tentativas de encontrar uma função melhor dentro da empresa, entendí que havia algum tipo de barreira contra aqueles que já eram Blue Collar. Embora outras pessoas sem um curso superior pudessem ser na época Supervisores e até mesmo Gerentes, aquele colega que me perguntava tinha um estigma que o impedia de ser o que queria.

Não sei o que aconteceu com ele depois. Era uma época em que a função de um supervisor de linha era denominado “Feitor” (A propósito, não se trata de uma novela de época, mas sim de uma fábrica). Quero crer que teve sua merecida oportunidade e que teve uma boa carreira profissional.

Recentemente um amigo comentou sobre o seu cunhado, experiente soldador que teve problemas nas duas mãos e submeteu-se a uma cirurgia para recuperar os movimentos de ambas mãos. Sabendo que não poderá continuar com a mesma atividade por muito tempo, pois poderia voltar a sofrer o mesmo problema, ele havia estudado (já era formado de Administração de Empresas) inglês e também buscado atualizar-se em outros conhecimentos.

O seu objetivo é encontrar uma outra posição, num trabalho administrativo, enfim como white collar, na empresa em que trabalha. Este amigo perguntou-me porque era tão difícil uma pessoa com formação adequada passar para uma posição administrativa (de white collar).

Depois de 35 anos, a mesma pergunta?

Hoje compreendo que há mesmo uma barreira, não declarada ou escrita, talvez melhor definida como um estigma, que impede este tipo de mudança. Comentei que ví muitas vezes pessoas fazendo o mesmo questionamento.

Expliquei que há uma preocupação genuína por parte da empresa, quanto à formação do profissional em geral, nas habilidades que não fazem parte do currículo escolar das universidades, mas que conta muito na hora de seleção. Também há expectativas e preferências com relação a idade, etc.

Creio que há também uma tendência nas empresas de não fomentar este tipo de transição, talvez com preocupação de não criar um problema se muitos tiverem o mesmo interesse. Pessoalmente apostaria que sim, muitos tentariam e as empresas poderia ter problemas com isso.

Te parece injusto? Pois é, também creio que num mundo ideal poderia haver uma solução mais digna para estas pessoas mais esforçadas. Vejo que em outros países a solução tem sido a redução das diferenças salariais, que faz com que nem todos queiram fazer este tipo de transição.

Nestes países, jovens saídos de cursos técnicos ingressam mais cedo na empresa, alcançam melhores salários e somente depois de alguns anos são alcançados por aqueles que frequentaram as universidades.

Expliquei isso ao meu amigo e recomendei que talvez seja mais fácil encontrar o tipo de trabalho desejado em outra empresa, aceitando uma redução inicial de salário para a desejada mudança profissional.

O fato é que no nosso mundo corporativo, esta dificuldade é real, seja por motivos reais e significativos ou por uma cultura anacrônica. Mas é importante entender que a adequação a uma posição administrativa não é apenas questão de um curso superior, como muitas universidades e faculdades dão a entender aos alunos.

Não há uma boa solução em geral. A menos que as empresas tenham uma política mais moderna e democrática, que permita um bom trânsito em ambos sentidos. Portanto, se não houver eco ao seu pedido, um novo ambiente de trabalho pode ser a única solução. Ficar martelando na mesma tecla e alimentando esperanças diante de vagas promessas de análise pode apenas levar a maiores frustrações.

Foi como concluí, com pena, para o meu amigo que queria uma melhor oportunidade para o seu cunhado…

Mas considerando-se o maior acesso às universidades, melhor preparo dos jovens em todas funções da empresa, não seria um tema importante para RH? Como poderíamos facilitar este tipo de transição e descobrir novos talentos na organização?

YK,

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