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O que fazer para seu currículo ser visto

Você viu meu currículo? Essa é uma pergunta muito comum que recebo de pessoas que me enviam os seus currículos por e-mail. São alguns currículos por mês, que chegam nas suas diversas formas e estilos.

Obviamente não há nada de errado em enviar o currículo diretamente para contatos com executivos na busca de oportunidades melhores. Mas será que essa é uma forma eficiente de divulgar o seu interesse por uma nova oportunidade profissional? O que os executivos poderiam estar vendo no seu currículo?

Na medida do possível, procuro enviar uma resposta ao remetente e, ao mesmo tempo, envio o currículo para o setor de RH da empresa. Mas sei que a probabilidade de aproveitamento é muito limitada e sinto pena ao imaginar que alguém se deu ao trabalho de preparar aquele material na esperança de que isso propiciaria uma boa oportunidade. As chances do “tiro no escuro” funcionar são reduzidas, pois é necessário uma boa dose de coincidência.

O que fazer para seu currículo ser visto

A minha proposta é mudar um pouco a sua perspectiva para olhar de dentro para fora. Isso mesmo, proponho que você se sente confortavelmente na cadeira de um executivo que recebe o seu próprio currículo e analise o assunto.

Em primeiro lugar, por que será que tantos currículos parecem vir do mesmo remetente? Parecem vir todos da mesma fonte, produzidos em escala industrial. Ao mesmo tempo em que fica mais fácil o envio através de e-mail (sem intermediários), também fica muito fácil transformar seu currículo em apenas mais um, misturando-se entre 100, 200 outros semelhantes.

Em segundo lugar, analise o conteúdo físico. Por que “conteúdo físico”? É sobre o formato da carta, as divisões, os títulos e espaçamento dos parágrafos, etc. Por que os currículos são sempre tão parecidos, como se utilizassem todos os mesmos “templates” fornecidos por alguém comum (muitas vezes com os mesmos defeitos como uma tipologia difícil de ler, letras serifadas, em itálico ou bold)? Será que o seu currículo se destaca de outros? Não? Mas saiba que em outras épocas, era até moda utilizar papeis especiais, espessos e coloridos (discretos, óbvio), envelope do mesmo papel, etc.

Outra coisa que já deve ter chamado a sua atenção… É difícil encontrar as informações relevantes no material? Às vezes o currículo é muito longo, outras vezes muito curto, mas muitas vezes é difícil perceber as principais características do “produto”. Se viesse com uma primeira página, apenas com o que há de realmente relevante não seria melhor? Suponha que na pressa das seleções você resolva ver apenas a primeira página para ganhar tempo, o que deveria constar (aliás poderia ser um critério…)?

O mais curioso é comparar vários currículos de proponentes a diferentes posições hierárquicas e observar que a qualidade da apresentação não guarda qualquer relação com a importância do cargo. Será mesmo que esse candidato a executivo, incapaz de elaborar um C.V. bem apresentável, é de fato um profissional competente?

Já o conteúdo deve ser encarado com muito mais seriedade, mas o que te parece melhor, um C.V. todo detalhado, que começa com a escola elementar, passa por cada posição ocupada, quase um perfeito “timeline” cobrindo a vida pregressa do candidato? Ou uma descrição realista das funções ocupadas e áreas de habilidades desenvolvidas falam mais e melhor de você mesmo? Não se esqueça que você estaria vendo o seu próprio C.V… Por que tantos C.V. parecem exagerados nas descrições das experiências e dos inúmeros (e repetitivos) cursos realizados?

A posição pretendida também pode ser interessante de se analisar. Por que tantos candidatos enviam C.V. com posições pretendidas que não existem na empresa?

Falando sério, há tantas formas de se verificar se a empresa tem as funções e as posições pretendidas antes de enviar o C.V., certo? O que você achou do proponente que erra em algo assim? É uma pena que a pessoa tenha desperdiçado tempo, energia e recursos, certo? Aliás, se você procurou o nome e o endereço do executivo para enviar-lhe diretamente o seu C.V., por que não aproveitou para checar se os outros detalhes também estão adequados?

Em se tratando de empresa target, vale a pena descobrir quem é o executivo de RH da empresa que poderia encaminhar o seu C.V. dentro de um processo respeitado na organização. Aliás, não é assim tão difícil encontrar nos dias de hoje, um contato comum através do Linkedin, Facebook, etc. Principalmente se for para uma posição chave na empresa.

Mas existem outros casos mais interessantes, ou piores… E este C.V., que antes de chegar às suas mãos, foi enviado para o seu “Head Quarter” no exterior, para o seu chefe ou para o Vice-Presidente de RH da sua matriz? É claro, é um candidato que não conseguiu descobrir o endereço da empresa no país em que vive e mandou a carta ou E-Mail para o exterior… Que processo seletivo este candidato imagina existir na empresa? Será garantia de “by-pass” ou “fast-track” enviar o C.V. para o exterior? Não é mais provável que este roteiro apenas irrite alguém que poderia ajudar?

Não sei se é algo válido para outras empresas e outras pessoas, mas para mim a indicação vinda através de alguém conhecido e confiável, que conhece o nosso negócio sempre tem melhores chances. Então espalhar C.V.s como se fosse panfleto de propaganda de varejo pode não ser o mais indicado. Principalmente se não for bem elaborado. Pois este pode ficar nos arquivos e circular por um bom tempo, propagando algo que seria melhor morrer na discrição…

Mas não se sinta mal se você já “cometeu” alguns destes “pecaditos”. Todos cometemos e todos exageramos um pouco no que escrevemos com óbvia intenção de impressionar o destinatário. Mas pode dar errado, como o caso de uma pessoa que declarou total habilidade no uso de determinado programa de computador (nada sério, um simples aplicativo “Microsoft”) e na primeira semana de trabalho foi desmascarada porque lhe pediram um trabalho que requeria o uso do programa. Ou uma outra que escreveu ser fluente em um determinado idioma e teve que “pagar um mico” já na entrevista, feita no mesmo idioma…

O oposto também ocorre, felizmente. Entrevistei uma vez uma jovem recém formada que havia pesquisado tanto a empresa que tinha os dados mais recentes e detalhados do nosso negócio. Obviamente nos impressionou muito…

Mais um detalhe. A cultura de elaboração do currículo é diferente em diferentes países, mesmo entre países da América Latina. Como é o seu, é mais assertivo como os americanos? Mais conservador como alguns europeus? Aliás, qual é mesmo a origem da empresa pretendida?

Essa coisa do currículo é uma coisa básica e antiga, talvez em vias de ser tornar completamente obsoleta. Mas já que você analisou o seu próprio currículo confortavelmente instalado no papel do seu destinatário, você ainda o mandaria assim mesmo?

Imagino que este texto sirva para alertar um pouco os jovens, mas há tantos nem tão jovens que seguem cometendo os mesmos pecados. Se você vai enviar um C.V., que seja pelo menos bem elaborado, bem pensado, capaz de tratar o “produto” como ele merece. E aí, o que deveria ser revisado no seu?

YK

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