O governo da China planeja ampliar seu estoque de commodities neste ano e, ao mesmo tempo, limitar o consumo de carvão, parte de uma série de políticas para reduzir a poluição das indústrias e aproveitar os preços baixos das matérias-primas.
Estoque de commodities e outras medidas
O Ministério da Fazenda informou ontem que investirá 156,6 bilhões de yuans (US$ 24,7 bilhões) neste ano para compor reservas de grãos, óleos comestíveis e o que o órgão chama de “outros produtos”, um aumento de 33% em relação ao valor gasto em 2014, quando as despesas com estoques cresceram 22%. Os números foram divulgados em um relatório do ministério para o Congresso Nacional do Povo, evento legislativo anual que está acontecendo em Pequim.
A China importou volumes recorde de petróleo, minério de ferro, cobre e outras matérias-primas no ano passado, num momento em que os preços de algumas das principais commodities caíam para seus menores níveis em mais de cinco anos. A ampliação das importações ressaltou o apetite que a China ainda demonstra por recursos que considera essenciais para seu desenvolvimento no longo prazo, apesar da recente desaceleração nos níveis de consumo.
O Ministério da Fazenda não especificou o que quis dizer com “outros produtos”, mas o petróleo bruto é uma das commodities para as quais Pequim busca acumular reservas estratégicas. A meta da China é ter um estoque de petróleo suficiente para cobrir 90 dias de consumo no caso de uma interrupção no fornecimento, em linha com outros países desenvolvidos.
Metais industriais como o cobre, cuja produção doméstica é pequena, provavelmente estão na lista de matérias-primas que o governo pretende continuar armazenando. A China também compra milho, trigo, soja e outras commodities agrícolas de agricultores, quando os preços de mercado caem abaixo dos preços mínimos garantidos pelo governo.
A maior parte dos gastos extras do ministério será para financiar empréstimos e despesas associadas à aquisição desses estoques, informou o órgão. Mas ele afirmou que os gastos deste ano também cobririam as perdas provocadas pelos leilões de seus estoques de algodão. Negociantes dizem que a China acumula atualmente cerca de 10 milhões de toneladas de algodão, a maior parte comprado quando os preços estavam muito mais altos do que hoje. A China vendeu gradualmente essas reservas no ano passado.
Os números divulgados ontem se referem apenas a gastos realizados pelo governo central e excluem despesas com reembolsos e transferências para governos regionais, que podem elevar significativamente os gastos anuais com estoques.
Na sessão de abertura do Congresso, o primeiro-ministro Li Keqiang disse que o governo vai prosseguir com sua proposta de limitar o crescimento do consumo de carvão por dois anos em “áreas essenciais”.
Li não especificou essas áreas, mas um órgão consultor do legislativo propôs medidas semelhantes em 2013 para cidades com alta taxa de crescimento como Pequim e Tianjin, assim como para as províncias de Hebei e Shandong, o cinturão do rio Yangtze e o delta do rio das Pérolas.
A produção e o consumo de carvão da China caíram em 2014 pela primeira vez em 14 anos devido à desaceleração econômica e às políticas de energia mais limpa, afirmou a Agência Nacional de Estatísticas. Dados divulgados pelo governo mostram que a China está aumentando sua dependência do petróleo bruto e do gás natural para suas necessidades energéticas.
Essa política mais recente do governo parece concebida para acelerar a China na direção de um ponto de inflexão conhecido como “pico do carvão”, quando uma economia industrializada entra num declínio de longo prazo no uso do mineral. A maioria dos economistas prevê que a China atingirá esse pico em torno de 2020, mas alguns dizem que ele já aconteceu.
Na quinta-feira, a China fixou uma meta de crescimento econômico de cerca de 7% para 2015, menor que a expansão de 7,4% registrada em 2014, o que deve ajudar a reduzir o consumo de carvão.
É possível que, mesmo sem essa expansão administrativa, os principais fatores econômicos operem para reduzir o consumo, “mas isso certamente vai dar garantias ao governo que áreas econômicas importantes não vão elevar o consumo de carvão”, diz Li Shuo, analista sênior de clima do grupo ambientalista Greenpeace no Leste Asiático.
Em um relatório que acompanhou o discurso de Li, a principal agência de planejamento econômico da China, a Comissão de Desenvolvimento Nacional e Reforma, também propôs um corte de 3,1% na intensidade energética em 2015.
“É menor que no ano passado, mas é compreensível porque estariam dentro da meta de corte de 16% em cinco anos”, diz Miao Tian, analista de energia do banco de investimento North Square Blue Oak.
A intensidade é uma medida da eficiência energética de uma economia. Níveis maiores indicam um custo mais alto para converter energia em produto interno bruto.
A China reduziu sua intensidade energética em 4,8% no ano passado, ultrapassando a meta de queda de 3,9%, na esteira de políticas ambientais como uma proibição do carvão com altos níveis de poluição e o fechamento de várias usinas siderúrgicas.
Houve pouca reação no mercado de commodities aos anúncios das medidas da China, já que a maioria dos operadores já tinha incorporado aos preços o cenário de crescimento mais lento do país.
Fonte: The Wall Street Journal