São Paulo – A maioria dos brasileiros não planeja parar de trabalhar tão cedo. Ou porque não quer ou porque não pode. Uma pesquisa do banco HSBC, obtida com exclusividade pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, mostra que 62% dos trabalhadores no Brasil planejam uma “semiaposentadoria” antes de vestir o pijama. A média global é de 56%, segundo a pesquisa “O Futuro daAposentadoria”, feita pelo HSBC em 15 países ou territórios.
Por “semiaposentadoria”, o banco entende trabalhar menos horas ou iniciar uma atividade diferente da exercida até aquele momento. Ou seja, quando estaria na fase de parar de trabalhar, o semiaposentado continuaria no emprego que já tem – mas com atribuições compatíveis a uma carga horária menor – ou ingressaria em uma nova frente profissional, seja como empregado ou como empreendedor.
De acordo com a pesquisa, o trabalho em tempo parcial é uma escolha positiva para a maioria das pessoas. Em uma questão da pesquisa, os entrevistados tinham de indicar diferentes motivos que os levaram a optar pela semiaposentadoria. O item mais apontado (42%) foi “manter mente e corpo ativos”. “Gosto de trabalhar” foi selecionado por 18% das pessoas. E “gosto da rotina de trabalho” recebeu 23% dos votos.
Para outros, mudar de vida antes de viver como aposentado é uma necessidade. Cerca de 14% dos aposentados selecionaram como motivo a necessidade de “complementar a diminuição de renda na aposentadoria”. Outros 10% indicaram que “mudanças na política pública afetaram minha situação financeira”.
Independentemente do motivo, planejar uma transição entre uma agitada vida profissional e a aposentadoria é absolutamente benéfico e necessário. “Pensar em projetos que contemplem o continuar trabalhando é bem interessante tanto do ponto de vista de incremento financeiro, quanto do ponto de objetivos, sonhos, produtividade”, diz a sócia da consultoria Angatu IDH e mestre em gerontologia pela PUC-SP, Denise Mazzaferro. A especialista lembra que “viveremos muito mais do que muitos planejaram viver”. “É sempre positivo apostar em um projeto de longo prazo”, diz.
A mesma opinião tem o CEO de Seguros do HSBC, Alfredo Lalia. “O fato de as pessoas estarem mais propensas a continuar ativas, sendo a grande maioria motivada por fatores positivos, é um ponto interessante que a pesquisa mostrou”, afirmou.
Diferença de gerações
Um ponto destacado no estudo pelo HSBC é a diferença de mentalidade entre as gerações. Entre os atuais aposentados, apenas 21% optaram por uma semiaposentadoria antes de parar totalmente. Entre os futuros aposentados, a conta é inversa. Somente 28% planejam alternar do trabalho em tempo integral para a folga total.
Outra evidência dessa diferença pode ser observada quando se divide a amostra em dois grupos por faixa etária. Entre os entrevistados com até 44 anos, 64% planejam reduzir a carga de trabalho e depois de algum tempo parar totalmente. Entre aqueles que têm mais de 45 anos, o porcentual é de 59%. Há também quem acredite que nunca vai poder curtir a vida e viver do que construiu ao longo de décadas de trabalho. Na média brasileira, 10% entendem que vão trabalhar até morrer. Nesse caso, as pessoas mais velhas são mais pessimistas do que as mais jovens. Cerca de 13% de quem tem 45 anos ou mais e apenas 8% entre os entrevistados de até 44 anos entendem que nunca poderão deixar de ter um trabalho remunerado.
Segundo a pesquisa, cerca de metade das pessoas em idade economicamente ativa (47%) que planeja uma transição gradual pretende permanecer no mesmo emprego, mas com uma jornada de trabalho menor. Uma parcela semelhante (42%) planeja mudar de carreira e reduzir a jornada de trabalho. Uma parcela ainda menor (11%) pensa em mudar de emprego, mas mantendo a mesma jornada de trabalho.
Para quem pensa em montar um negócio próprio depois de uma vida como funcionário, a sócia da Angatu IDH faz um alerta. “(Empreender) não é tão fácil para um profissional, por exemplo, que foi a vida inteira executivo de carreira (teve secretária, sala, office boy, etc)”, diz a especialista. Ela argumenta que, assim como os trabalhadores de hoje terão de se reinventar para a aposentadoria de amanhã, o mercado de trabalho também terá de passar por uma transformação. “Quem sabe no futuro existirão programas como os de trainee que valorizarão pessoas com experiência e muito valor?”, questiona.
Muitos aposentados atingiram algumas de suas expectativas para a aposentadoria: cerca de metade pode passar mais tempo com a família e os amigos (51%), viajar muito (47%) e praticar mais esportes (46%). Entretanto, atingir as expectativas para a aposentadoria tem sido mais difícil para alguns. Cerca de três quartos dos aposentados (73%) afirmam que ainda não realizaram ao menos uma de suas expectativas ou sonhos para a aposentadoria. As expectativas não atingidas incluem morar fora do país (22%) e viajar muito (15%).
O Futuro da Aposentadoria é um estudo de pesquisa independente encomendado pelo HSBC. O levantamento desse ano é 11º da série e representa os pontos de vista de mais de 16.000 pessoas em 15 países e territórios em todo o mundo. Além do Brasil, participaram trabalhadores da Austrália, Canadá, França, Hong Kong, Índia, Indonésia, Malásia, México, Cingapura, Taiwan, Turquia, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido, Estados Unidos.
Fonte: Exame