Os prefeitos dos municípios paulistas cobraram do governador, Geraldo Alckmin (PSDB), esclarecimentos sobre o plano de racionamento de água que pretende executar por conta da crise hídrica do Estado de São Paulo, durante reunião na última quarta-feira, dia 28. A falta de água já prejudica cerca de 60 mil empresas e põe em risco mais de 1,5 milhão de empregos.
Alcance da falta de água em São Paulo
“Se haverá racionamento, como está sendo dito pela imprensa de 5 dias sem água e 2 dias com água, as cidades precisam saber como isso vai acontecer”, disse o secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo, João Ricardo Guimarães Caetano, que representou o prefeito Luiz Marinho na reunião com o governador.
O secretário de São Bernardo afirmou que não é possível prever o impacto sobre a atividade econômica, mas que certamente será afetada.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) divulgou dados sobre a crise hídrica para o setor, com 60 mil indústrias e 1,5 milhão de empregos ameaçados pela falta de água.
Para João Ricardo, é vital que a Sabesp, empresa responsável pelo abastecimento em São Paulo, apresente detalhes do plano de racionamento.
“Existem serviços que não podem ter seu fornecimento suspenso, como é o caso de um centro de hemodiálise”, explicou o secretário.
“Se houver interrupção, temos que ter alternativas para não colocar a vida das pessoas em risco”, completou.
Segundo ele, as prefeituras querem que o governo do Estado crie um comitê de crise para que os municípios possam apresentar alternativas para a grave situação hídrica.
“O que não dá é para recebermos informações a conta gotas”, criticou o secretário sobre o posicionamento do governo estadual e da Sabesp, que vem negando há quase um ano a possibilidade de desabastecimento.
Os prefeitos do ABC, junto a outros 20 chefes de cidades paulistas, também defenderam que o governador Geraldo Alckmin divulgue com urgência uma campanha para esclarecer a população sobre a questão.
Relembre o que Alckmin já declarou sobre a crise no Estado
4 de fevereiro de 2014
Alckmin disse que não haveria racionamento e que o estímulo à economia de água, com desconto na conta, seria suficiente para manter o abastecimento. Na época, o Sistema Cantareira estava com 21,4% da capacidade ainda do volume útil. O Governo oferecia desconto para quem economizasse, no mínimo, 20%.
9 de fevereiro
Governador negou novamente racionamento e declarou que campanha evitava desperdício. Sistema Cantareira caiu abaixo dos 20% e Sabesp classificou cenário como preocupante.
25 de fevereiro
Pela primeira vez, Alckmin não descartou racionamento e admitiu o uso dos 400 milhões de metros cúbicos do volume morto. A capacidade dos reservatórios do Cantareira era de 16,9%. Parte da população abastecida pelas represas já recebia água de outros mananciais.
2 de agosto
Governador disse que racionamento de água seria uma atitude irresponsável e que não pretendia mudar estratégia. Sistema Cantareira estava com volume de 15,1%, já com a primeira cota do volume morto.
30 de setembro
Em debate eleitoral, Alckmin disse que não falta e não vai faltar água. Governo é criticado por opositores por Sabesp repartir lucro com acionistas e não ter feito obras emergenciais e estruturantes.
10 de novembro
Declarou que o abastecimento estava garantido para 2015. Cantareira tinha 11,3% da capacidade. Alckmin pediu ao governo federal R$ 3,5 bilhões para a construção de obras.
18 de dezembro
Governo anunciou multa para quem aumentasse consumo e que medida foi de caráter educativo. O volume do Cantareira estava em 6,9%.
14 de janeiro de 2015
Após 11 meses, Alckmin admitiu, pela primeira vez, que há racionamento. Nível do Cantareira estava em 6,3%.
15 de janeiro
Alckmin disse que multa para alto consumo de água deverá evitar racionamento. Cantareira estava com 6,2% da capacidade após esgotar volume útil e o primeiro volume morto.
Números da crise
6,2 MILHÕES é a quantidade de pessoas na região metropolitana que recebem água pelo Sistema Cantareira.
60 MIL é o número de indústrias no Estado que deverão ser afetadas pela falta de água.
1,5 MILHÃO de empregos estão ameaçados.
60% do PIB industrial do Estado de São Paulo é representado pelas empresas que sofrerão com a crise hídrica.
144,3 MIL LITROS é o volume utilizado para a produção de um carro.
Fonte: Agência FEM-CUT/SP