Com uma maior oferta de empregos atualmente nos EUA, Matt Tait poderia facilmente encontrar um trabalho de tempo integral.
Mas ele queria se dedicar a seu negócio de brinquedos de madeira e, por isso, aceitou uma vaga de meio período na Team Detroit, a agência de publicidade da Ford Motor.
A vantagem é dupla. O chefe de Tait está contente por contar com ele porque as atividades externas do designer gráfico de 31 anos o tornam mais criativo.
E Tait tem tempo para administrar a Tait Design Co., que vende aeromodelos e ioiôs de madeira criados por ele.
Seis milhões de americanos como Tait estão optando por trabalhos de meio período, segundo o Escritório de Estatísticas do Trabalho dos EUA (BLS, na sigla em inglês).
Normalmente jovens e com estudos universitários, essas pessoas não estão fazendo essa escolha porque circunstâncias pessoais ou econômicas as obrigam.
Em vez disso, muitas estão abandonando o caminho tradicional na carreira, adotado por seus pais, e trabalhando apenas a quantidade de horas suficiente para pagar as contas ou ir em busca de uma paixão: produção de brinquedos, marionetes, advocacia sem fins lucrativos.
O tamanho desse grupo aumentou 12 por cento desde 2007, segundo o BLS, uma mudança com amplas implicações para as práticas de contratação.
“A força laboral antigamente se organizava em torno da empresa”, diz Chauncy Lennon, que administra as iniciativas para a mão de obra do JPMorgan e está estudando regimes de trabalho flexíveis.
“A força laboral do futuro se organiza em torno do trabalhador. Se nós não conseguirmos encontrar as pessoas certas, nosso lucro será prejudicado”.
Alertas de texto
As empresas dispostas a contar com esse grupo de trabalhadores qualificados estão ajustando os empregos aos indivíduos — e não o contrário. A Team Detroit permitirá que Tait fique alguns meses sem trabalhar no fim do ano para que ele possa se dedicar a atender as encomendas para a temporada natalina.
A Deloitte Tax está dividindo projetos em partes e distribuindo-as a equipes de profissionais que trabalham meio período. A gigante dos serviços ao cliente TeleTech Holdings envia alertas de texto com ofertas de trabalho a um grupo de profissionais que dizem aos chefes se estão disponíveis ou não.
Mais de 20 milhões de americanos estão trabalhando menos de 35 horas por semana por “motivos não-econômicos”, segundo o BLS. Em outras palavras, trata-se de uma escolha deliberada — e não por não conseguirem empregos de tempo integral.
Dois terços desses 20 milhões estão trabalhando em meio período porque têm obrigações familiares, estão frequentando a faculdade ou estão semiaposentados.
‘Algo estava faltando’
A terceira fatia é formada pelos 6 milhões de americanos enfocados por essa reportagem — muitos deles pessoas como Tait, que estão trabalhando meio período porque não querem se comprometer com um emprego ou empregador.
Ninguém sabe se essa tendência vai durar ou se tornar mais generalizada. Mas, se cada vez mais americanos escolherem esse caminho profissional, as empresas precisarão se adaptar, diz John Challenger, que administra a Challenger, Gray Christmas, uma empresa de consultoria em recursos humanos de Chicago.
Tait diz que ganhou um bom dinheiro durante quatro anos como designer gráfico em tempo integral antes de se juntar à Team Detroit em um esquema de meio período.
“Algo estava faltando”, diz ele. “Eu sempre quis construir meu próprio negócio”.
Desde 2000, a SnagAJob vem ajudando profissionais que cobram por hora a encontrarem trabalhos de meio período, como aulas de idiomas, auxílio em escritórios ou em hotéis.
A Working Not Working dá a trabalhadores criativos de meio período uma forma de fazer com que as empresas saibam se eles estão disponíveis para contratação. A FlexJobs atende especificamente as pessoas que não gostam de trabalhar em escritório.
“O trabalho perfeito não se resume a um só trabalho, de jeito nenhum”, diz Peter Harrison, CEO da SnagaJob.
“É uma combinação. Eles estão dizendo, ‘eu prefiro compor minha semana de trabalho perfeita como um coquetel em vez de tomá-la diretamente’”.
Fonte: Exame