Durante os altos e baixos de vários ciclos econômicos, um aspecto da mineração se manteve estável: o exército de motoristas de caminhões transportando o minério de ferro retirado de minas profundas e túneis subterrâneos. Mas, agora, a mineradora anglo-australiana BHP Billiton Ltd. está testando uma tecnologia que pode mudar esse cenário.
Em Port Hedland, que abriga um extenso porto na região remota de Pilbara, na Austrália Ocidental, uma esteira transportadora de 200 metros de extensão carrega mais de 10 mil toneladas de minério de ferro por hora até navios de carga com destino à China e ao Japão. A BHP espera que a tecnologia, que começou a operar na semana passada, após meses em desenvolvimento, dê uma outra dimensão à sua campanha para elevar a produtividade, que já gerou uma economia anual de US$ 10 bilhões.
Uma queda expressiva nos preços das commodities nos últimos cinco anos afetou o lucro da indústria da mineração, levando a BHP e suas rivais, entre elas a Vale SA e a também a anglo-australiana Rio Tinto PLC, a buscar formas de reduzir o custo de operação de suas minas.
A primeira onda de corte de custos se concentrou na demissão de trabalhadores, fechamento de minas deficitárias em países como Austrália e Canadá e cortes de investimentos na exploração de novos depósitos minerais. Mas as empresas também investiram mais no desenvolvimento de tecnologias que podem ajudá-las a chegar a lugares mais remotos, escavar veios mais profundos e levar o minério mais rapidamente ao mercado.
Sistemas motorizados de esteiras de transporte na Ilha Finucane, adjacente a Port Hedland, estão entre as várias ideias sendo analisadas pela BHP. Supercomputadores e drones com sensores militares, capazes de elaborar mapas tridimensionais de uma mina em tempo real, também desempenharão um papel importante no futuro da mineração, disse Diane Jurgens, diretora de tecnologia da empresa e ex-engenheira da Boeing Co.
Embora as mineradoras usem esteiras de transporte em suas minas há muito tempo, elas sempre tiveram atuação limitada. Os sistemas tradicionais empregam polias nas duas extremidades para movimentar a esteira, o que significa que elas são adequadas só para pequenas distâncias. A BHP afirma que seu novo modelo — que torna a montagem e a operação das esteiras mais baratas e é mais fácil de controlar — pode ampliar esses limites, conectando minas profundas e túneis subterrâneos com as fábricas de processamento e os pátios das ferrovias.
As novas técnicas “potencialmente mudam a forma como exploramos o subsolo”, disse Jurgens em uma entrevista ao The Wall Street Journal.
A executiva está ansiosa para testar a tecnologia na mina de cobre Escondida, no Chile, onde há um depósito com mais de 540 metros de profundidade, e no projeto de potássio Jansen, no Canadá, onde a BHP está investindo bilhões de dólares para explorar veios 800 metros abaixo da superfície.
Esteiras motorizadas também ajudam a mineradora a separar o valioso minério do refugo mais rapidamente. Com o material “espalhado na esteira, é muito mais fácil fazer [a separação] do que despejar 200 mil toneladas na carroceria de um caminhão de entulhos”, diz ela.
A BHP não é a única a apostar na automação para tarefas que antes exigiam uma equipe treinada de mineiros. Durante os anos de alta nos lucros do setor — impulsionados pela crescente demanda da China por commodities como minério de ferro e carvão — os salários dos funcionários dispararam. No auge, motoristas de caminhão e operadores de brocas de perfuração na região de Pilbara podiam ganhar até US$ 200 mil por ano.
O histórico do setor em inovação, porém, não é dos melhores.
A Rio Tinto tinha planos de colocar em operação, no ano passado, trens com direção autônoma para transportar minério das minas de Pilbara até os portos, mas a tecnologia não foi aprovada nos testes finais. O atraso levou a empresa a reduzir sua estimativa de produção de minério de ferro em 2017.
“As empresas de mineração são avessas ao risco por natureza”, diz David Cormack, líder da área de mineração na consultoria Deloitte. “Um pequeno atraso operacional provocado por um novo processo ou uma nova tecnologia pode se tornar um obstáculo.”
A indústria obteve melhores resultados com centros de operação remota, que permitem que as mineradoras monitorem atividades a centenas de quilômetros de distância através de conexões via satélite. A BHP planeja lançar sondas autônomas em todas as suas operações de minério de ferro da Austrália e em minas em outros lugares, depois que testes na mina de Yandi, também em Pilbara, mostraram que os robôs produzem mais minério a um custo menor.
Mesmo assim, as empresas estão sob pressão para acelerar a inovação, já que suas opções para cortar curtos estão acabando.
Em Escondida, a maior mina de cobre do mundo, a BHP está testando sensores que podem determinar se uma rocha sendo escavada tem valor ou é refugo, uma tecnologia que pode elevar em até 10% a graduação do cobre que é enviado para as unidades de processamento e reduzir a necessidade de expansões caras das fábricas no futuro.
Drones com sensores infravermelhos e zoom telescópico sobrevoam a mina de carvão de Goonyella Riverside, na região leste da Austrália, e ajudam a mostrar quando uma área que será detonada foi totalmente evacuada de pessoas e equipamentos, entre outras utilidades. Isso significa que os gerentes podem reunir informações sem ter que fretar veículos e aviões para cruzar toda a área, que se estende por 25 quilômetros de comprimento e 9,5 quilômetros de largura.
Ainda assim, a BHP e suas rivais podem ter problemas se automatizarem rápido demais à custa de empregos, especialmente na Austrália, onde grande parte da mão de obra é sindicalizada.
“Não automatizaremos tudo — há muitas razões pelas quais as pessoas são uma parte integral do processo”, disse Jurgens
As informações são do site The Wall Street Journal