Sete tecnologias já têm impactos disruptivos em sistemas produtivos estratégicos da indústria brasileira. Inteligência artificial, Internet das Coisas (IoT), produção inteligente e conectada, materiais avançados, nanotecnologia, biotecnologia e armazenamento de energia vêm provocando mudanças significativas em modelos de negócio, padrões de concorrência e em estruturas de mercado para os setores de agroindústria, química, petróleo e gás, bens de capital, automotivo, aeroespacial e defesa, tecnologia da informação e comunicação, bens de consumo e farmacêutico.
A análise é do estudo inédito divulgado nesta segunda-feira (16/10) pelo Projeto Indústria 2027, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), com execução técnica dos institutos de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Na primeira fase do projeto, cerca de 40 pesquisadores brasileiros e estrangeiros identificaram e analisaram 8 tecnologias de alta relevância para a indústria nacional e mundial e o potencial de impacto para 10 setores produtivos brasileiros. A próxima etapa, divulgada até o início do ano que vem, consistirá no detalhamento dos impactos para cada setor.
Para o superintendente nacional do IEL, Paulo Mól, o estudo será determinante para a formulação de políticas públicas e estratégias para que a indústria brasileira retome o caminho do crescimento de maneira sustentável. “Um estudo com essa magnitude e detalhamento é inédito no Brasil e servirá para desenhar uma estratégia para o país. Esta é uma agenda imprescindível para a retomada do crescimento, a modernização da indústria e a competitividade da nossa economia”, afirma.
NOVOS MATERIAIS – Até o momento, a inovação disruptiva em curso na maior quantidade de setores (química, petróleo e gás, aeroespacial e bens de consumo) são os materiais avançados – novos insumos que permitem o desenvolvimento de produtos inéditos, como itens de vestuário com propriedades de alto desempenho; medicamentos com liberação controlada, materiais para impressão 3D e abertura de novos mercados, como biorrefinaria.
A biotecnologia vem em segundo lugar com impactos atuais em três setores – químico, farmacêutico e agro. Na agroindústria, por exemplo, a tecnologia tem sido usada para aumentar a resistência das plantações às pragas e aumentar a produtividade de rebanhos leiteiros. A promessa é que a tecnologia poderá levar à customização da produção agrícola. Já para a indústria farmacêutica, marcadores genônicos as engenharias genéticas são as apostas para diagnóstico prévio e tratamento personalizado de doenças.
CLASSIFICAÇÃO – O estudo traz três tipos de classificação quanto ao impacto das tecnologias sobre os setores analisados:
MODERADO: para inovações que aumentam a competitividade das empresas por meio de crescente eficiência.
DISRUPTIVO: para mudanças significativas em modelos de negócio, padrões de concorrência, e/ou estruturas de mercado do sistema já estão em curso.
POTENCIALMENTE DISRUPTIVO ATÉ 2027: quando o impacto é moderado hoje e a evolução até o final do período pode implicar em disrupção.
ATÉ 2027 – As tecnologias com maior potencial de promover mudanças nos próximos dez anos, para a maioria dos setores, serão a inteligência artificial, a Internet das Coisas (IoT, em inglês) e a produção inteligente. De acordo com o estudo, apenas a inteligência artificial movimentará US$ 60 bilhões até 2025. Os usos são os mais variados possíveis: relevante contribuição para a agricultura de precisão, monitoramento de performance de poços de petróleo, uso de drones para entregas e processos logísticos, viabilização de frotas autônomas, monitoramento preditivo de anomalias em aviões e ganho de escala do uso de robôs domésticos.
IoT e produção conectada, intimimamente relacionadas, por sua vez, prometem promover maior integração das cadeias produtivas e estreitar a conexão entre consumidores e produtores em todos os sistemas produtivos examinados. “O processo de transformação em todos os sistemas produtivos está em curso. De modo geral, entre os três tipos de impacto, prevalecem impactos potencialmente disruptivos. Todos, com exceção de insumos básicos, estão diante de pelo menos um processo já disruptivo em 2017”, avaliam os especialistas.
Também merece destaque o potencial de transformação radical vindo da nanotecnologia, que tem múltiplas aplicações em todos os sistemas produtivos, como por exemplo em nanomedicina, nanocosméticos, nanoeletrônica e novos materiais para computação; vestuário e dispositivos flexíveis e vestíveis; sensoriamento para Internet das Coisas; energia como tecnologia auxiliar; e alimentos como tecnologia habilitadora para garantir segurança alimentar e “nanocomidas” (nanofood). Em termos de impacto econômico, estima-se que a nanotecnologia representará um mercado de R$ 174 bilhões até 2025.
DESAFIOS – O estudo também identifica desafios à aplicação e difusão da inovação no Brasil. Novos marcos regulatórios, padrões técnicos e qualificação de pessoas aparecem entre os principais. O estudo chama a atenção de governantes e empresários quanto à urgência de estabelecer políticas e estratégias de ação para acompanhar as tendências tecnológicas.
“Países como Estados Unidos, Alemanha, China, Coréia do Sul e Japão, entre outros, possuem em curso estratégias para suas indústrias adotarem inovações associadas aos clusters objeto do Projeto Indústria 2027. Enquanto para alguns países, trata-se de um esforço incremental, uma vez que suas empresas já lideram a corrida tecnológica, para outros, é preciso desenhar e implantar estratégias específicas que possam permitir um emparelhamento ou mesmo um salto tecnológico. É necessário que as empresas brasileiras, com urgência, introduzam em suas decisões estratégicas, planos de investimento nas inovações disruptivas relevantes para sua competitividade”, diz o estudo.
“Mesmo que estejamos relativamente atrasados em relação a outros países, identificamos janelas de oportunidade ainda abertas e amplas. Ou seja, há espaço para que se façam, hoje, investimentos que levarão a aprendizagem, capacitação, e aquisição de competências”, afirma o superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi, Paulo Mól.
SAIBA MAIS
Confira aqui a Nota Técnica do primeiro estudo do Indústria 2027.
Por Ariadne Sakkis
Da Agência CNI de Notícias