Jorge Gerdau Johannpeter, diretor presidente do Conselho de Administração da Gerdau e conselheiro da presidente Dilma Rousseff desde 2010, defende isonomia para o mercado das siderúrgicas no Brasil. Em 2007, ele disse em entrevista ao O POVO que era contra os subsídios ao então projeto da Siderúrgica Ceara Steel. Mais tarde, o projeto mudou e virou a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP).
O empresário também falou sobre a importância do Business Meeting 2014 do Brics (grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Além de opinar quais os interesses e desigualdades entre os países da Cúpula, como a agenda dos empresários pode influenciar na agenda política dos Brics e qual a importância do Novo Banco de Desenvolvimento da Cúpula.
O POVO – O senhor acredita que novos negócios saiam deste encontro?
Jorge Gerdau – É extremamente importante esse encontro dos Brics, sobretudo na parte de negócios, para se aprofundar e dar potencialidade à integração de interesses. Existem embates entre os países, mas, indiscutivelmente surgem vários aspectos em que existem complementaridade e que podem ser utilizadas no desenvolvimento dos negócios. Daí a importância desse tipo de reunião.
OP – Quais os principais interesses entre os países dos Brics que o senhor enxerga?
Gerdau – Eu diria que isso depende um pouco da análise de setor, mas no que existe em comum no cenário dos mercados gerais é: o protecionismo e os mercados fechados. Para conseguirmos maiores interações, principalmente as cadeias produtivas teriam que buscar maior interação, como foi apresentado no fórum. Então, existem muitos espaços que têm que ser debatidos e analisados ponto por ponto para ver quais são os impedimentos.
OP – Quais são as principais desigualdades entre os países que compõem o grupo?
Gerdau – Cada país tem suas características. A China tem uma necessidade absoluta de matérias primas, tanto de commodities como de produtos minerais, e tem interesse de exportação de manufaturados. A Rússia no campo energético. O Brasil tem problemas de crescimento na competitividade das suas exportações e tem potencial de aumentar a exportação principalmente na cadeia de agronegócio. A áfrica vamos dizer que talvez tenha condições de aproveitar conhecimentos de tecnologia que o Brasil tem no agronegócio. Então, existem coisas que podemos construir nesses intercâmbios e para o desenvolvimento de cada um desses países.
OP – O senhor acredita que o Novo Banco de Desenvolvimento do Brics terá o poder de consolidar o grupo?
Gerdau – Por isso que é importante os empresários participarem para colocar a tona onde é que tem limitações na interação entre os países, quais são os problemas, para, através de trabalho político, diminuir as barreiras limitadoras.
OP – E a criação do Novo Banco de Desenvolvimento do Brics, vem para consolidar o grupo?
Gerdau – Eu acho que há uma série de outros projetos que, talvez, com o apoio de mais um novo Banco de perfil internacional pudesse fortalecer ou até criar trabalhos conjuntos de um país para outro em relação ao desenvolvimento dos Brics.
OP – Sendo a China o país que fez o maior aporte para a criação desse Banco, não aumentaria a desigualdade entre os países que compõem o Brics?
Gerdau – Eu acho que o aporte está um pouco na proporção dos recursos de cada país e sempre foi assim em todos os lugares. Por isso, então, a maior participação dos Estados Unidos no Banco Mundial e assim por diante. Mas eu diria que num processo de votação a China ela teria uma porção maior no conjunto dos outros países. Então se tem o equilíbrio necessário para o processo de formação do Banco.
OP – Mudando de assunto. O senhor foi um tanto crítico com a ideia de uma Siderúrgica no Ceará…
Gerdau – Eu não fui crítico ao Ceará. Eu quero isonomia competitiva em tudo. Eu não sou contra a Siderúrgica, pelo contrário, eu tenho usina aqui. Mas você não pode criar para uma empresa condições competitivas que as outras não têm: que seria, no caso do Estado, a Petrobras fornecer para essa empresa custo de gás privilegiado enquanto nós estamos importando carvão para produzir. Então, você criaria um desbalanceamento, que no meu entender, não só para a siderurgia, mas para qualquer tipo de negócio.
OP – Como seria esse desbalanceamento?
Gerdau – O grande vilão para qualquer negócio é: conceder-se privilégio apenas para uma região ou outra. Então você tem que estabelecer isonomia para os custos. Nós estamos satisfeitos que se tenha conseguido resolver o problema da Siderúrgica e dentro da filosofia do setor. Agora, eu perguntaria o contrário, você aceitaria que uma siderúrgica tivesse privilégio em Minas Gerais, de competitividade? Nós só pedimos isonomia competitiva.
OP – A Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) vai começar a funcionar e vai exportar dentro de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE). Como o senhor avalia hoje o projeto?
Gerdau – É mais uma usina que está no mundo ela tem que competir, mas se estiver dentro da ZPE e não perturbar o mercado interno com privilégios está tudo bem.
OP – O senhor é contra o aumento do percentual de produção das ZPEs a ser vendido no mercado interno?
Gerdau – Se vender e nas condições de qualquer produto importado, está tudo bem. Não pode ter não isonomia competitiva porque isso é um tratamento desigual perante a lei.
OP – E a polêmica da compra da refinaria de Pasadena, como o senhor analisa o caso hoje?
Gerdau – Eu prefiro não me posicionar. Eu acho que eu já dei meu posicionamento muito claro por escrito. Não tenho muito para adicionar, porque uma coisa é a análise técnica e outras são os debates políticos que existem sobre o tema. Não tenho nada mais para acrescentar.
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