São Paulo – O avanço das importações brasileiras de aço agrava o cenário que já era complicado com a retração da indústria de transformação para a retomada de investimentos adiados pelas empresas do setor depois da crise financeira de 2008. O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, deixou claro ontem que a empresa já não considera implantar o projeto original de uma usina siderúrgica em Congonhas, na Região Central de Minas Gerais, orçado há sete anos em R$ 6,2 bilhões.
A opção ainda estudada pela CSN é a de uma única linha de aços longos, em lugar do objetivo inicial de oferecer também aços planos. “Estamos discutindo o projeto de uma usina de aços longos. Não se desistiu ainda, há uma possibilidade”, disse o empresário, que participou, ontem, da abertura da 25ª edição do Congresso Brasileiro do Aço.
O grupo ArcelorMittal, da mesma forma, mantém suspenso, por enquanto, o projeto de duplicar a usina de João Monlevade para capacitá-la a produzir 2,4 milhões de toneladas por ano. O presidente-executivo da ArcelorMittal Aços Longos, Jefferson de Paula, confirmou que as obras em curso na siderúrgica mineira consistem na instalação de um laminador, apenas a parte inicial do projeto da companhia. “Nós vamos seguir sempre o mercado”, disse o executivo, em relação à possibilidade de a duplicação sair do papel.
A Aperam South America, empresa criada a partir da separação dos ativos de aços inoxidáveis do grupo ArcelorMittal e que opera no Brasil a usina de Timóteo, no Vale do Aço (ex-Acesita), também optou por só fazer investimentos em melhorias de processos e enobrecimento de produtos. Planos de expansão estão fora do radar da companhia, disse o diretor-comercial Frederico Ayres. “O mercado é que viabiliza investimentos”, afirmou. A empresa aprovou no mês passado um aporte de US$ 17 milhões na fábrica para elevar o conteúdo tecnológico da linha de aços elétricos, que passarão a ter maior eficiência energética, portanto, serão mais competitivos.
As consequências do desequilíbrio entre a oferta e a demanda por aço no mundo – a capacidade de produção das empresas supera a demanda em 600 milhões de toneladas – concentraram os debates no Congresso Brasileiro do Aço de um grupo de pesos-pesados das empresas com negócios no Brasil. Responsável por 91% de toda essa sobra, a China exportou 60 milhões de toneladas ao planeta no ano passado e já invadiu o mercado mundial com outras 40 milhões de toneladas no primeiro semestre deste ano.
Antidumping
Segundo dados do Instituto Aço Brasil (IABr), apesar de o governo brasileiro ter adotado algumas medidas de proteção do mercado interno contra a entrada de aço estrangeiro, as importações deverão atingir 8,709 milhões de toneladas em 2014 entre produtos siderúrgicos e mercadorias que contêm aço, nível inferior em apenas 607 mil toneladas na comparação com 2013. Os representantes do setor reclamaram mais empenho do governo federal na aplicação de instrumentos antidumping ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Mauro Borges Lemos, que esteve na abertura do evento.
O ministro admitiu que o governo tem de reforçar medidas antidumping e reconheceu as dificuldades da indústria, depois de ouvir duras críticas do presidente da CSN e da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. O empresário disse que a situação é complicada, enfatizando juros altos e o chamado custo Brasil, e que jamais ter visto um ano de eleições com uma perspectiva tão forte de recessão quanto agora. “Hoje, para investir no Brasil, só louco. Aquele empresário que tem um ajuste a fazer em relação a um produto, aquele que vê a oportunidade com a saída de um concorrente”, criticou.
Mauro Borges argumentou que o Brasil atingiu o fundo do poço com os efeitos da crise financeira mundial de 2008, depois de ter reagido bem à turbulência até 2010, diferentemente de outras nações emergentes. O nível de crescimento brasileiro, segundo ele, está acima da média mundial, quando retirada a participação da China nessa avaliação dos últimos sete anos. “Isso não é conforto para ninguém, mas um desafio dessa monta só vivemos na crise de 1929”, tentou rebater.
(*) a repórter viajou a convite do Instituto Aço Brasil
Marta Vieira do http://www.em.com.br/