Mas quais as armas do Brasil diante dessa crise? Esse foi um dos aspectos abordados por Jorge Camargo, presidente do IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), e Paulo Martins, presidente da Abespetro (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo), no último encontro do WECP (World Energy Cities Partnership), realizado no Rio de Janeiro.
Potencial exploratório
Uma de nossas maiores vantagens nesse cenário é que o país conta com reservas de 40 bilhões de barris descobertos – “e provavelmente mais 40 bilhões ou mais para descobrir”, afirma Camargo, destacando especialmente o pré-sal. Para deixar ainda mais claro como essa região é valiosa, ele cita outro dado: um poço normal, considerado “bom”, costuma produzir cerca de 2 mil a 3 mil barris por dia; enquanto cada poço do pré-sal produz de 20 mil a 30 mil diariamente. Isso faz com que a exploração do pré-sal seja economicamente vantajosa mesmo que o preço do barril esteja baixo – em torno de US$ 45. Em outubro, o barril foi comercializado, em média, por US$ 48,12. “Podemos dobrar ou mesmo triplicar nossa produção, chegando a 6 milhões de barris por dia. E temos capacidade de triplicar o valor dos investimentos feitos em exploração”, afirma.
Capacidade tecnológica
Outro recurso contra a crise é o conhecimento tecnológico. O pré-sal é um dos ambientes mais difíceis de ser explorado, exigindo grande capacitação técnica. E isso o país tem. Uma prova é o fato de a Petrobras ter recebido neste ano, pela terceira vez, o OTC Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations, and Institutions – maior prêmio que uma empresa de petróleo pode receber como operadora offshore (ultramar). “Nos últimos anos, foi criada uma capacitação muito forte, que dificilmente se vê em outros países”, disse Paulo Martins, presidente da Abespetro – a entidade reúne 50 das maiores empresas que atuam no segmento de óleo e gás no Brasil.
Segundo Martins, hoje o país conta, por exemplo, com duas plantas de fabricação de tubo rígido (utilizado no transporte de petróleo e gás), três plantas produzindo cabos umbilicais (conjuntos de mangueiras e cabos elétricos usados para operar remotamente equipamentos e válvulas instalados no fundo do mar, entre outras funções), além de quatro fábricas de equipamentos submarinos, como a “árvore de Natal molhada” (o nome curioso se refere a um conjunto de válvulas instalado na cabeça do poço para controlar o fluxo de fluidos produzidos ou injetados no local). “Por muito tempo, falou-se que nós teríamos gargalo de pessoal, de cadeia de suprimentos etc. E nós conseguimos superar esses gargalos mesmo em momentos com alta demanda”, lembra Martins, destacando que o país conta com um parque industrial preparado para uma procura por petróleo três vezes superior à atual.
Agora, quando o momento é de crise do petróleo, torna-se fundamental assegurar a continuidade dos programas de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Afinal, é a partir deles que podem surgir novas ideias para baixar os custos da exploração petrolífera, tornando futuros projetos economicamente viáveis, afirma Martins. “A gente tem que melhorar nossa competitividade e manter essa capacitação que foi construída com grandes esforços.”
Fonte: Época Negócios