Muito se fala no efeito positivo que a alta do dólar poderá ter nas exportações brasileiras. Mas outro impacto fundamental da forte desvalorização cambial no Brasil no setor da indústria neste ano é tornar mais competitivo o produto fabricado no Brasil, em detrimento dos importados. É o que se chama tecnicamente de substituição de importações.
Como todo processo econômico, esse também leva tempo. Mas economistas (de dentro e de fora do governo) e representantes do setor empresarial já percebem que esse movimento está em curso no Brasil. Apesar de ainda não ser possível mensurar o tamanho do fenômeno, a leitura de quem entende do assunto é de que ele ainda está iniciando e que sua intensificação dependerá também da retomada da demanda interna. É que, com a renda e o crédito em baixa, os consumidores e empresários não estão muito animados para comprar produtos e insumos, sejam eles fabricados no Brasil ou fora.
A economista também salienta que com o encarecimento das importações, o mercado brasileiro começa a perceber mais claramente a relevância das marcas nacionais. “Temos uma oportunidade para as empresas substituírem fornecedores externos por nacionais”, afirmou Celina.
Ineficiências
O vice-presidente e diretor titular do departamento de competitividade e tecnologia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), José Ricardo Roriz Coelho, avalia que, de fato, já é possível perceber movimentos de substituição de importação, mas ponderou que a taxa de câmbio não pode ser vista como um corretor de competitividade por si mesma. Segundo ele, o Brasil tem muitas ineficiências que prejudicam a competitividade das empresas “da porta para fora da fábrica”.
Entre esses custos, ele salientou a energia, juros altos, burocracia e mão de obra. “Houve uma melhora substancial com o dólar, mas as ineficiências continuam”, afirmou Roriz. “É fato que já está ocorrendo substituição de importações, mas isso não ocorre de forma generalizada”, acrescentou, listando setores como autopeças, alimentos e máquinas e equipamentos como beneficiários mais evidentes do câmbio desvalorizado.
O dirigente da Fiesp também ponderou que o processo de substituição tem sido limitado pela baixa atividade econômica e pelas ineficiências que persistem no país. “As empresas nacionais não vendem mais porque o mercado interno está caindo. A crise seria ainda maior se não fosse a desvalorização cambial”, disse.
O MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) explicou que a substituição das importações ainda é um movimento incipiente, difícil de se captar pelos dados da balança comercial. O ministério diz que há, por exemplo, indícios de um movimento pontual no setor de elétricos, de algumas empresas substituindo componentes ou insumos importados por nacionais.
A balança comercial de produtos eletroeletrônicos registrou, de janeiro a outubro deste ano, deficit de US$ 22,8 bilhões, valor 22% abaixo do verificado no mesmo período do ano passado (US$ 29,3 bilhões).
Nesse intervalo, as importações atingiram US$ 27,6 bilhões e as exportações somaram US$ 4,8 bilhões, o que explica o saldo negativo.
Da mesma forma, a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) informa que “a queda nas importações ocorreu muito mais por causa do fraco desempenho do mercado interno do que pelas indicações de algumas poucas empresas de que estão substituindo componentes ou insumos importados por nacionais, pressionadas pelo patamar cambial”.
Fonte: Fato Online