O grupo OAS formalizou seu pedido de recuperação judicial nesta terça-feira 31. Com dificuldades desde que foi atingido pela Operação Lava Jato e decidiu, no fim de 2014, suspender os pagamentos que venceriam a partir de janeiro. Sua dívida é estimada em cerca de R$ 8 bilhões. A OAS pediu proteção para nove empresas.
Para fazer caixa, o grupo também colocará à venda a participação que possui em seis companhias e duas arenas de futebol construídas para a Copa. O ponto é que a maioria dos negócios no pacote está com algum tipo de problema. A mais saudável é a Invepar, empresa que administra o Aeroporto Internacional de Guarulhos, conhecido pelos paulistas como Cumbica.
Empresas postas à venda pela OAS para se salvar da falência
Invepar
Criada em março de 2000, a Invepar atua na área de concessões no setor de infraestrutura. A OAS colocou à venda sua fatia de 24,44%. Seus sócios, no negócio, são a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil); Petros (dos funcionários da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal).
O principal contrato da Invepar é a concessão do Aeroporto Internacional de São Paulo, conhecido pelos paulistas como Cumbica. A Invepar detém outras seis concessões em infraestrutura: o Metrô Rio, que opera as linhas 1 e 2 do metrô carioca; a Bahia Norte, em parceria com a Odebrecht, que opera as rodovias do sistema BA 093; Linha Amarela, uma das mais importantes vias expressas do Rio de Janeiro; CLN, que administra a rodovia BA 099, no Norte da Bahia; Cart, consórcio que opera a rodovia Raposo Tavares; CRT, da rodovia Rio-Teresópolis; e a CRA, responsável pelo complexo viário de Suape, em Pernambuco.
No ano passado, a receita líquida da Invepar foi de R$ 3 bilhões, um crescimento de 23% sobre 2013. A geração de caixa, medida pelo ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) cresceu 27%, para R$ 1,4 bilhão.
O negócio é tão estratégico para a OAS, que um de seus maiores esforços foi evitar que a Invepar fosse atingida pela recuperação judicial do grupo. Seus credores chegaram a acusar o grupo de manobras para diluir o patrimônio, ao promover alterações societárias no fim do ano passado.
Estaleiro Enseada Paraguaçu
A fatia da OAS na empresa é de 17,5%. A construção do estaleiro começou em 2013, na cidade de Maragogipe, no Recôncavo Baiano. Com investimento previsto de mais de R$ 2 bilhões, as instalações tinham, como objetivo principal, a construção de sete sondas para a Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras para administrar o aluguel dos equipamentos. O contrato atinge US$ 7 bilhões. Em dificuldades financeiras, a Sete Brasil acumula R$ 500 milhões em dívidas com o estaleiro.
Além disso, a Operação Lava Jato atingiu a OAS e seus sócios na empresa, forçando a Petrobras a suspender repasses de recursos. As obras do estaleiro foram suspensas em fevereiro, com 82% das instalações concluídas. Estima-se que mais de 5 mil funcionários tenham sido demitidos, devido à paralisação do projeto.
OAS Empreendimentos
A OAS detém 80% da empresa, criada para atuar no mercado imobiliário. A OAS Empreendimentos opera em quatro estados e no Distrito Federal e lançou, entre 2007 e 2013, 12 mil unidades, com valor geral de vendas de R$ 4 bilhões. O principal sócio da OAS na incorporadora é a Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa, que detém R$ 200 milhões investidos no negócio. O fundo havia se comprometido a aplicar outros R$ 200 milhões até março, mas suspendeu o repasse, depois que a OAS foi envolvida no escândalo da Lava Jato.
Além disso, a própria incorporadora enfrenta dificuldades. O último balanço divulgado, do terceiro trimestre de 2014, mostra que a OAS Empreendimentos acumula um prejuízo de R$ 1 bilhão.
OAS Soluções Ambientais
Criada para atuar no setor de saneamento básico, a OAS Soluções Ambientais também não vive um período fácil. No ano passado, a empresa, integralmente controlada pela OAS, venceu a licitação promovida pela prefeitura de Guarulhos, na Grande São Paulo, para assumir a rede de esgotos da cidade. O modelo é uma parceria público-privada. O contrato, já assinado, é questionado judicialmente pelo governo do Estado e pela Sabesp, a companhia paulista de águas e esgoto. O governo de Geraldo Alckmin afirma que as leis sancionadas pela prefeitura de Guarulhos, em 2012, para garantir a PPP fere a constituição estadual.
A OAS enfrenta, ainda, dificuldades em outra licitação, suspensa em fevereiro. Trata-se da PPP promovida pela prefeitura de Mauá, também na Grande São Paulo, para tratamento de esgotos. A ação é movida pelo governo estadual, que, nesse caso, questiona se a autarquia municipal responsável pelo saneamento, a Sama, terá condições de quitar sua dívida de R$ 2 bilhões com a Sabesp, caso a PPP vá em frente.
OAS Óleo e Gás
O grupo detém 61% da OAS Óleo e Gás, que atua nas áreas de exploração e produção de petróleo e gás natural. Em outubro de 2013, a empresa ganhou, como sócio, o Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS), criado pelo governo federal em 2007, para reforçar os investimentos do Executivo em infraestrutura.
O acordo determinou um aporte de até R$ 800 milhões do FI-FGTS na OAS Óleo e Gás, e foi aprovado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em novembro daquele ano. Uma reportagem da Folha de S.Paulo, publicada no fim de fevereiro, afirma que esse é o investimento mais arriscado do FI-FGTS, devido aos riscos decorrentes da inadimplência da OAS e da recuperação judicial, que já surgia no horizonte.
OAS Defesa
A OAS controla 100% do capital da OAS Defesa, criada em 2012 com o objetivo de prestar serviços para as Forças Armadas do Brasil. Recentemente, a empresa sofreu um revés e tanto. Com seu controlador já abatido pela Lava Jato, a companhia decidiu não participar de uma concorrência para a qual se preparava havia mais de um ano. Trata-se de um projeto da Marinha para monitorar uma extensa faixa de mar na Amazônia.
Batizado de Sisgaaz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul), o plano prevê investimentos de, pelo menos, US$ 10 bilhões. As propostas foram entregues à Marinha em janeiro deste ano. A OAS Defesa pretendia participar da licitação, em parceria com a israelense IAI e as brasileiras IACIT, que desenvolveu um projeto de radar para vigilância costeira com tecnologia nacional, e Módulo, responsável pelos centros de monitoramento da Copa do Mundo de 2014.
Fonte: IstoÉ Dinheiro