Estudo aponta quais são os elefantes brancos herdados das Copas, Olimpíadas e afins, e alerta: Brasil também pode ter seus paquidermes
Daniela Moreira, de Exame
Legado inoportuno
São Paulo – Construir um novo estádio para sediar competições internacionais nem sempre é um bom negócio para o país sede. É o que comprova um estudo feito Instituto Dinamarquês para estudos dos Esportes e pela organização Play the Game.
A pesquisa avalia 75 estádios construídos para mega eventos, como a Copa do Mundo, as Olimpíadas, os Jogos Pan-americanos e grandes campeonatos regionais. A medida de sucesso – ou fracasso – é a capacidade de utilizar bem os estádios após os eventos.
O Estádio Olímpico João Havelange – mais conhecido como Engenhão –, erguido para sediar competições dos Jogos Pan-americanos de 2007, foi uma das arenas avaliadas no estudo. A conclusão é de que hoje, com o Maracanã em obras, ele tem um bom aproveitamento. Mas quando a reforma terminar e o estádio passar a sediar apenas os jogos do Botafogo, a coisa muda bastante de figura.
A pesquisa aponta ainda que as reformas e construções estádios para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas – “uma maneira questionável de investir dinheiro público” em um país que ainda tem sérios problemas sociais, na opinião dos autores do estudo – podem deixar outros elefantes brancos na mão do Brasil.
Clique nas fotos para conhecer os cinco estádios com pior retorno para os países que os construíram.
Estádio Olímpico de Nagano (Japão)
Construído para os Jogos de Inverno de 1998, o estádio custou 107 milhões de dólares e tem capacidade para 30 mil pessoas.
Após o evento, o estádio passou a ser usado principalmente para jogos de beisebol profissionais e amadores.
O principal time a utilizar a arena é o Shinano Grandserows que, ao longo de toda a temporada, conseguiu levar apenas 18 mil torcedores ao estádio.
Estádio de Miyagi (Japão)
Com capacidade para mais de 49 mil torcedores e custo de 318 milhões de dólares, o estádio foi construído para a Copa do Mundo de 2002.
O estádio sediou apenas três partidas durante a Copa e, ao longo de todo o ano de 2010, recebeu menos de 74 mil torcedores.
Um dos motivos para a falta de público é que os dois maiores times da região escolheram outros estádios mais antigos para sediar seus jogos.
Khalifa International Stadium (Catar)
Capaz de acomodar até 50 mil pessoas, o estádio custou 128 milhões de dólares. Foi construído em Doha, para sediar eventos dos Jogos Asiáticos de 2006. Ao longo de todo o ano de 2010, recebeu apenas 90 mil torcedores.
O estádio deve ser melhor aproveitado no futuro, durante os Jogos de Verão de 2020 e a Copa do Mundo de 2022, mas, para isso, vai precisar de reformas.
A falta de um time “âncora”, que use o estádio como sua arena principal, prejudica o desempenho do estádio.
Estádio Municipal de Aveiro (Portugal)
A prefeitura de Aveiro investiu a maior parte dos 83 milhões de dólares necessários para construir o estádio que sediou partidas da Eurocopa de 2004, mas o retorno tem ficado aquém do desejável.
Com capacidade para mais de 30 mil pessoas, recebeu, ao longo de 2010, apenas 59 mil torcedores. A prefeitura gasta 5,3 milhões de dólares por ano para manter o estádio, que deu prejuízo entre 2005 e 2008.
Um dos motivos por trás do fraco desempenho do estádio foi o rebaixamento do Sport Clube BeiraMar, time âncora da arena, que passou três temporadas mal das pernas, recebendo apenas 1,6 mil torcedores por partida.
Mesmo com o time tendo subido de divisão, não há demanda suficiente para explorar toda a capacidade do estádio, por isso a prefeitura – que já tentou passar a arena para frente, sem sucesso – cogita demolir tudo e construir um estádio menor no futuro.
Estádio Dr. Magalhães Pessoa (Portugal)
Outro estádio português que enfrentou problemas financeiros após a realização da Eurocopa é o Dr. Magalhães Pessoa.
Com custo de construção de 121 milhões de dólares – quase o dobro do orçamento previsto –, tem capacidade para mais 23 mil pessoas, mas recebeu apenas 64 mil espectadores em 2010.
Para ser mantido, o estádio consome cerca de 8% de todo o orçamento anual do município de Leiria. A prefeitura tentou vender o estádio, sem sucesso, e tem dívidas pendentes que lhe renderam até um processo.
Na temporada 2011/2012, os problemas devem se agravar ainda mais, já que o time da casa, União Desportiva de Leiria, se recusou a pagar o aluguel de 23 mil dólares por partida e transferiu seus jogos para outro estádio menor.