A economia brasileira desacelerou em 2011. Mas o bloco das 500 maiores empresas do país manteve o vigor de carro-chefe — suas vendas cresceram 6%, mais que o dobro do PIB
Aline Oyamada, de Exame
São Paulo – Ao longo de 2011, a economia brasileira perdeu gradualmente boa parte do brilho que havia encantado o mundo no ano anterior. Ao final, o produto interno bruto havia crescido 2,7%, apenas uma sombra dos 7,5% de 2010.
Mesmo nesse ambiente mais adverso, a elite empresarial do país mostrou força. É o que revelam alguns dados preliminares de Melhores e Maiores — edição especial de EXAME que chega às bancas no dia 5 de julho.
De acordo com essa prévia, as 500 maiores empresas do Brasil obtiveram faturamento líquido de 1 trilhão de dólares em 2011, um aumento real de 6% em relação ao ano anterior — ou mais que o dobro do crescimento do conjunto da economia. Em 2010, o bloco das 500 também havia crescido acima da expansão do PIB: 9,5%.
Os números evidenciam que as grandes corporações do país têm aproveitado bem as vantagens da economia de escala para ficar cada vez maiores. Com fornecedores, clientes e operações em vários mercados, elas têm poder de barganha para reduzir os custos de matérias-primas e buscar os melhores preços para seus produtos. A baixa concorrência no país também ajuda.
“O mercado brasileiro, em vários setores, é controlado por poucas empresas, o que permite que as maiores mantenham os preços e obtenham receitas altas mesmo em tempos de crescimento econômico reduzido”, afirma Samy Dana, professor de finanças da Fundação Getulio Vargas.
As vantagens competitivas das grandes corporações, diga-se, não são exclusividade do Brasil. As 50 maiores empresas do ranking da revista americana Fortune tiveram uma expansão conjunta das receitas de 12% no ano passado — enquanto o PIB americano cresceu apenas 1,7% e a economia mundial avançou 4,3%.
Dos 21 setores analisados por Melhores e Maiores, 14 cresceram acima da taxa do PIB no ano passado. O grande destaque foi o setor de mineração, com crescimento de quase 17% nas vendas. Impulsionada pela forte demanda internacional, especialmente a da China, a produção brasileira de minério de ferro subiu 25%.
Os preços também ajudaram, permanecendo elevados durante o ano. Resultado: 1 de cada 5 dólares exportados pelo Brasil no ano passado veio da mineração. Ao todo, o setor proporcionou 44 bilhões de dólares em divisas — e garantiu que a balança comercial fechasse no azul mais uma vez.
A maior parte desse bolo ficou com a Vale, que fechou o ano com um lucro recorde de 15,3 bilhões de dólares — o maior ganho de uma empresa no país. Até quando isso pode perdurar? Por ora, a redução do ritmo da economia chinesa não assusta as mineradoras.
A Samarco, braço da Vale que exporta quase 100% da produção, mantém um plano de ampliar a capacidade em 37% até 2014, com investimento de 5,4 bilhões de reais.
“Acreditamos que o crescimento da China continuará forte o suficiente para sustentar a demanda por um bom tempo”, diz Eduardo Bahia, diretor financeiro da Samarco. Empresas de outros setores pegaram carona no aumento da produção de minérios. É o caso da MRS Logística, concessionária que opera na Região Sudeste uma malha ferroviária de 1 600 quilômetros.
A empresa transportou em 2011 um volume de cargas 5,4% maior do que no ano anterior. Do total movimentado, 75% eram minério de ferro, carvão e coque. “Nossa maior dificuldade foi lidar com uma demanda mais aquecida do que esperávamos”, afirma Eduardo Parente, presidente da MRS.
Se a crise internacional não chegou a afetar os negócios das mineradoras, o mesmo não ocorreu com as fabricantes de papel e celulose. Com a queda dos preços de seus produtos, o setor fechou o ano com retração de 2% nas vendas. O ano foi ruim também para a indústria digital — cresceu apenas 1%.
Fabricantes de produtos de informática, como a Positivo, sofreram com a “importação da crise” dos países ricos. “Com a demanda no exterior em queda, alguns produtores internacionais desovaram estoques no Brasil, elevando a oferta e derrubando os preços”, diz o analista Alex Pardellas, do banco Banif. No cenário mundial complicado, as empresas continuarão a ser desafiadas a provar sua capacidade.