A Monsanto Co. fechou acordo para ser comprada pela Bayer AG numa transação avaliada em US$ 57 bilhões que criará um novo titã agrícola e acabará com a independência de uma das empresas mais bem-sucedidas e polêmicas dos Estados Unidos.
Se os órgãos reguladores aprovarem o acordo, o conglomerado farmacêutico e químico alemão herdará a liderança da Monsanto no setor global de sementes geneticamente modificadas. O negócio dá um forte empurrão à Bayer na direção da agricultura, numa aposta de longo alcance na importância da tecnologia para alimentar uma crescente população mundial.
O preço final foi alcançado depois de meses de negociações e ressalta o peso que a Monsanto tem na biotecnologia agrícola ao desenvolver sementes de milho, soja, algodão e outras culturas que resistem à aplicação de agrotóxicos e produzem toxinas naturais para repelir pragas. Mas a venda de um ícone da agricultura americana também destaca a estagnação na economia agrícola, num momento em que os produtores americanos se preparam para colher mais uma safra recorde de milho e soja nos próximos meses.
A fusão é a mais recente em uma onda de acordos que vem remodelando o mercado mundial de sementes e pesticidas. Os fabricantes de sementes, que já demitiram milhares de funcionários e cancelaram projetos de pesquisa, veem as fusões como uma forma de reduzir custos de forma mais profunda com a integração do desenvolvimento de novas sementes e químicos.
A Bayer pretende fundir seu domínio no setor de pesticidas, onde é uma das maiores fabricantes do mundo, com os recursos da Monsanto na biotecnologia e genética de sementes para criar a maior fornecedora agrícola do mundo em vendas. Werner Baumann, diretor-presidente da Bayer, disse numa entrevista ao The Wall Street Journal que o acordo é “uma combinação fantástica para a agricultura moderna, para atender às necessidades da sociedade e gerar as ferramentas para alimentar uma população em rápido crescimento”.
A fusão vai exigir a aprovação de cerca de 30 agências reguladoras em todo o mundo, dizem executivos, incluindo órgãos antitruste que já estão analisando acordos entre alguns dos principais rivais das duas empresas. Ontem, a Bayer se comprometeu a pagar à Monsanto US$ 2 bilhões se o negócio for bloqueado pelos reguladores, acima do US$ 1,5 bilhão oferecido em julho. Embora os analistas acreditem que as empresas possam ser forçadas a vender alguns ativos que se sobrepõem, inclusive os de sementes de algodão e canola e herbicidas, o diretor-presidente da Monsanto, Hugh Grant, disse a repórteres em uma teleconferência que, sob a perspectiva regulatória, “acho que é um negócio bastante claro”.
As empresas planejam buscar a aprovação também do Comitê de Investimentos Estrangeiros nos EUA, que analisa os riscos à segurança nacional da compra de ativos americanos por empresas de fora do país. Essa revisão não deve apresentar nenhum impedimento, disse Baumann, dado o histórico de 150 anos dos negócios da Bayer nos EUA.
Se o negócio for bem-sucedido, ele encerrará a trajetória de investimentos de longo prazo da Monsanto na biotecnologia — desde sua infância à rápida adoção pelos agricultores —, que cimentou a empresa de St. Louis como o maior fornecedor mundial de sementes em vendas.
O sucesso da revolução biotecnológica da Monsanto, porém, a transformou num alvo não só dos opositores das culturas transgênicas, mas também de críticos que acusam o sistema agrícola de ser orientado para alimentos baratos produzidos em massa em detrimento do meio ambiente e da saúde humana.
Baumann disse que a Bayer, que também desenvolve sementes transgênicas, compartilha com a Monsanto a crença de que a tecnologia é fundamental para alimentar uma população mundial que deve atingir 9,7 bilhões de pessoas até 2050, segundo projeções da Organização das Nações Unidas.
Baumann e Grant disseram que ainda não definiram se a Bayer continuará usando a marca Monsanto, embora Grant tenha dito que está disposto a ser “flexível” sobre uma mudança. St. Louis, onde fica a sede da Monsanto, passará a ser a central mundial para os negócios de sementes da empresa resultante da fusão.
O negócio seria a maior aquisição já feita pela Bayer e por uma empresa alemã fora da Alemanha, segundo a Dealogic. Ele também daria um grande impulso à divisão de ciências agrícolas de uma empresa mais conhecida por seus remédios, como a Aspirina. A unidade agrícola passaria a responder por cerca de metade da receita do grupo, ante quase 30% em 2015, enquanto a área de cuidados com a saúde, que inclui produtos farmacêuticos, geraria em torno da outra metade.
As empresas pretendem concluir a transação até o fim de 2017. A Bayer afirmou esperar que o negócio crie sinergias de US$ 1,5 bilhão a partir do terceiro ano completo após a fusão.
Alguns investidores têm demonstrado preocupações com o que veem como uma mudança abrupta de estratégia feita por Baumann, que assumiu o cargo em 1o maio, apenas algumas semanas antes de a Bayer fazer a primeira oferta pela Monsanto. A jogada pegou os próprios investidores da Bayer de surpresa, provocando críticas e a venda de ações por alguns que duvidaram de uma aposta tão alta na agricultura.
Baumann passou semanas se reunindo com investidores europeus e americanos para explicar suas razões, mas também para dar um recado: a Bayer não precisaria da aprovação dos acionistas para o negócio e considerava uma votação um risco que poderia afugentar a Monsanto.
A Monsanto rejeitou a proposta inicial da Bayer por considerá-la muito baixa, mas também via lógica na fusão, o que encorajou a Bayer a elevar a oferta. Baumann disse ontem que a grande maioria dos acionistas da empresa alemã agora aprova o negócio.
O preço de compra, de US$ 128 por ação, ficou abaixo das projeções de analistas, de aproximadamente US$ 135. Incluindo dívidas, o negócio é avaliado em US$ 66 bilhões.
Em entrevista ao WSJ, Grant disse que o conselho da Monsanto avaliou todas as suas opções, inclusive a de se manter independente, e se a oferta em dinheiro da Bayer era a melhor alternativa. “Estou bem satisfeito com o preço”, disse ele. “Esta fusão com a Bayer abre uma nova parcela de crescimento e oportunidades.
As informações são do site The Wall Street Journal