Há pouco mais de três anos, a Brasbunker, empresa de navegação brasileira criada por portugueses, anunciou que passaria a chamar-se Bravante. A mudança de marca deveria coincidir com uma nova fase de crescimento apoiada na construção de barcos de apoio marítimo para a indústria de óleo e gás. Mas os planos não saíram como planejado. À época sócios na Bravante, a família Nascimento e o banco BTG Pactual, entraram em conflito e os problemas de gestão – associados à queda nos preços do petróleo – pesaram sobre a empresa. Hoje a companhia está envolvida em negociações com credores, no Brasil e Estados Unidos, para reestruturar dívidas que somam R$ 2,4 bilhões. Entre os credores, estão Banco do Brasil, Itaú Unibanco e investidores americanos que compraram bônus emitidos pela Brasbunker.
A dívida total da Brasbunker, a holding operacional, é maior, de cerca de R$ 3 bilhões, incluindo debêntures de cerca de R$ 500 milhões que foram renegociadas. O valor principal da dívida se relaciona à construção de barcos de apoio marítimo. As negociações da Brasbunker com os credores têm avançado, afastando a possibilidade de que a empresa tenha que recorrer à recuperação judicial, hipótese que já foi considerada.
“A companhia enfrentou um descasamento entre a geração de receitas e o vencimento das dívidas”, diz uma fonte. Os Nascimento fundaram a empresa nos anos 1960 para atuar no transporte de combustível de navegação (bunker), negócio em que a Brasbunker ainda atua. Em 2015, o grupo faturou cerca de R$ 500 milhões e registrou geração de caixa de R$ 150 milhões. A Brasbunker tem nove barcos offshore com contratos e outras cinco embarcações operando no mercado à vista.
O BTG entrou na Brasbunker em setembro 2010 comprando fatia de 37%, depois ampliada para 49%. O banco investiu R$ 250 milhões na companhia e saiu da empresa, em outubro de 2015. Procurado, o BTG Pactual disse que não iria fazer comentários. A participação acionária do banco na Brasbunker foi assumida, em outubro, por Fábio Carvalho, que fez a reestruturação judicial da Casa & Vídeo. Hoje Carvalho e a família Nascimento dividem o controle. A Alvarez & Marsal foi contratada para ajudar na gestão.
As negociações da Brasbunker com o BB estão avançadas. O BB emprestou cerca de R$ 1,2 bilhão para a empresa construir oito navios de apoio marítimo, cinco dos quais foram entregues. Outros três tiveram atrasos na construção. Na operação, o BB atua como agente financeiro do Fundo da Marinha Mercante (FMM), fonte de financiamento de longo prazo para a construção naval no Brasil. O Valor apurou que pelo acordo em discussão entre Brasbunker e BB o prazo de pagamento da dívida deve ser alongado, dentro do que o FMM permite. Haverá ajustes no prazo de carência e as receitas geradas pelos cinco barcos em operação devem ser destinadas a garantir o término da construção das três embarcações que ainda estão no estaleiro da empresa, o São Miguel, em São Gonçalo (RJ).
A previsão é que os três barcos sejam entregues entre 2016 e 2017. Procurado, o BB não se pronunciou. A Brasbunker também deve R$ 200 milhões ao Itaú Unibanco. Segundo fontes, existe boa disposição do banco para que a empresa se reestruture. Procurado, o Itaú Unibanco disse que não se pronunciaria por questões de sigilo bancário. No caso dos detentores dos bônus nos Estados Unidos, há discussões para alongar prazos de vencimento da dívida. Os títulos foram emitidos pelo J.P. Morgan em nome de uma subsidiária da Brasbunker com sede nas Ilhas Marshal, no Pacífico. Os bônus têm aval do Tesouro americano em uma operação que envolveu o Maritime Administration (Marad), órgão ligado ao Ministério dos Transportes dos Estados Unidos.
Uma fonte disse que houve acordos de suspensão temporária dos pagamentos (“stand still”) da Brasbunker com BB, Itaú Unibanco e Marad. Agora será preciso chegar a um acordo com os investidores que compraram os bônus no exterior. O prazo de carência e o vencimento dos títulos devem ser estendidos. Mas não haverá desconto no valor devido.
Fonte: Portos e Navios