Tem muito brasileiro vendendo tudo, fazendo as malas e indo para o aeroporto só com uma passagem de ida: o número de pessoas que estão saindo do país abruptamente cresce cada vez mais.
Segundo a Receita Federal, pouco mais de 18,5 mil brasileiros deixaram o país em definitivo no último ano, mais do que o dobro dos quase 8 mil que foram viver no exterior em 2011.
Brasileiros com carreiras consolidadas, casa própria e vida estável estão abrindo mão de tudo isso para morar em países europeus ou norte-americanos. São pessoas em busca de melhor qualidade de vida ou de melhores oportunidades.
Alguns, com excelente condição financeira, conseguem manter os negócios no Brasil enquanto vivem fora, mas há uma classe média brasileira considerável que deixa o país para começar tudo do zero no exterior.
MaCson Queiroz JP, diretor da M.Quality, empresa brasileira especializada em intercâmbio, imigração e negócios na Austrália, define o perfil do brasileiro que se muda de vez para Austrália como “um profissional com nível universitário, pertencente às classes A/B, na faixa etária de 30 a 48 anos, casado, um filho e com nível de inglês avançado”.
Para ele, a insegurança no Brasil estimula a decisão. “Eles não suportam o nível de insegurança vivido hoje no país e não querem que os filhos cresçam em um ambiente de violência como está agora. Estão, de maneira geral, desiludidos com o Brasil do futuro. Esses profissionais aceitam até mesmo reiniciar as suas carreiras em troca de uma qualidade de vida superior”.
Na Austrália, áreas como engenharia, computação, contabilidade, saúde e educação oferecem boas oportunidades para os brasileiros, desde que eles tenham uma experiência profissional superior a 3 anos e saibam falar inglês.
Para se virar no exterior, a fluência no idioma e formação acadêmica são indispensáveis. Ao menos no Canadá, o estrangeiro pode cursar dois anos em um college para se inserir com mais facilidade no mercado de trabalho. É uma espécie de “curso profissionalizante”, que deixará o estrangeiro preparado tecnicamente. Fazer uma graduação no país seria o passo seguinte, na qualificação.
Mas nem todo brasileiro está disposto a assumir um cargo “mais humilde” no exterior e isso pode trazer frustração. Rosa Maria Proes, presidente CEO da Canadá Intercâmbio, diz que crescer na carreira estando fora do Brasil é um caminho “step-by-step” (passo-a-passo).
“Se você quer ir para as carreiras operacionais, que são indicadas para os brasileiros, você vai para um college. Já inserido no mercado de trabalho, você cursa a universidade e consegue crescer aqui na sua área”, afirma.
Bruno C. Sibella, de 32 anos, vive Kitchener, cidade a 100 km de Toronto. Trabalhava como operador de câmera de TV no Brasil, mas após ser demitido, decidiu, em conjunto com sua mulher, vender tudo, alugar a sua casa e se mudar para o Canadá. “Colocamos o nosso sonho em duas malas e fomos”, diz Bruno, que atualmente cursa o college na área de broadcasting.
“Aqui não tem muito isso de subemprego, a visão é muito diferente. Eu, particularmente, gosto de fazer TV, farei um college e farei meu networking na área. Mas se fizesse o curso, eu não veria problema em trabalhar em qualquer outra coisa”.
Marcelo Gidaro, de 28 anos, mudou-se para a Escócia este ano com a esposa Gabriela Rolim, de 30 anos. No Brasil, era gerente de projetos e agora trabalha em um café, porém não se arrepende da “troca de carreira”.
O casal resolveu abrir mão de cargos gerenciais para trabalhar em funções que nunca realizaram, tudo em prol da qualidade de vida que a Escócia oferece.
“O fato de trabalhar em fast food, café, pubs, restaurantes e até mesmo com limpeza, não te diminuirá de forma alguma como profissional. Não é demérito trabalhar em ‘subemprego’ quando for morar no exterior, só não posso dizer que é fácil, pois as empresas sempre solicitam referências profissionais (dentro do país), dando mais relevância aos candidatos que as possuem”.
Por Alexa Meirelles