No Brasil, o projeto de trabalhar para governo é almejado, principalmente, por conta do salário inicial – costumeiramente maior do que na iniciativa privada – e pela estabilidade financeira e profissional.
“O concursado só pode ser demitido se tiver desvio de conduta; caso contrário, nem quando o governo atravessa uma crise econômica ou política a pessoa perderá seu emprego. Em tempos de incertezas e recessão econômica, esse é um grande diferencial”, explica Domingos Cereja, professor da Academia do Concurso.
Para construir uma carreira pública, no entanto, é preciso vocação. Assim como qualquer profissão, com o tempo o concursado pode perceber que o futuro escolhido é incompatível com sua personalidade.
Para que essa encruzilhada não aconteça, Cereja orienta que o profissional não idealize a profissão e conheça suas desvantagens. “Não basta querer ser servidor, mas ter consciência de quais são os seus sonhos pessoais. Não adianta ter estabilidade mas não ser feliz”, explica.
O auditor da Receita Federal Kaique Knothe, por exemplo, escolheu seguir a carreira pública apesar de ter perfil e qualificação para a iniciativa privada.
Formado em engenharia mecânica pela Unicamp, Knothe, que decidiu estudar para passar em um concurso pela estabilidade oferecida, conta que na esfera pública é possível desenvolver um trabalho de qualidade, com menos incertezas e com mais engajamento.
“Além da qualidade de vida que a carreira pública me proporciona, a oportunidade de desenvolver uma tarefa pública é motivadora para pessoas que querem ter uma função social”, conta.
Medo de estagnação?
O senso comum diz que, uma vez dentro de um cargo no governo, as possibilidades de crescer só aparecem a partir de novos concursos. Porém, a realidade não é bem essa.
Hoje, os 11,1 milhões de brasileiros que trabalham nas esferas federal, estadual e municipal têm a possibilidade de construir um plano de carreira por meio do merecimento, explica Nestor Távora, professor da escola de concursos públicos LFG.
“É possível subir de cargo sem prestar outros concursos, de acordo com a carreira. Na magistratura, por exemplo, um advogado começa como juiz substituto, depois passa para titular de determinada vara e no estágio máximo da carreira se torna desembargador, tudo com apenas o primeiro concurso”, diz ele.
Outra estratégia de promoção é optar por um concurso “trampolim”, isto é, não prestar uma prova para a vaga que você escolheu como atividade final, mas começar a trabalhar em um cargo transitório para ganhar experiência e ter tempo de se qualificar. Segundo Távora, essa é uma realidade bastante recorrente no Brasil.
“Alguns concursos duram um ano e meio e são muito complexos, mas o profissional não pode ficar parado nesse tempo todo. Então ele começa a trabalhar em um cargo menos concorrido enquanto se prepara para encarar o mais difícil”, finaliza.
As informações são da Revista Exame por Clara Cerioni