O investidor que pensa em colocar dinheiro em uma franquia não pode se queixar da falta de alternativas. Já vão longe os tempos em que o franqueado poderia optar apenas entre algumas redes de refeições rápidas ou cosméticos. Hoje, há cerca de 220 mil franqueadores em atividade no Brasil. A oferta e a variedade são tão grandes que, em uma cidade média, o cliente pode estudar em uma escola de idiomas, comprar um chocolate fino e ainda refrescar-se com uma paleta mexicana sem precisar deixar o quarteirão de casa. Com uma competição tão acirrada, os empreendedores inovam apostando nas franquias diferenciadas.
Os especialistas consideram diferenciado um franqueador cujo produto é bastante segmentado – produtos para um determinado tipo de cabelo, por exemplo – ou onde há poucos concorrentes. Quem busca um empreendimento desse tipo quer evitar a saturação do mercado. Foi o que fez o médico e empresário paulista Edson Ramuth, dono da Multifranquias, que fatura R$ 50 milhões por ano. Atualmente, ele dirige sete franqueadoras que passam longe dos produtos e serviços tradicionais. A sua mais recente criação é a Walking Party, que promove festas em um ônibus equipado com bar e mesa de som, que percorre as principais avenidas de 20 cidades em sete estados.
O gasto mais pesado para o franqueado é o investimento inicial de R$ 50 mil para a aquisição do veículo. Os demais números são modestos: o capital de giro é de R$ 1.000, a taxa de franquia custa R$ 500 e há ainda o pagamento de 10% em royalties. Segundo Ramuth, o faturamento médio é de R$ 30 mil por mês. “O público é diverso: o ônibus pode ser alugado para divertir todas as faixas etárias”, diz. O uso mais comum é para festas de adolescentes. O aluguel é calculado em função do número de ocupantes, e a festa completa, com iluminação e a contratação de DJ, pode custar até R$ 2.900 por um período máximo de oito horas.
Ramuth também possui uma rede de salões de beleza inspirada no cinema, o Miss Hollywood, e uma depiladora delivery, a Light Depil. “Busco setores que escondem algum tipo de oportunidade”, diz. Muitos empreendedores como Ramuth têm buscado franquias diferenciadas, o que vem fazendo esse segmento crescer acima da média do mercado. Em 2014, o faturamento das franquias tradicionais aumentou 7,7%, para R$ 127,3 bilhões, o menor crescimento em dez anos, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Já a estimativa é que o faturamento das franquias diferenciadas tenha crescido 18%, para R$ 27 bilhões. “O franchising não é uma ilha, ele também sofre com as oscilações da economia”, diz Rogério Feijó, diretor de inteligência de mercado da ABF. O grande atrativo das franquias segmentadas é sua rentabilidade. Segundo Paulo Mauro, sócio fundador da consultoria Global Franchise, enquanto o retorno médio de uma franquia tradicional oscila ao redor de 18% ao ano, uma inovadora pode chegar a 23%. “É exatamente essa possibilidade de olhar para segmentos mais promissores, em tempos de crise, que faz do setor uma boa opção de investimento”, diz.
Porém, a rentabilidade mais apetitosa não vem sozinha. Os riscos são bem maiores que em segmentos tradicionais e estabelecidos, e por isso exigem maior envolvimento do investidor. O advogado paulista David Debes sabe bem disso. Não bastaram apenas o interesse e o investimento de R$ 106 mil na franquia da rede Vinho & Ponto: seu negócio depende de sua presença quase constante e do seu conhecimento sobre o assunto. “Tenho várias vantagens por estar em uma rede menor, mas, por outro lado, preciso ficar mais envolvido com o meu negócio”, diz Debes.
Os franqueados da Vinho & Ponto administram lojas que distribuem as bebidas importadas pelo franqueador. Na carta, há cerca de 400 rótulos de vinhos de 14 países, cujos preços oscilam de R$ 30 a R$ 500. Além dos R$ 106 mil de investimento, o franqueado tem de ter R$ 20 mil de capital de giro. A taxa de royalties e a de publicidade cobram um total de 10% do faturamento a cada reposição de estoque. Segundo o franqueador, o faturamento médio mensal é de R$ 50 mil, e o prazo de maturação oscila entre 12 e 24 meses. Outra franquia que exige a mesma dedicação é a DivulgaPão, especializada em veicular mensagens publicitárias em embalagens para pães.
“Deixamos claro que nossa rede demanda um investimento baixo, de cerca de R$ 16 mil, mas exige envolvimento direto do franqueado”, diz o empresário curitibano Wagner Rover, fundador da DivulgaPão, que fatura R$ 5 milhões e possui 280 lojas pelo País. A taxa de franquia é de R$ 8 mil e o faturamento oscila ao redor de R$ 12 mil. Apesar de as franquias de alimentação serem as mais tradicionais do mercado, elas também podem ganhar com novas receitas para ampliar seu faturamento. Após passar uma temporada no Japão, o advogado paulista Wilson Kano voltou ao Brasil decidido a abrir uma rede de comida japonesa. Ao perceber, porém, o quanto a concorrência era acirrada, ele decidiu inovar.
Ao lado de um sócio, ele criou, em 2013, a Obentô Mania, uma rede de comida japonesa com foco no obentô, uma refeição pronta para viagem com peixe e legumes. “Hoje, o cliente já entende nosso produto, mas no início não foi fácil mostrar que nosso estilo de comida era diferente.” O negócio vem dando resultados. Com faturamento de R$ 4 milhões e quatro franqueados, Kano espera expandir a área de atuação nos próximos meses. Se o intuito for usar a inovação para explorar mercados ainda desconhecidos, uma opção é procurar franquias que estão abrindo operações em outros países. O número de franquias brasileiras que atuam no exterior cresceu 14% em dois anos, passando de 92, em 2012, para 105, em 2014.
Nomes como Vivenda do Camarão, Showcolate, Localiza, Spoleto, Chili Beans, Bob’s e Hering já podem ser encontrados lá fora. Mauro, da Global Franchise, diz que a exportação das redes nacionais tem sido cada vez mais frequente. “A economia americana está melhorando e abrindo oportunidades para as redes brasileiras. É a hora certa de ir”, diz. A recomendação está sendo seguida por Ramuth, da Walking Party, que acaba de voltar de Miami, onde negocia a abertura de uma outra empresa, a Emagrecentro. No que depender de empreendedores como ele, em poucos anos, será possível encontrar franquias segmentadas disputando mercado na Europa e Estados Unidos, além da América Latina. “Há muitas oportunidades”, diz Ramuth.
Fonte: Isto É Dinheiro