Depois de um 2015 difícil, tudo o que Paula de Souza Vieira queria – assim como milhões de outros brasileiros loucos por praia que invadem o litoral no fim do ano – eram umas boas férias.
Paula, 23, achava que tinha encontrado o lugar perfeito: uma faixa de areia vazia repleta de coqueiros perto de uma reserva nacional, cerca de 640 quilômetros ao norte do Rio de Janeiro.
Mas o rompimento da barragem em Minas Gerais, que mandou ondas de lama tóxica para o Oceano Atlântico, a obrigou a cancelar a viagem.
Paula diz que estava muito preocupada. Segundo ela, todo mundo que planejava ir para o fim de ano terá que cancelar.
Talvez um feriado perdido não pareça tão traumático, especialmente em comparação com o custo ambiental que a catástrofe terá na vida selvagem e comunidades próximas. Mas para a maltratada classe média brasileira, esse é um fim desastroso para um ano que foi realmente um desastre.
O aumento dos pedidos de recuperação judicial e do desemprego, a inflação acima de 10 por cento e a queda do real estão acabando com muitos dos ganhos arduamente conquistados nos últimos dez anos.
Custo ambiental
A represa que continha resíduos da exploração de uma mina em um empreendimento de minério de ferro controlado pela Vale e pela BHP Billiton desmoronou em novembro, enterrando comunidades inteiras e devastando parques nacionais.
Agora, 50 milhões de toneladas de lama estão se espalhando pelo litoral entre o Rio de Janeiro e a Bahia, sujando de marrom quilômetros de praias, de acordo com o Ibama.
A Samarco, joint venture da Vale e da BHP, está conversando com o governo de Minas Gerais e autoridades de turismo, de acordo com um comunicado enviado por e-mail pela empresa. Ela ainda está avaliando as consequências do desastre e apresentará um “plano de ação” em breve.
Alguns hotéis e restaurantes do litoral, para os quais o feriado de ano-novo é uma das principais fontes de renda, estão vendo os cancelamentos aumentarem por causa do acidente. As reservas para o feriado do ano-novo caíram para menos da metade na pousada Aranã, em Regência, no Espírito Santo, onde Vieira pretendia se hospedar com a namorada.
A proprietária, Dulce Mendonça, diz que ninguém vai pagar R$ 2.000 por um pacote de férias para ir a um lugar onde as pessoas dizem que tem lama.
Embora o fornecimento de água não tenha sido afetado, o mar está espesso e marrom por causa da lama, disse ela. Os pescadores estão proibidos de pescar e as pessoas estão sendo alertadas a não entrar na água.
Ano-novo
Até cidades de veraneio que não estão na região da lama estão sendo afetadas. Conceição da Barra, cuja população mais do que dobra e chega a 80.000 pessoas durante a temporada de férias, está cavando três poços para garantir o fornecimento de água potável, por via das dúvidas, disse André Luiz Campos Tebaldi, secretário municipal do meio ambiente e desenvolvimento econômico.
Paula não tem grandes esperanças para 2016.
Pouco depois de ter cancelado a viagem para a praia, ela foi demitida do emprego de produtora de TV, entrando para o número de brasileiros sem trabalho em uma economia com previsão de contração de 3,6 por cento neste ano e 2,7 por cento em 2016. A taxa de desemprego foi de 7,6 por cento em setembro, a mais alta desta década.
Fonte: Revista Exame