O Google Inc. está diminuindo o passo à medida que envelhece.
Com o crescimento desacelerando, as margens de lucro encolhendo e a cotação das ações estagnada, o gigante americano da internet está reduzindo as contratações e buscando maneiras de administrar o seu vasto império com mais eficiência, dizem recrutadores, investidores de capital de risco e outras pessoas a par da situação.
A nova diretora financeira, Ruth Porat, que entrou na empresa no fim de maio, tem um papel ativo nessa iniciativa. Porat, que cortou despesas e realocou capital quando era diretora financeira do banco Morgan Stanley, está participando de uma auditoria interna de custos, receita e sistemas de contabilidade, diz uma dessas pessoas. Ela quer deixar a sua marca numa companhia que se tornou mais estável, mas também mais complexa, diz uma outra fonte.
O Google vai oferecer um panorama de suas despesas amanhã, quando divulgar os resultados do segundo trimestre, depois do fechamento do mercado. Porat deve falar pela primeira vez na conferência com analistas. A empresa não quis comentar para este artigo.
Na indicação mais clara de sua nova postura, o Google aumentou sua força de trabalho em 1.819 funcionários no primeiro trimestre do ano, para um total de 55.419. Foi o menor aumento desde o último trimestre de 2013. No ano passado, o Google acrescentou uma média de 2.435 empregados por trimestre.
Durante muitos anos, as equipes do Google tiveram como certo que poderiam contratar mais funcionários todo ano. Agora, os executivos do Google estão definindo os grupos que podem contratar, com base nas prioridades estratégicas da empresa. Desde o fim do ano passado, muitas equipes do Google vêm tendo que submeter planos que descrevem como a adição de funcionários vai permitir que objetivos específicos de negócios — como a ampliação da receita ou do número de usuários — sejam alcançados.
O Google, por exemplo, limitou as contratações para a sua morosa divisão de redes sociais, o Google+, enquanto deu à unidade Nest, de automação do lar, mais liberdade para crescer, dizem pessoas a par das mudanças.
Num grupo de marketing de anúncios on-line, novas contratações são atreladas à geração de receita, diz uma pessoa que deixou o grupo recentemente. Essa pessoa acrescenta que, devido às mudanças, foi mais difícil obter aprovação para contratações neste ano do que em 2014.
Ali Behnam, da Riviera Partners, uma firma de recrutamento no setor de tecnologia, diz que menos candidatos estão recebendo propostas do Google.
“Eles cresceram e têm que ficar mais atentos aos custos”, diz. A empresa ainda é agressiva quanto a reter funcionários, geralmente oferecendo mais opções de benefícios, acrescenta.
Alguns empregados citam outros exemplos de uma crescente frugalidade, ainda que num ambiente de trabalho considerado luxuoso em comparação à maioria das outras empresas. Viagens, material de trabalho e eventos agora têm que ser mais justificados ou aprovados do que no passado, dizem duas pessoas a par das mudanças.
O Google ainda está longe de cortar postos de trabalho e continua crescendo. Mas o cuidado com as despesas é uma mudança significativa numa empresa que sempre favoreceu o crescimento e a experimentação em detrimento do lucro.
“O Google está tirando o pé do acelerador”, diz Carlos Kirjner, analista da Bernstein Research. “Não creio que a empresa tenha alterado fundamentalmente sua filosofia. Ela apenas se ajustou.”
A mudança ocorre num momento em que o Google deixa de ser um mero provedor de buscas na internet e se torna uma empresa complexa e mais difícil de administrar. No passado, o rápido crescimento da receita reduziu a necessidade de gerenciar as despesas tão minuciosamente. Mas o crescimento está perdendo força, enquanto as despesas continuam subindo.
A receita do Google avançou 19% em 2014 em relação ao ano anterior, comparado com 21% em 2013, 22% em 2012 e 29% em 2011. Mas as despesas operacionais subiram 31% no ano passado, segundo a S&P Capital IQ. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento saltaram 38%. Como resultado, a margem de lucro operacional caiu de 38% em 2011 para 32% atualmente, segundo o Goldman Sachs.
Ao mesmo tempo, o Google se diversificou para outras áreas, desde o fornecimento de acesso à internet através de balões até a criação de seu próprio serviço de redes sem fio e de carros que se autodirigem. Muitos desses projetos ainda não geram receita, o que amplia os questionamentos dos investidores sobre os gastos.
“Não sabemos se os investimentos que o Google está fazendo são: 1) os investimentos certos e 2) se os gastos são eficazes”, escreveram analistas do Goldman numa nota recente a investidores.
A ação do Google recuou 3% nos últimos 12 meses, enquanto as dos rivais Apple Inc. e Facebook Inc. subiram mais de 30%.
Os executivos da empresa vêm tentando aliviar as preocupações nos últimos meses.
Numa reunião com grandes acionistas da empresa, em dezembro, o diretor-presidente, Larry Page, disse que compreende a necessidade de equilibrar os investimentos de longo prazo com o risco de o baixo desempenho das ações abalar o moral dos funcionários e dificultar o recrutamento e a retenção. A mensagem, segundo uma pessoa que estava presente, foi que o Google será mais disciplinado, depois que aquisições realizadas no ano passado aumentaram a força de trabalho sem um correspondente aumento na receita.
Fonte: The Wall Street Journal