As moedas dos principais países da América Latina estão se desvalorizando diante da queda dos preços das commodities, da desaceleração do crescimento na China e dos receios ligados à alta que o banco central americano está prestes a realizar na sua taxa básica de juros.
Este ano, o peso colombiano perdeu 21% de seu valor ante o dólar, que atingiu uma cotação recorde na Colômbia, enquanto o peso chileno e o peso mexicano se desvalorizaram 12,3% e 10,1%, respectivamente. O real teve uma queda ainda maior até agora em 2015, de 23,4%.
A América Latina tem estado na linha de frente de uma liquidação global nos mercados emergentes em antecipação ao esperado aumento dos juros nos Estados Unidos, por sua vez uma consequência da melhora da economia americana. Juros baixos nos EUA levaram os investidores a migrar para os mercados emergentes, atraídos por rendimentos mais altos e a promessa de lucro com ativos em moedas estrangeiras.
Muitas economias da região também dependem muito da exportação de commodities e, assim, da força econômica da China, que nos últimos anos tem sido uma grande consumidora de matérias-primas.
Essa última onda de desvalorização cambial foi deflagrada, em parte, pela retração da moeda chinesa na semana passada. Um yuan mais fraco afeta a capacidade da China de comprar commodities produzidas na América Latina, como cobre e petróleo.
A China é a maior consumidora do cobre do Chile, enquanto Colômbia e México também vendem uma quantidade significativa de petróleo para o país asiático. Na segunda-feira, os preços dos futuros de cobre e petróleo caíram para seus menores níveis em seis anos, em meio aos temores de queda no crescimento da China.
No Brasil, o cenário internacional só agrava uma situação que já era ruim. Uma desaceleração significativa da economia, somada aos efeitos do vasto escândalo de corrupção na Petrobras, levaram o país à sua pior recessão em mais de 20 anos.
“Essas turbulências têm realmente se concentrado nas moedas latino-americanas”, diz Nick Verdi, estrategista de moedas estrangeiras da Standard Chartered Bank em Nova York.
As moedas dos mercados emergentes, em geral, têm perdido valor com o fortalecimento do dólar neste ano. O fraco desempenho econômico dos países em desenvolvimento, unido à perspectiva de juros americanos mais elevados, exerceu uma pressão baixista sobre as moedas. Devido à ausência de crescimento e às políticas de afrouxamento monetário dos bancos centrais, essas moedas permanecerão sob pressão à medida que o Fed se aproxima de sua primeira alta nos juros, dizem analistas. “O que nós precisamos para estabilizar as moedas é de crescimento [na região] e, depois do crescimento, de um ciclo de aperto [monetário]. Mas provavelmente só conseguiremos isso em algum momento do ano que vem”, diz Siobhan Morden, chefe de estratégia para a América Latina do banco de investimento Jefferies & Co., em Nova York.
Alguns analistas dizem que moedas mais fracas também são o resultado do aumento do interesse dos investidores na América Latina. Alguns investidores de longo prazo compraram ações e títulos de dívida da região durante a recente recessão e, ao mesmo tempo, fizeram apostas contra as moedas como forma de se proteger de um potencial risco de queda. Esses hedges exercem uma pressão baixista sobre o câmbio.
“Você tem muitos investidores estrangeiros, até investidores locais, fazendo hedge contra exposição cambial, o que gera uma segunda rodada de desvalorização nas moedas”, diz Mario Castro, estrategista da corretora Nomura Securities para a América Latina.
Durante os primeiros sete meses do ano, a América Latina foi o maior recipiente de fluxos de investimento entre todas as regiões dos mercados emergentes, superando os asiáticos, segundo o Instituto de Finanças Internacionais. No total, os investidores estrangeiros compraram US$ 62,9 bilhões líquidos em ações e títulos de países da América Latina, ante US$ 57,8 bilhões na Ásia.
Chile e México se destacam como favoritos dos investidores na América Latina.
No Chile, os investidores têm sido confortados pela estabilidade econômica e o baixo endividamento do país, alcançado após anos de disciplina fiscal. Para ajudar a economia, o governo também é capaz de acessar um fundo de estabilização acumulado durante um longo período em que os preços das commodities permaneceram elevados.
A agência de classificação de risco da Standard & Poor’s informa que o Chile economizou cerca de 12% do seu produto interno bruto até junho de 2015. Em julho, o Chile recebeu um fluxo de entrada de investimentos de cerca de US$ 4,5 bilhões, segundo o Scotiabank. Um relatório recente da S&P afirma que a dívida líquida do governo chileno provavelmente permanecerá baixa, mesmo com planos de novas emissões de dívida nos mercados internacionais. A expectativa é que o nível da dívida líquida permaneça abaixo de 7% do PIB pelos próximos três anos.
Os investidores estão prestando atenção às recentes reformas propostas pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, que afetaram a confiança das empresas. As reformas incluem aumento de impostos para financiar uma reforma educacional, além de planos para fortalecer sindicatos e alterar a Constituição.
No México, os investidores estão apostando que o setor exportador vai se beneficiar da recuperação na economia americana graças aos laços comerciais existentes entre os países. Enquanto isso, os spreads entre os títulos do governo mexicano e as notas do Tesouro dos EUA permanecem atraentes. No momento, o rendimento anual dos bônus de dez anos do México está 3,83 pontos percentuais acima do oferecido pelos papéis americanos equivalentes. No início de julho, a diferença era de 3,6 pontos percentuais, segundo o Banco Santander.
O capital continuou fluindo para os títulos em pesos mexicanos em julho, embora “seja importante observar o comportamento dos investidores estrangeiros nas próximas semanas, considerando a possibilidade de uma alta dos juros pelo Fed em setembro”, informou o Banco Santander em um relatório.
Os fluxos de investimentos em títulos e ações mexicanos estão positivos desde maio. Em 28 de julho, havia cerca de US$ 91 bilhões em recursos estrangeiros aplicados em títulos soberanos emitidos em pesos, cerca de 60% do total em circulação, segundo o banco central do México.
“Os investidores não parecem estar fugindo da América Latina em grandes números”, escreveu Eduardo Suarez, um dos diretores de estratégia para América Latina do Scotiabank, acrescentando esperar que as moedas se recuperem quando o Fed elevar os juros pela primeira vez e os hedges cambiais forem desfeitos. Ontem, o dólar era negociado a 691,8 pesos chilenos, 3003,6 pesos colombianos, um recorde, e 16,4 pesos mexicanos. No Brasil, o dólar fechou em R$ 3,47.
Fonte: The Wall Street Journal