São Paulo – A pouco menos de um ano para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, as obras de infraestrutura para realização da competição correm contra o tempo. Com orçamento total na casa dos 38 bilhões de reais, o comitê estima que mais de 60% desse dinheiro será usado para projetos que servirão de legado para a cidade.
O número gera desconfiança tendo por base os constantes prejuízos aos cofres públicos dados pelos estádios da Copa do Mundo, que terminou há um ano.
Mais preocupante que a inutilização de futuras obras, no entanto, é o impacto na população. Entre 2009 e 2016, mais de 100 mil pessoas podem ser removidas de suas casas para dar lugar a estádios, arenas e obras de infraestrutura planejadas para o jogos, segundo estimativas do Instituto Igarapé.
“O país perdeu uma grande chance de aproveitar esse momento de estar sob os holofotes e como centro de investimentos para se desenvolver de forma mais planejada e celebrar de fato o potencial do país”, afirma Robert Muggah, diretor do Igarapé, que estuda o assunto desde 1999. “A ênfase em infraestrutura que pode ser deixada de lado, como estádios, foi colocada a frente de algo que será aproveitado por todos, como transportes.”
As considerações que levam à projeção estão no estudo “O deslocamento invisível: um conceito unificado dos deslocamentos no Brasil”, assinado por Muggah. Além de obras de infraestrutura, desastres naturais e violência são os principais fatores que podem tirar cerca de 1,6 milhão de pessoas de suas casas, de 2009 para cá.
O número coloca o Brasil em 16º lugar no ranking mundial de deslocados. Parece pouco se comparado aos 49 milhões de pessoas envolvidas em desapropriações da China, que lidera a lista. No entanto, é como se todos os moradores de Recife (PE) — a nona maior cidade do país — tivessem que deixar as suas casas .
Das obras em andamento, a usina de Belo Monte é a campeã em deslocados, com números estimados de 40 mil deslocados. Em desastres naturais, o líder recente são as enchentes no Pernambuco em 2010, com 80 mil desabrigados.
“Como o país tem dimensões continentais, os problemas ficam distantes a ponto de unir toda a sociedade, por maiores que sejam as usinas, projeto de plantio de soja ou mesmo ameaças violentas a um grupo de pessoas.”, diz. “Ainda não é um problema que tocou a sociedade urbana do país.”