O risco crescente de uma deflação na China é mais um motivo de preocupação para a economia global e está colocando mais pressão sobre o banco central da China para expandir o crédito na segunda maior economia do mundo.
Deflação na China
Os preços ao consumidor subiram apenas 0,8% em janeiro comparado com o mesmo mês do ano passado, o crescimento mais lento em cinco anos, mostraram dados divulgados ontem pelo governo chinês. A fraca demanda em algumas grandes economias, aliada aos preços baixos do petróleo, tem deprimido os preços em muitos países. Na Europa, os preços ao consumidor caíram 0,1% em dezembro ante o mesmo mês do ano anterior— num claro sinal de deflação — e o Japão ainda batalha para superar mais de dez anos de queda nos preços.
Com sua economia desacelerando e muitas indústrias tendo que lidar com o excesso de capacidade acumulado durante os anos de expansão, a China está agravando os problemas de preços do mundo todo através de suas volumosas exportações de bens manufaturados. “Os preços das mercadorias exportadas pela China estão caindo, o que acaba afetando a inflação global”, diz Wei Yao, economista do Société Générale .
Em meio ao enfraquecimento do crescimento e os preços em queda, alguns chineses e outros investidores estão enviando dinheiro para fora do país em busca de melhores retornos. Tudo isso, dizem economistas, está elevando as expectativas de que o Banco Popular da China faça um ou mais cortes de juros nos próximos meses, num total de até meio ponto percentual. A expectativa é que o BPC também reduza ainda mais as reservas que as instituições financeiras são obrigadas a manter no banco central.
A estratégia, no entanto, pode gerar riscos para o banco central, dizem economistas. Preços em queda muitas vezes desencorajam os consumidores a gastar e empresas a investir, porque todos esperam que os preços caiam ainda mais. A deflação também encarece o custo real do serviço de dívida das empresas, algo que a China tenta evitar, já que o setor empresarial do país se atolou em dívidas depois da crise financeira global de 2008.
Mas uma flexibilização agressiva da política monetária para dar novo impulso à economia poderia aumentar o excesso de capacidade e minar os esforços do governo para tornar a economia mais dependente do consumo e serviços e menos dos investimentos. Um afrouxamento monetário mais amplo poderia ainda gerar mais inadimplência num momento em que Pequim tenta conter o endividamento no país. A Fitch, a agência global de classificação de crédito, estima que a dívida acumulada na economia chinesa subiu para 242% do produto interno bruto no fim de 2014, comparado com 217% um ano antes.
Economistas do Barclays dizem que o BC chinês havia permitido que as taxas de juros ajustadas pela inflação aumentassem nos últimos anos, na tentativa de sufocar parte do excesso de investimento e da capacidade industrial ociosa que estão emperrando a economia. Mas a desaceleração econômica está forçando o banco central a iniciar uma rodada de cortes nos juros.
“As autoridades chinesas precisam encontrar um equilíbrio entre a necessidade de mais medidas de flexibilização e o risco de alimentar bolhas de ativos e atrasar reformas estruturais necessárias”, dizem economistas do banco Barclays em nota a clientes.
Nas últimas semanas, vários países — da Dinamarca à Índia — fizeram cortes em suas taxas de juros. Essas iniciativas tendem a desvalorizar as moedas locais, o que torna as importações mais caras e ajuda os exportadores. Mas a estratégia também traz o risco de uma guerra cambial à medida que os países buscam obter vantagem sobre seus vizinhos. A China pode permitir que o yuan enfraqueça em relação ao dólar, que tem disparado em relação a muitas outras moedas asiáticas. Ao mesmo tempo, um yuan mais fraco também pode prejudicar a confiança dos investidores na moeda, comprometer os esforços do governo chinês para torná-lo uma moeda internacional e aumentar o volume da fuga de capital.
“Obviamente, os formuladores de políticas monetárias da China precisam fazer mais, especialmente agora que o ambiente internacional como um todo está mudando rapidamente”, diz Ma Xiaoping, economista do HSBC. “Vamos ver uma pequena desvalorização do [yuan], o que pode aliviar a pressão sobre os exportadores. Mas não há outra escolha. Eles precisam cortar os juros.”
Ontem, o banco central da China informou, em um relatório de política monetária, que vai manter uma postura de prudência enquanto se esforça para prevenir uma desaceleração, evitar o excesso de estímulo econômico e manter o yuan basicamente estável.
É certo que os preços do petróleo começaram a se recuperar depois de terem atingido mínimos históricos e alguns economistas acreditam que os temores de deflação sejam exagerados. Fatores sazonais e conjunturais da China contribuíram para os baixos resultados de janeiro, entre eles um declínio nos preços das commodities e as temperaturas excepcionalmente altas, que aumentaram a oferta de produtos hortícolas, dizem economistas. O feriado do Ano Novo Lunar chinês, que em 2014 foi em janeiro, mas que este ano ocorre em fevereiro, também poderia ter distorcido os dados de janeiro, acrescentam os economistas.
“É provável que janeiro seja o ponto mais baixo para a inflação este ano”, afirmou a Capital Economics em uma nota de pesquisa.
Mas muitos analistas dizem temer que a demanda doméstica na China possa cair ainda mais, num reflexo de um enfraquecimento maior do mercado imobiliário, do aperto fiscal e do enorme excesso de oferta no setor industrial dominado pelo Estado. O HSBC observa que o núcleo da inflação ao consumidor — que exclui os preços de alimentos e combustíveis — também está no nível mais baixo em vários anos.
Ontem, a agência nacional de estatísticas da China informou que os preços ao produtor, que vêm recuando há quase três anos, caíram 4,3% em janeiro em relação ao mesmo mês do ano passado, a queda mais acentuada desde o fim de 2009.
Fonte: The Wall Street Journal