No Brasil, temos um quadro que assusta muitos empreendedores: um quarto das pequenas e médias empresas fecham suas portas com apenas dois anos de atividade. É comum conhecer ao menos um dono de negócio que está passando por uma fase ruim na sua empresa – e cogitando, inclusive, fechar as portas.
Porém, não precisa ser assim. O poder para virar o jogo está muito mais na mão do gestor do que ele próprio imagina. “Os empreendedores tendem a apontar o dedo para eventos macroeconômicos e políticos. Apesar de estes contribuírem para o arrefecimento das empresas, estudos mostram que a maior parte dos problemas são causados por gestores que não acompanham as mudanças de forma adequada para manter seu negócio lucrativo”, explica João Bonomo, professor de empreendedorismo e inovação do Ibmec/MG.
Com uma boa análise do negócio, o gestor pode pensar em estratégias para salvar até mesmo um empreendimento que está por um fio. “Olhando resultados e identificando quais são as áreas problemáticas, é possível ter uma visão clara da empresa e pensar em soluções. No fim, talvez sejam pontos pequenos para resolver”, afirma Wagner Viana, consultor do Sebrae/SP.
Nem sempre essas áreas problemáticas são as financeiras, como se costuma pensar. O fator emocional pode ser decisivo na história de uma empresa, e o primeiro passo para seguir em frente é ter uma boa ideia de quais são seus objetivos de vida.
“Se você tiver paixão pelo que faz, você conseguirá superar as dificuldades. Mas, se essa paixão não existir, é melhor nem começar seu empreendimento”, explica o empreendedor serial Celso Fortes. “Além da paixão pela ideia de negócio, analise também seu perfil: se você gosta de rotina e de salário fixo, empreender não é o melhor para você.”
Acredita que empreender é o seu caminho, mas sua empresa está por um fio e você não sabe como salvá-la? Veja, a seguir, algumas estratégias para mudar o curso dessa história:
1. Controle a ansiedade sobre retornos rápidos
Antes de entrar em desespero e procurar todos os jeitos possíveis de fazer seu negócio produzir mais, pense: será que você está realmente dando ao seu empreendimento uma chance de ser bem sucedido? Ou sua ansiedade por resultados está impedindo que uma boa ideia possa florescer com mais tempo?
“Algumas pessoas não têm maturidade para montar o negócio e saber que ele levará tempo para dar retorno. Então, elas desistem no meio do caminho, colocando a culpa nos negócios”, explica Fortes. “É como plantar uma semente e, enquanto ela ainda está crescendo, arrancá-la da terra pela falta de produção”.
Por isso, se quiser salvar o seu negócio, analise bem se o retorno poderá vir com mais tempo de operação e tome cuidado com julgamentos precipitados, influenciados pela opinião de pessoas que não estão no dia a dia da empresa. “A ansiedade talvez seja o maior inimigo de quem quer montar um negócio, e por isso que montar empreendimentos não é para todo mundo”, resume o empreendedor serial.
2. Ouça mais quem está do seu lado
Você não deve se guiar pela opinião de quem não conhece a fundo o potencial da sua empresa. Então, em quem pode buscar apoio? Naqueles que estão ao seu lado neste momento difícil: os funcionários.
“Às vezes, você deve ser surdo para o mercado e muito atento para sua equipe. Essas são as pessoas que têm maior comprometimento com sua empresa, já que estão no mesmo barco que você. Quem está fora do barco não necessariamente tem tanto comprometimento para que ele continue navegando”, diz Fortes.
Esses funcionários podem ter ideias fantásticas para serem testadas: se você não ouvi-los, pode perder a oportunidade de encontrar soluções para salvar o negócio – ou pelo menos para seguir lutando. “Você tem que se manter em movimento, seja no sol ou na chuva. Parado, o barco não anda.”
3. Detalhe os resultados da sua empresa
Se os problemas da sua empresa forem financeiros, é preciso identificar onde exatamente está a fonte de prejuízos. Só assim é possível traçar um plano que resolva as contas do seu negócio.
Viana cita algumas das várias complicações financeiras que podem atingir a empresa: o faturamento pode estar abaixo do necessário para atingir o ponto de equilíbrio; ela pode depender muito de empréstimos e financiamentos, corroendo o lucro; ela pode fazer muitos parcelamentos e acabar precisando sempre da antecipação de recebíveis ou da passagem do limite bancário; as contas pessoais e empresariais podem convergir, criando um caos na hora de definir o salário do empreendedor; ela pode estar sem capital de giro ou com pouca geração de caixa.
Para identificar qual é exatamente a dificuldade financeira da sua empresa, é preciso fazer uma demonstração de resultados: indo além das entradas e saídas no caixa, essa análise leva em consideração o momento em que cada despesa foi gerada.
Por exemplo, um imposto que foi cobrado em setembro, mas veio das compras feitas em agosto; ou o pagamento sobre um pedido que o cliente fez há meses. Em uma avaliação comum de caixa, essa especificidade não seria contada; é como olhar o seu saldo no banco sem analisar o extrato.
“A demonstração de resultados mostra o que a empresa gerou de negócios, quais foram os custos que ela incorreu para obter esse faturamento e, então, qual foi o resultado de tudo isso”, explica o consultor do Sebrae.
4. Agora, identifique o problema e dê resposta a ele
Uma vez montada a demonstração, o empreendedor precisa identificar a representatividade de cada conta sobre seu faturamento: por exemplo, o imposto representa quanto? Quanto eu gasto com empréstimos e juros para o banco?
Assim, é possível fazer uma espécie de “lista de checagem”, analisando cada fator financeiro da empresa. Quando você identificar onde está o ponto mais problemático, elabore uma estratégia voltada para o diagnóstico que você acabou de fazer.
Bonomo e Viana indicam algumas saídas possíveis, dependendo do problema identificado: investir em divulgação e marketing; reduzir custos fixos e variáveis; buscar alternativas de crédito e renegociar os já existentes; reorganizar contas pessoais e profissionais, definindo bem o salário dos donos e dos funcionários; e verificar a situação do capital de giro.
Lembre-se: não espere estar no vermelho para fazer a demonstração; diferente do que se costuma propagar, em time que está ganhando se mexe, sim.
5. Vire seus processos de cabeça para baixo
Além de olhar os resultados, o empreendedor que quer salvar seu negócio também deve olhar para o andamento de duas atividades: afinal, como anda o atendimento ao cliente? E a prestação de contas? E a gestão da equipe?
“O dono do negócio precisa fazer uma espécie de ‘caça às bruxas’, mapeando o quanto cada uma dessas áreas contribui para a desaceleração da empresa”, explica Bonomo, do Ibmec/MG. “Assim, é possível elaborar mudanças para aumentar a performance de cada processo, dando agilidade e crescimento ao negócio.”
6. Inove, oferecendo mais e melhor ao seu cliente
Se dinamizar os processos não resolveu sua situação, talvez seja preciso olhar ainda mais profundamente: será que o produto ou serviço que eu vendo é realmente o adequado?
Mudar o núcleo de atividade da sua empresa é um movimento conhecido como “pivotar” no mundo dos negócios (do inglês “pivot”). Porém, não é preciso ir tão longe: muitas vezes, uma mudança moderada pode causar uma grande diferença.
Por exemplo, incluir mais um produto ou serviço; aumentar o valor agregado de algo que você já oferece, fazendo algumas mudanças; ou olhar para um caso de sucesso no seu ramo e inspirar-se em algumas atitudes dele. “Você deve introduzir uma inovação em seu negócio, acompanhando o mercado e sabendo como se diferenciar”, diz Bonomo.
Essa, claro, é uma tática que levará um certo tempo, por envolver disrupção de mercado. Porém, pivotar pode ser a solução para salvar uma empresa que está por um fio.
7. Resgate o passado para construir o futuro
A salvação da sua empresa pode estar perdida ao longo da sua trajetória: nas conexões e nos conhecimentos acumulados ao longo da vida empreendedora.
“Todo mundo olha o presente e tenta ansiosamente prever o futuro, mas às vezes é bom olhar para o passado”, diz Fortes.
O empreendedor serial testou na prática essa estratégia: quando abriu uma agência de marketing, seu primeiro cliente foi um ex-chefe. “Havia trabalhado ao lado dele 10 anos antes. Quando expliquei meu negócio, ele fechou um serviço na mesma hora. Por isso que, ao longo da vida, a gente tem de manter portas abertas.”
As informações são da Revista Exame por Mariana Fonseca